Com o passar das semanas, as tardes na companhia de Sebastian se tornaram rotineiras, ao entardecer ele sempre aparecia com uma pequena cesta na mão e os dois terminavam sentados na escadaria da escola tomando chá e comendo pães com geleia e frutas. Ela não queria que aquilo se tornasse um hábito, a qualquer momento ele poderia ir embora e ela precisaria se refazer novamente. Desse modo ela protegia seu coração para não se entregar mais uma vez. Siena nem percebia, mas era só ouvir a voz de Sebastian que todo seu corpo entrava em alerta e sua guarda inconscientemente era montada. Sebastian por sua vez tentava se aproximar da jovem, mas ela não facilitava as coisas, por vezes ele sentia-se angustiado, sabia que ela se sentia bem ao seu lado, porém se tornara uma rocha impenetrável, raramente quando ele a tocava — sem querer e outras vezes por querer — ela aparentava que tinha sido contaminada e sempre ficava ainda mais aborrecida com ele. Aquilo doía em seu coração, lhe deixava com uma sensação de fracasso e o um peso se instalava em seu peito.
Sebastian caminha pela Royal Mile, a calçada é feita de pedras rústicas que lhe direciona até a escola, ele sobe a escadaria já ouvindo risadas de crianças misturadas a doce voz — mas também firme — de Siena, ele se detém na imensa janela onde pode apreciar a vista da sala de aula. Siena está sentada em sua cadeira e as crianças em seus respectivos lugares, algumas estão com a cabeça deitada na pequena mesinha e outras escutam a professora atentamente. Siena está segurando um livro de cor púrpura enquanto lê.
Sebastian fica fascinado pela calma e serenidade em seu rosto, ele observa quando Siena joga a cabeça para trás animada em meio as risadas das crianças, suas bochechas estão coradas e os olhos brilhando, é tão bonita que lhe dói o peito. Ele permanece assistindo a aula de leitura por um bom tempo, até ela lhe nota, o desconforto é imediato e ele se detesta por dentro, pois seu olhar é o mesmo de quando ele tenta tocá-la, de repulsa e algo a mais.
Não suportando aquele olhar Sebastian se afasta da janela e desce a escadaria correndo para longe dali, precisando se afastar pois a angustia está lhe dominando, poxa, ele poderia não demonstrar, mas está sofrendo. Ele precisa do perdão dela e parecia que não estava chegando a lugar algum.
Siena o enxerga ao longe, ela não entendera coisa alguma, mas pelo visto, hoje não teria o chá da tarde.
Sebastian procura refúgio na igreja do pastor Simon, ele sabia que precisava encontrar descanso e o único que poderia lhe conceder paz além do entendimento é o Senhor. A pequena igreja do vilarejo é aconchegante e receptiva, qualquer um que olhasse de fora pensaria que era minúscula, mas ao adentrar é como se ela estendesse para o horizonte, a igreja possui um ar ancestral assim como todo o vilarejo de Violet Britt, sua construção é de rochas, bancos de madeiras e imensas janelas nas laterais onde é possível contemplar os campos arborizados.Ao entrar Sebastian é imediatamente tomado por uma calma incomum, sendo impossível segurar as lágrimas — ele nunca foi dado a choros, nem quando era criança, sempre se considerou um menininho forte — mas na presença daquele que o conhece inteiramente ele se desmancha, não se importando de se parecer fraco, porque é naquele momento que o seu Deus o faz forte.
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Além do arco-íris
RomanceSiena encontrara seu verdadeiro amor ainda na juventude, mas por consequência das escolhas eles não viveram os felizes para sempre. Ela casou-se e reconstruiu sua vida. Após dez anos, Siena encontra-se viúva, sem sair do lugar onde nascera e dedican...