Capítulo 5

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Francine morria de medo de hospital. Lembrava-se que a última vez que tinha ido ao hospital foi quando tinha dez anos e quebrou a perna correndo do lado de fora de casa debaixo da chuva. Lembrava que sua mãe tinha levado ela para a emergência, não tinha quase ninguém, e o médico tinha simplesmente colocado a perna dela de volta ao lugar. Francine ficou tão traumatizada que nunca mais quis voltar lá. Nunca precisou, bom, pelo menos até agora.

Depois que começou a morar com Vanessa e se tornaram grandes amigas, Vanessa fez questão de cuidar da saúde de Francine e levá-la as consultas que Vanessa mesmo marcava. Vanessa trabalhava no hospital como estagiária enquanto fazia faculdade de enfermagem, então, ela fazia questão de ajudar. Principalmente quando Francine reclamava de dor de cabeça todos os dias.

Francine sempre gostou de desenhar, e depois que comprou uma mesa digitalizadora para começar a fazer seus desenhos para vender, começou a perceber que tinha alguma coisa errada. Não era normal sentir dor de cabeça todo dia, do momento em que você acorda até o momento em que você deita de novo. Todo mundo que a conhecia dizia que era por causa do computador, mas Francine não podia se dar ao luxo de simplesmente parar.

Sua mãe bancava seu aluguel, tinha pedido para ela uma ajuda e, por um tempo, recebeu essa ajuda. Até Vera cortar suas asinhas, e Francine cair na vida real. Depois de domingo, Francine intensificou a divulgação de seu trabalho para começar a ganhar mais algum dinheiro para provar à sua mãe que conseguia.

Não, não era para provar para sua mãe, mas para si mesma. Ela queria acreditar que ela era capaz de fazer tudo sozinha.

E ainda tinha os trabalhos de faculdade que precisava fazer. Segunda feira de tarde e de noite, passou o dia inteiro na frente da tela do computador dando um avanço no seu trabalho da faculdade. Das dez páginas que tinha que desenhar, Francine tinha feito duas. Ela passou mais tempo fazendo outros tipos de desenhos para divulgar seu trabalho no Facebook e Instagram para conseguir dinheiro do que fazendo o trabalho da faculdade que deveria estar fazendo. Segunda feira de noite, quando já não aguentava mais, Francine desligou os computadores e antes mesmo de conseguir deitar para descansar, precisou vomitar.

— Estava no computador ainda? — Vanessa perguntou quando viu Francine sair do banheiro, pálida.

— Não. — Ela disse tentando disfarçar, mas encostou-se na porta do banheiro e sentiu-se tonta de novo. Entrou de novo no banheiro, quase errando o vaso.

Vanessa apenas a observou da sala de estar lavar o rosto e fazer um bochecho com a água da torneira. Francine estava ofegante.

— Sabe, eu quero te ajudar, mas se você fica muito tempo na frente do computador, sabendo que às vezes ele te piora...

— Mas eu não posso ficar sem trabalhar, né, Vanessa. — Francine a interrompeu e Vanessa ergueu as mãos, tentando se defender.

— Calma! Meu Deus, não tá mais aqui quem falou. — Vanessa disse e Francine entrou no quarto para descansar, mas logo saiu do quarto e voltou para a sala. Ela sentou-se ao lado de Vanessa e deitou nos braços da amiga.

— Eu não aguento mais de dor de cabeça... — Francine choramingou e Vanessa fez carinho em seu cabelo. Ela já tinha tomado os remédios para enxaqueca mais fortes que elas tinham em casa, mas mesmo assim, não passou a dor. — Eu sinto como se minha cabeça fosse explodir.

Vanessa desligou a televisão, e ficou com a amiga. Francine deitou a cabeça no colo de Vanessa, próxima da barriga enorme dela.

— Eu te entendo. — Vanessa disse, carinhosamente. — A parte de ter alguma coisa dentro de você que parece que vai explodir, pelo menos.

FrancineOnde histórias criam vida. Descubra agora