capítulo 2

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Minjae correu até mim e começou a empurrar a minha cadeira de rodas até a sala. Meus pais estavam na cozinha preparando o jantar. Eram quatro e meia da tarde, o momento perfeito para um passeio.

- mamãe, vamos passear! - ele gritou.

- voltem logo! - ela gritou de volta.

Minjae foi até a porta e a abriu, logo ele voltou a empurrar a cadeia pela rampa da cama.

- aonde vai me levar?

- tem um parque bem legal aqui perto! - falou, animado. - irmão, mamãe disse que você gosta de escrever, pode ler uma história pra mim depois?

- você não sabe ler?

- não muito, eu tenho muita dificuldade em ler...

- tudo bem, depois eu leio, está bem?

- eba, você é o melhor irmão de todos!

Minutos depois chegamos em um parque cheio de árvores e flores, também tinha um longo lago. Não havia muitas pessoas naquele lugar, apenas algumas crianças com seus pais, algumas pessoas caminhando e conversando e alguns poucos casais. Continuamos prosseguindo, em um banco havia uma mulher e uma menininha, passamos por elas e as mesmas olharam estranho para mim.

- olha, mamãe, acho que ele não pode andar... - a menina disse pra mãe. - coitadinho, né?

- não fale isso, filha...pode ser estranho, mas você não precisa ter pena dele! - disse a mulher.

- meu irmão não é estranho, sua filha que é! - gritou Minjae, irritado.

- veja como fala seu moleque, minha filha não tem culpa se seu irmão é aleijado! - rosnou a mulher.

- Minjae, vamos embora...

- mais... - ele tentou protestar.

- vamos logo, por favor! - ele concordou, contragosto.

- espero que sua mãe te dê educação, garoto! - disse por fim a mulher.

Voltamos pra casa em silêncio. Eu estava irritado e triste, conversar com Minjae era a última coisa que eu queria. Sabia que não devia ter saído de casa, principalmente com esse garoto.

Finalmente chegamos em casa e quando vi, Minjae estava chorando, logo meus pais vieram e começaram a consolar ele, enquanto eu os olhava irritado. Não era ciúmes, longe disso. Eles nunca se importaram realmente comigo, meus sentimentos eram mais que recíprocos em relação a eles. Se haviam me trazido para cá, era por simples pena. Muitos podem até achar que é birra de adolescente, mas não, eles me amavam tanto que me mandaram morar com meus avós e raramente ligavam para saber como eu estava. Anos depois adotaram Minjae e esqueceram de vez de mim.

- o que aconteceu, meu amorzinho? - perguntou minha mãe, preocupada.

- o meu irmão está com raiva de mim! - soluçou.

- por que você está com raiva dele? Por que você tem tanta raiva do seu irmão? - questionou meu pai, claramente irritado.

- ele não é meu irmão e nem eu sou filho de vocês! - respondi. - eu nunca devia ter saído com esse moleque ou ter vindo pra cá!

Me dirigi para o meu quarto, com raiva e triste com aquela situação, porém, sem arrependimento nenhum das minhas palavras. Antes de entrar no quarto lembrei que precisava de um banho. Fui até o banheiro e mesmo com dificuldade, eu tomei meu banho e fui deitar-me. Eu queria escrever, mais estava cansado demais.

Minutos se passaram e então minha mãe apareceu na porta do quarto, chamando-me pra jantar. Eu já estava deitado na cama, psicologicamente cansado, com uma extrema vontade de chorar, então recusei, alegando não estar com fome. A verdade é que eu estava sim com muita fome, mas nada passava pela minha garganta nesse momento.

Comecei a chorar, escondido debaixo do edredom. Tempos depois Minjae veio para o quarto e deitou em sua cama. Com certeza, ele havia escutado meus soluços e meu choro. Eu não pude me conter, meu peito doía muito. Não tinha nada a ser feito, além de chorar.

THE BOY IN THE WHEELCHAIR Onde histórias criam vida. Descubra agora