8- Os olhos de Ônix.

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Eu li em algum lugar que o seu primeiro amor é puro e bom como o de uma criança.
O segundo destrói seu coração, faz com que você nunca mais queira amar alguém novamente e com que o primeiro pareça besteira.
E o terceiro é aquele em que você não consegue lidar com suas emoções, de tão avassaladoras que elas são.

Se eu estava certa, Mina tinha sido meu primeiro amor, tão leve e tão sereno puro como o de uma criança. E eu sabia disso porque sempre levaria ela em meu coração aonde quer que eu fosse, porque eu passei a amá-la mais do que um amor, mas como minha amiga.

Dahyun me destruiu, acabou com minha segurança e sempre que eu me interessei por alguém depois dela, não conseguia de forma alguma deixar que essa pessoa entrasse.

Eu sempre procurei desesperadamente conforto em qualquer pessoa ao longo de minha vida.
Quando era criança, tive o máximo de amigos que eu poderia ter e frequentei todos os lugares que eu poderia, pois achava que a felicidade estava vindo de brinde com isto, mas eu não era feliz.
Na pré adolescência, tentei fazer com que meus pais estivessem o mais orgulhosos possíveis comigo, sendo exatamente o tipo de filha que eles gostariam de ter, e isso era bacana, mas não me trouxe a felicidade que eu achei que traria.
Chegou a adolescência, e eu resolvi sair pra festas com os meus amigos, mas não recebi nada além de felicidades momentâneas e histórias para serem lembradas.

E teve Nayeon, Mina e Dahyun... Até o momento eu achava que tinha encontrado a sorte que sempre sonhei, elas foram as únicas mulheres que eu realmente achei que era pra valer. Mesmo o que tive com Nayeon sendo apenas sexual e que não fui apaixonada por ela, com Minari sendo a princesa do conto de fadas como namorada, eu achava que era feliz, teve momentos com Dahyun, quando ela não estava sendo desagradável, que eu também achava.

E quando ela apareceu, nada se comparou com ela, era até burlesco pensar assim.

No primeiro contato que tivemos, foi como se o mundo tivesse parado em minha volta, e nunca tinha acontecido isso antes. Acho que o mesmo aconteceu pra Tzuyu. Pareceu até conto de fadas a forma como aconteceu.

Estavamos na biblioteca da faculdade, e meus olhos foram de encontro aos seus, ela estava me olhando dentre os livros. Seus olhos eram pretos bem fortes, como uma pedra Ônix, o cristal da proteção energética, e me atraiu como se sugasse toda minha energia por alguns segundos.

Ela sorriu em algum momento no nosso transe e eu desviei meu olhar, ficando corada. Pelo silêncio do local, consegui ouvir seu sussurro "Eu juro que olhei pra você um segundo antes de você me encarar."

E eu a olhei novamente, sorrindo em resposta. Acho que ela achou que isso era um convite para se aproximar. Em alguns segundos ela fez a volta e parou ao meu lado.

— Oi, me chamo Tzuyu. — Ela me estendeu a mão e eu estranhei, não tinhamos o costume de fazer isso por aqui.

— Sou a Sana. — Peguei em sua mão, novamente entramos em um colapso e meu sistema desconfigurou em instantes.

— Ele é lindo... — Tzuyu murmurou, e eu franzi o cenho. — Seu nariz, eu quis dizer... O nariz! Você também é claro! Você é muito linda.

Eu levei minha mão até meu nariz rapidamente como instinto, eu não o gostava, as vezes o achava muito grande pro meu rosto, em algumas fotos eu não conseguia me achar bonita por conta dele.

— Obrigada. — Eu sorri com ela se atrapalhando nas falas. — Você também é linda, e o seu nariz também!

Ela sorriu amplamente, e eu descobri outra coisa que ela tinha de linda, sua covinha unilateral.

Tzuyu estudava a quatro prédios do meu, nunca tinhamos nos visto antes em dois anos. Ela não parecia ser estranha, mas tenho a certeza que se a tivesse visto pela faculdade, não me esqueceria de seu rosto.

Mas, você sabe... Quando se importa com alguém, você começa a notá-la com mais frequência, mesmo quando não quer fazer isso.

Tzuyu sempre estava por lá, de uma forma estranha, nos vimos na biblioteca várias outras vezes, até que ela disse. "Qual a chance de você sair comigo?"

Eu parei por alguns segundos perplexa em saber que ela gostava de mulheres, não que existisse um padrão de mulheres sáficas a ser seguido, mas geralmente eu sabia. "O que você tem em mente?" Eu perguntei e ela sorriu.

Nós andamos lado a lado pelo campus da faculdade, saíndo da biblioteca até o carro de Tzuyu.

A forma como ela levou sua mão até boca para remover sua luva com a ponta dos dentes causou algo em mim que não pude compreender. Obviamente eu tive muitas paixões momentâneas por mulheres, bastava eu ver alguma que agradasse meus olhos. Mas com ela foi diferente.

Parecia como se minha vida tivesse começado no momento em que a vi.

Com suas mãos ao volante, olhei seu longos finos dedos o agarrarem, mas desviei antes que Tzuyu percebesse. Tudo nela me deixava desconcertada, desde a forma com  que nossos olhos se conectaram, como ela tirou as luvas com os dentes e agarrou o volante com firmeza.

Ela dirigiu até uma sorveteria que ficava na frente de uma praça. Nós descemos conversando sobre a faculdade e como estava difícil. Tzuyu pagou meu milk-shake mesmo comigo contestando, ela disse que da próxima vez eu pagaria. Eu aceitei.

Conduzimos nossos corpos lado a lado, até a praça da frente. Eu gostei da sensação de sentir seu braço colado ao meu, e de alguma forma imaginei que estavamos assim pois andar de mãos dadas ainda não era algo viável, e precisávamos ter um pouco da outra.

Sentamos no banco, ainda com nossos braços colados uma ao lado da outra. Eu fiquei pensando se Tzuyu estava pensando o mesmo que eu, sobre precisar de um contato uma com a outra.

Mesmo que Tzuyu tivesse falado que eu era bonita, que ela tivesse me olhado na biblioteca e se aproximado de mim, eu ainda precisava de algo mais concreto. Pelo menos algumas dúvidas foram sanadas com o que ela me disse.

— Eu menti. — Tzuyu disse, como se estivesse desabafando. Eu a olhei. — Eu estava olhando entre os livros antes de você me olhar, eu não consegui parar de olhar pra você, pra ser sincera.

Senti meu coração bater com força, e aquele movimento estranho no meu estômago, tentei não me sentir envergonhada, mas foi em vão.  Eu desviei meu olhar tentando me recuperar.

— Você é realmente linda. — Tzuyu disse novamente. — Não consegui parar de pensar em você, por toda essa semana.

Eu juntei minhas mãos, como se isso fosse me dar um apoio para encarar seu rosto. Eu não sabia o que falar, mas gostei tanto de saber que ela pensou em mim que não consegui me manter. Eu me inclinei pra frente e a beijei.

Eu não sabia quais consequências isso me causaria, depois de Dahyun, não consegui me envolver romanticamente com mais nenhuma mulher, nem ao menos sentir o que estava sentindo com Tzuyu. Eu tinha medo de me abrir novamente, derrubar minha barreira e ser despedaçada novamente.

Mas no momento, só o que fazia importância pra mim, era como os lábios de Tzuyu eram macios. Minha mão que estava solta foi até uma bochecha a trazendo com mais firmeza pra mim, e eu pude sentir o quão macia sua pele era. Ela estava retribuindo e pude sentir meu peito bater mais forte ainda, por saber que ela também queria, e por ela não ter me afastado.

Seu cheiro de perto era mais forte do que eu imaginava, ela cheirava a alguma fruta que eu ainda não conseguia decifrar, sua boca estava com gosto de sorvete e sua língua gelada. Suas mãos encontraram minha cintura em algum momento e ela me puxou para ficar mais próxima dela. Eu queria me perder dentro dela e me derramar sobre seu corpo, sentir seu cheiro por completo sem a objeção de suas roupas.

Eu queria tanto Tzuyu, mais do que isso, mais do que tê-la nua, eu queria sua alma, eu queria seu coração e sua carícia. Eu soube que ela era o amor de minha vida quando ela me deu todas essas coisas. Ela me deu tudo que sempre necessitei em alguém e nunca deixou me sentir vazia por sentir falta de algo.

Ela era como todas as partes boas em todas as mulheres já tive.

todas as mulheres que já tiveOnde histórias criam vida. Descubra agora