Capítulo 1: Nuvens de chuva.

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O brilho prateado da lâmina da espada me fez fechar os olhos, antes de senti-la pressionar minha garganta, em um ponto que me fez engolir em seco. Mesmo sabendo que o portador dela não iria me matar, a frustração por ter falhado e ter sido desarmada pesou nos meus ombros, como um lembrete de que eu tinha muito para melhorar ainda.

—Você abaixou a guarda e se deixou vulnerável. —Peter afirmou, me fazendo abrir os olhos quando ele afastou a espada da minha garganta, dando um passo para trás, antes de estender minha própria espada, que ele havia roubado de mim no meio da luta. —O que estava pensando?

—Estava analisando sua forma de lutar. —Dei de ombros, vendo Peter erguer as sobrancelhas, com os olhos negros, assim como a pele, me avaliando como um gavião. —Tentando achar um ponto fraco.

—Bom, tente fazer isso quando estiver me vendo lutar com outro guerreiro e não quando você estiver no meio de uma luta comigo. —Peter retrucou, enquanto eu apertava a mandíbula e soltava um suspiro pesado, antes de assentir e finalmente pegar a espada de volta. —Você tem talento, Zaia. Mas precisa aprender muitas coisas ainda.

Peter, que me ensinou a empunhar uma espada desde o momento que tive força de vontade o suficiente para segurar uma, estava me olhando com certa reprovação. Mas não deixei isso me atingir, porque da próxima vez eu saberia como atacá-lo, porque já havia gravado todos os movimentos que ele normalmente usava antes de atacar ou se defender. Ele podia ter 35 anos e ser muito mais experiente que eu, mas eu era jovem, mais ágil e talvez mais esperta.

—Eu sei disso, Peter. Eu vou treinar mais e vou melhorar. —Afirmei, girando a espada na minha mão, que era um pouco pesada demais pra mim, pelo metal usado nela. —Não quero soar presunçosa nem nada, mas guarde o que eu vou te dizer, um dia eu ainda vou ser a maior guerreira que esse mundo já ouviu falar.

—E eu acredito em você. —Peter piscou pra mim, como se eu fosse o motivo de todo seu orgulho. —Faça o mundo todo conhecer seu nome.

E eu faria, mesmo que todas as probabilidades estivessem contra mim. Mesmo que esse pedaço de mundo onde eu vivia não fosse absolutamente nada além de um lugar cinzento e sem vida, onde as árvores eram esqueletos e as nuvens de chuva eram tão negras quanto a noite, cobrindo o dia por completo e impedindo que o sol aparecesse.

Eu nasci em um mundo dividido em dois, por uma coisa que todos chamam de barreira mágica. Do meu lado, fica o mundo de Arcádia. O meu mundo. Sem magia e sem cor, onde as pessoas se matavam trabalhando para conseguir o que comer no final do mês. Do outro lado, Falésia.

Não sei bem como aquele mundo é, porque nunca fui até lá. Nem mesmo cheguei perto da barreira mágica, mesmo que meu vilarejo fizesse divisa com a floresta morta, onde a barreira está localizada. Mas dizem que aquele lugar está repleto de cor e vida. Com criaturas que eu sequer posso imaginar que existem e outras que podem ser consideradas lendas no meu mundo, mas que para os falesianos é tão real quanto o sol. Um mundo mergulhado em magia.

—Minha primeira turma de treinamento já está quase chegando. —Peter afirmou, se afastando da área de treinamento até uma das paredes, onde havia várias espadas penduradas, de diferentes tamanhos e tipos de lâminas. A parede ao lado estava ocupada com arcos, além de caixas repletas de flechas. —E você precisa ir trabalhar. Então é melhorar terminarmos seu treinamento por aqui.

—Tudo bem. —Soltei um suspiro frustrado, indo entregar minha espada a ele, porque ela não era minha de fato.

Eu não tinha moedas o suficiente para comprar uma espada, assim como não tinha para pagar por aulas de treinamento. Então tinha feito um acordo com Peter, de limpar seu Centro de Treinamento, em troca de uma aula por semana. Era muito pouco para alguém que desejava se tornar um guerreiro, mas era tudo que eu tinha nesse momento.

As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora