CAPÍTULO UM - Algo que só você pode fazer

69 4 6
                                    


(Leonardo POV)

- Eu acho que você deveria parar de beber, pai – comentei, observando meu pai, Alessandro D'Ávila, bebericar mais um pouco do seu whisky.

- Relaxa filho, eu tô ótimo – Ele me garantiu, ajeitando a postura. O conhecido sorriso largo estava lá, enfeitando o rosto dele. Meu pai era um cara bem boa pinta. Ele conservava um físico atlético invejável, mesmo já sendo coroa, o que o tornava um solteiro cobiçado. Isso porque, no auge dos seus quarenta e sete anos, ainda não tinha sossegado com ninguém.

Cruzei os braços, sabendo que era inútil insistir no assunto, e me ocupei em olhar ao redor. Estávamos num jantar com o pessoal do trabalho do meu pai, num restaurante muito chique. Para ter uma ideia, o lugar ficava numa torre à beira da praia. Todas as paredes tinham vista panorâmica e se eu me inclinasse um pouco, conseguiria ver as ondas quebrando na areia branca.

- Não viu ninguém interessante, Léo? – A voz do meu pai me trouxe de volta à realidade. Ele me encarava, curioso. Depois de ter conversado com muita gente no começo e ter me deixado sozinho boa parte do tempo, ele estava tentando me agradar. Não que eu ligasse, sendo sincero. Eu entendia que era parte do trabalho dele.

- Sempre há pessoas interessantes nos lugares. Eu só não estou com muita disposição essa noite para conhecê-las – Respondi, dando ombros.

- Você puxou definitivamente a sua mãe – Ele balançou a cabeça para os lados, risonho – Já faz uns quatro meses desde sua última namorada. Reaja!

- Lívia e eu terminamos na boa. Eu só... - Olhei ao redor. Claro que todos tinham levado seus filhos, filhas e afins. Eu tinha notado alguns olhares femininos em minha direção, mas eu realmente não era muito do time casual –... não estou muito a fim.

- Tanto desperdício... - Quando ele queria me zoar, cruzava os braços e suspirava, olhando-me – Estou decepcionado.

- Eu já cumpri minha quota de Don Juan – Ergui as mãos no ar, em defesa. Era verdade. No ano anterior eu tinha exercitado meu lado sedutor e meu Deus, isso soa tão ridículo. Tinha sido o suficiente pra mim.

- Você só tem vinte e três anos, Leo! Seu jovem ! – E então ele riu. Mais do que o comum, embora parecesse achar graça de verdade do que eu havia dito. Acho que o excesso de álcool estava dando o ar de graça.

- A maturidade chega mais cedo para alguns –limitei-me a comentar, vendo-o rir novamente. Ah, a bebida.

Meia hora depois, estávamos indo embora. Meu pai tinha decidido que seria interessante me apresentar para toda e qualquer garota bonita que topasse nosso caminho. Eu tinha me irritado bastante diante dessa postura dele. Graças a isso, noventa por cento da festa sabia da minha existência, da minha altura – um e oitenta e sete de altura –, e quem não fosse cego já teria observado a essa altura do campeonato que meus olhos eram castanho-esverdeados. Mas, só para assegurar, meu pai também tinha feito questão de esmiuçar até mesmo isso. Sério, por que ele bebia daquele jeito?

- Eu só quis ajudar, Leo – Ele disse, pela enésima vez, enquanto eu tentava afivelar o cinto nele – A filha da diretora te achou o máximo, tenho certeza. O jeito como ela te olhou!

- Eu não pedi ajuda, pai – Suspirei, conseguindo prender o cinto nele – Onde estão as chaves do carro?

- Como assim? – Ele me olhou, ficando sério, e então olhou para si– Quando foi que você me colocou no banco de carona? Eu quero dirigir meu carro!

Massageei a ponte do nariz.

- Pai, você queria pedir ao DJ para tocar María, do Ricky Martin, para dançar na pista de dança. Você definitivamente não está lúcido o suficiente para dirigir.

O Outro Lado da PortaOnde histórias criam vida. Descubra agora