- 𝖳𝗐𝖾𝗇𝗍𝗒-𝖿𝗂𝗏𝖾

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Após a briga, depois que o Sr. Gallagher saiu, subi para o meu quarto e fiquei lá sozinha. Não queria estar por perto quando Noah voltasse, caso ele e Aidan recomeçassem a discussão.

Ao contrário de Louis e eu, aqueles dois quase nunca brigavam. Todo esse tempo que os conhecia, eu só os vi brigando umas três vezes.

Noah admirava Aidan , e Aidan  cuidava de Noah Simples assim.

Comecei a procurar nas gavetas da cômoda e no armário para ver
se encontrava alguma coisa minha ali.

Minha mãe era muito rígida e
nos mandava tirar todos os nossos pertences sempre que íamos
embora, mas nunca se sabe. Pensei que não custava nada me certificar. O Sr. Gallagher provavelmente diria para a empresa de mudança jogar tudo fora.

No fundo da gaveta da cômoda, encontrei um velho caderno de
redação dos meus dias de A pequena espiã. Estava todo colorido
com canetas marca-texto rosa, verde e amarela. Eu tinha acompanhado os meninos de um lado para o outro durante dias, fazendo anotações até deixar Louis furioso, e ele me dedurou para a mamãe.

Comecei a ler:

28 de junho. Peguei Noah dançando na frente do espelho quando ele achava
que não tinha ninguém vendo. Mas eu estava lá!

30 de junho. Aidan tomou todos os picolés azuis de novo, mesmo sabendo que não podia. Mas não dedurei.

1º de julho. Louis me chutou sem nenhum motivo.

E assim por diante. Lá para meados de julho eu fiquei de saco cheio e desisti. Eu estava sempre atrás deles, na época. Tinha oito anos e teria adorado ter sido incluída nesta última aventura, adorado o fato de que poderia estar com os meninos enquanto Louis precisava ficar em casa.

Encontrei mais algumas coisas.

Porcarias como um potinho de
gloss labial de cereja pela metade, dois elásticos de cabelo empoeirados, meus livros da Judy Blume na prateleira e os de V.C.

Andrews escondidos atrás. Pensei em simplesmente deixar tudo aquilo por lá.

A única coisa que eu precisava levar era Junior Mint, meu velho urso-polar de pelúcia, que Aidan ganhara para mim um milhão de anos atrás. Eu não podia deixar que o jogassem fora como se fosse lixo.

Tinha sido especial para mim. Fiquei lá em cima por um tempo, olhando minhas velharias.

Encontrei mais uma coisa que valia a pena guardar: um telescópio
de brinquedo. Ainda me lembro do dia em que meu pai o comprou para mim em uma daquelas lojinhas de antiguidades ao longo do calçadão.

Custou caro, mas lembro que ele disse que eu precisava tê-lo. Houve um tempo em que eu era obcecada por estrelas, cometas e constelações, e ele achou que talvez eu virasse astrônoma quando crescesse. Acabou que foi só uma fase, mas foi divertida enquanto durou. Eu gostava da maneira como meu pai olhava para mim naquela época, como se eu tivesse puxado a ele.

Ele ainda olhava para mim desse jeito, às vezes — quando eu pedia molho Tabasco nos restaurantes, quando sintonizava na rádio NPR sem ele precisar pedir. De Tabasco eu gostava, mas da NPR, nem tanto. Fazia aquilo porque sabia que o deixaria orgulhoso.

It's not a game without you • Aidan gallagherOnde histórias criam vida. Descubra agora