I've trusted lies

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O Natal costumava ser a melhor época do ano para mim, desde que eu me lembro. Até esse ano. Meus pais tinham a tradição de trazer biscoitos na minha cama com o café da manhã, com um copo de chocolate de quente para acompanhar, eu sempre ia dormir com um pijama que combinava com o deles, vermelho e cheio de renas desenhadas.

Entretanto, isso era antes, quando meus pais pareciam ser meus pais. Desde o jantar na casa do Scorpius, eles foram ficando cada vez mais estranhos até se tornarem pessoas que eu não conseguia reconhecer.

No começo, eu saía do quarto, conseguia ir até os outros cômodos da casa, mas, agora, tudo o que eu via eram as quatro paredes que me cercavam, as paredes rosadas e que, atualmente, estavam marcadas de cola dos meus antigos posters de banda que ficavam ali. Deveria fazer dois dias que eu não via o rosto dos meus pais, ou seja, fazia dois dias que eu não comia.

Olhei para fora mais uma vez e notei que a neve se acumulou no portão, ninguém havia mexido nele durante um tempo, o que é estranho já que meu pai sai todo dia para trabalhar. Pulei da cama e encostei minha orelha na porta, um hábito que desenvolvi nos últimos dias, estava quieto até demais, nem mesmo o ruído da televisão poderia ser ouvido.

Tentei pensar se eu havia escutado alguma coisa nos últimos dois dias, mas realmente a casa estava silenciosa. Será que eles saíram e se esqueceram de mim?

Mexi na maçaneta do quarto, forcei o máximo que podia, mas ainda estava trancada. Eu me sentia fraca, não teria possibilidade de eu tentar arrombar minha própria porta. Olhei pela fechadura e não havia muito o que ver, apenas um pequeno corredor que levava para a sala, porém, ainda assim, estava tudo vazio.

Meu pai não estava jogado no sofá, coisa que ele fazia com frequência, daqui eu não conseguiria ver a poltrona de minha mãe, mas não era difícil imaginar que estava vazia também.

Certo, se eu estava sozinha eu poderia sair pela janela como eu fazia quando queria comer de madrugada. Troquei de roupa rapidamente, sempre verificando pela janela se alguém mexia no portão. Puxei a janela para cima, contudo ela não se mexeu, tentei mais duas vezes e nada dela mexer. Isso não fazia sentido, meus pais nunca se importaram com as janelas, era literalmente a única razão de eu conseguir fazer as minhas aventuras noturnas, mesmo quando eles me colocavam de castigo.

Pensei em qual foi a última vez que eu havia tentado abrir a minha janela e realmente não havia tentado nenhuma vez em dias. Tudo bem, estou realmente presa no meu quarto, mas eu posso tentar sair pela janela do banheiro. Era mais alto, no entanto não custava tentar.

Mas é claro que a janela do banheiro é pequena demais para eu passar, ótimo. Observo meu quarto mais uma vez. Se eu estou sozinha deve ter um jeito de eu sair do quarto para matar minha fome. Encostei na porta do quarto e deixei meu corpo cair, como eu vim parar aqui?

Claro que eu sabia a resposta. Eu só queria avisar para Scorpius que eu estava em casa, que eu estava bem. Sabendo que o computador não estava mais por ali, e que não havia chance de meus pais me darem um celular depois do incidente do carro, precisava dar um jeito de entrar em contato com Scorpius.

O pensamento de enviar uma carta passou pela minha mente, porém eu não lembrava do endereço dele, até pensei em mandar para o meu apartamento, Nora estaria preocupada por eu não voltar para casa. Contudo, como eu enviaria a carta sem sair de casa? Eu não tinha coragem de perguntar, mas estava bem claro para mim que eu não podia colocar o pé para fora de casa. Por conta disso, exclui as cartas como opção de comunicação.

A ideia mais estúpida passou pela minha cabeça e, por alguma razão, decidi que ia seguir com o plano de pegar o celular da minha mãe e mandar mensagem para Scorpius. O problema não foi pegar o celular, apenas peguei de cima da mesa da cozinha enquanto minha mãe cozinhava, e sim lembrar o número do meu namorado. Por que me tornei tão independente daquela porcaria de celular?

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