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Minha mãe me lança um olhar entre uma garfada e outra, e depois aponta discretamente com os olhos para o menino sentado ao meu lado. Eu sei que isso significa "fale com ele, é por isso que vocês estão aqui", mas nada vai me fazer ceder. Eu não escolhi estar aqui e, provavelmente, ele também não. Seu rosto deixa transparecer o desconforto, bem como os ombros encolhidos.

Nossos pais conversam durante todo o jantar. Eu, porém, sequer olho para qualquer coisa que não seja meu prato. O barulho de talheres se estende por um bom tempo, mesmo depois de eu terminar de comer. Mantenho a cabeça baixa, como uma criança birrenta. Após todos terminarem- e, minha nossa, como esse menino come- meu pai se levanta e anuncia: -Vamos deixar vocês à vontade! Eles seguem para a varanda, entre sorrisos satisfeitos. Minha mãe faz um gesto com a mão apontando para a sala. É lá que nós devemos ficar. Eu sei, ela me falou mais de uma vez.

Há dois sofás no cômodo, que hoje estão estrategicamente posicionados um de frente para o outro. Eu estou no canto de um deles, esparramada, com o cotovelo sobre o encosto de braço. Ele está no centro do sofá oposto, olhando para os próprios cadarços. Não vou falar com ele. 

- Bem desagradável, né?- diz ele. Franzo as sobrancelhas. - Isso de os nossos pais quererem... você sabe... 

Olho diretamente para ele pela primeira vez. Apenas dou de ombros. 

Estamos sem nossos celulares. "Eletrônicos não permitem interações sociais plenas", disse meu pai para os pais dessa criatura de um metro e setenta e cara de bobo. Eu deveria me compadecer do garoto: está na mesma situação que eu, provavelmente mais apavorado. Ele está tentando ser legal, amenizar a tensão. Mas eu prometi a mim mesma que fecharia a cara e não deixaria isso acontecer. Meus pais têm que entender que eu não quero me casar com esse menino.




Sob os jasminsWhere stories live. Discover now