ɪɴᴄᴇɴᴅɪᴏ

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( a foto q o Mazzafera usa do Crusher q ele odeiaKKKKKK )

— Preciso usar o banheiro — murmuro, me afastando da mesa. — é só tirar uma selfie com ele. Ele adora Selfies.
 
Sigo depressa para o banheiro para sentir algum alívio da presença do meu pai. Não sei o por que pedi para ele me encontrar hoje. Talvez porque eu esteja me mudando e nem sei quanto tempo ficarei sem vê-lo, mas está nem de longe é uma boa desculpa para me colocar nesta situação.

Abro a porta da primeira cabine. Tranco e puxo o papel de proteção para assento, colocando-o na tampa da privada

Certa vez, li um estudo sobre bactéria em banheiros públicos. A primeira cabine de cada banheiro estudado tinha menor quantidade de bactérias. As pessoas supõe que a primeira cabine é a mais usada, então pulam. Eu não é a única que eu vou usar, nem sempre fui germofóbica, mas dois meses que passei no hospital quanto tinha 16 anos me deixaram um pouco obsessiva quando se trata de higiene.

Quanto termino de usar o banheiro, levo pelo menos um minuto inteiro lavando as mãos. Fico olhando fixamente para elas o tempo todo, me recusando a me voltar para o espelho. Evitar meu reflexo fica mais difícil a cada dia que passa, mas ainda tenho vislumbre de mim quando vou pegar o papel toalha. Não importa quantas vezes eu tenha me olhado num espelho, ainda não me acostumei com o que vejo.

Levanto a mão esquerda e toco as cicatrizes do lado esquerdo do meu rosto, seguindo pelo meu maxilar e descendo até o pescoço. As cicatrizes desaparecem abaixo da gola da minha blusa, porém por baixo da minha roupa descem por todo lado esquerdo do meu corpo, parando pouco abaixo da cintura. Passo os dedos pelas áreas da pele que agora parecem couro enrugado. Cicatrizes que constantemente me lembram de que o incêndio foi real, não só um pesadelo do qual posso me obrigar a acordar com um beliscão no braço.

Fiquei meses enfaixada depois do encêncio, incapaz de tocar a maior parte do meu corpo. Agora que as queimaduras estão curadas e fiquei com marcas, fico tocando-as obssesivamente. As cicatrizes parecem veludo esticado e seria normal ficar revoltada com a sensação, como fico com a aparência. Em vez disso, gosto mesmo de senti-las. Estou sempre passando distraidamente os dedos por meu braço ou pescoço, lendo o braile da minha pele, até me dar conta que estou fazendo e parar. Não devia gostar de nenhum aspecto da única coisa que atrapa-lhou minha vida, mesmo que seja simplesmente a sensação nas pontas dos meus dedos.

Já a aparência é outra coisa. Cada um de meus defeitos tem recebido as luzes de refletores cor-de-rosa, postos á mostra para o mundo inteiro ver. Por mais quue eu tente esconder com roupa, cabelo, estão ali, sempre estarão ali. Um lembrete permanente da noite que destruiu todas as melhores partes de mim.

Não sou de me apegar a datas e aniversaríos, mas, essa manhã quando acordei a primeira coisa que passou na minha cabeça foi a data de hoje. Provavelmente porque foi meu ultimo pensamento na noite passada. Faz dois anos desde que a casa do meu pai foi engolida pelas chamas que quase tiraram a minha vida. Talvez por isso eu quisesse ver meu pai hoje, talvez eu esperasse que ele fosse se lembrar, que disesse algo para me reconfortar. Sei que ele já se desculpou o bastante, mas até que ponto posso perdoá-lo por se esquecer de mim?

Eu só ficava na casa dele uma vez por semana, em média, mas naquela manhã tinha-lhe mandado uma mensagem de texto, contando que passaria a noite lá

Então era de se pensar que meu pai, quando atease fogo na casa por acidente fosse me resgatar do meu sono.

Só que isso não aconteceu...ele esqueceu que eu estava lá. Ninguém sabia que havia alguém na casa, até que me ouviram gritar no segundo andar da casa. Sei que ele carrega muita culpa por isso. Durante, semanas ele se desculpou toda vez que me via, mas as desculpas começaram a rarear junto das visitas e telefonemas. O ressentimento que guardo continua muito presente, embora eu preferisse o contrario. O incêndio foi um acidente, eu sobrevivi, estas são as duas coisas em que tento focar, mas é difícil, quando penso nisso sempre olho para mim mesma

Penso nisso sempre que alguém olha para mim.A porta do banheiro se abre e uma mulher entra, me olha rapidamente vira a cara com a mesma rapidez e vai para a última cabine.
Devia ter escolhido a primeira moça.

Eu me olho mais uma vez no espelho. Eu costumava usar o cabelo na altura dos ombros com franja enviesada, mas ele já cresceu muito nos últimos anos. E sem motivo algum, roço os dedos pelas mechas compridas e claras do cabelo que treinei para cobrir maior parte do lado esquerdo do meu rosto. Puxo a manga do braço esquerdo até o pulso, depois levanto a gola para cobrir a maior parte do pescoço. Assim as cicatrizes ficam quase não visíveis e posso suportar me olhar no espelho. Eu costumava me achar bonita, mas agora o cabelo e a roupa podem encobrir muita coisa.

Ouço a descarga, então me viro depressa e sigo para a porta antes que a mulher saia da cabine. Faço o que posso para evitar as pessoas na maior parte do tempo, e não porque tenho medo de que elas olhem minhas cicatrizes. Eu as evito porque elas não olham. No segundo em que veem, logo viram o rosto porque tem medo de demonstrar grosseria ou crítica. Pelo menos uma vez, seria legal se alguém me olhasse nos olhos e sustentasse meu olhar. Detesto admiti que sinto falta a atenção que eu costumava receber, mas é verdade.

Saio do banheiro e volto a mesa. Decepcionada porque ainda vejo a nuca do meu pai.
Eu tinha esperança que surgisse alguma emergência e ele fosse solicitado a ir embora enquanto estava no banheiro.

É triste que eu prefira ser recebida por uma mesa vazia em vez do meu próprio pai. Esse pensamento quase me leva a fazer uma careta, mas de repente um cara sentado á mesa que preciso contornar, chama a minha atenção.

Não costumo notar as pessoas, considerando que elas fazem o que podem para evitar contato visual comigo. Mas os olhos deste cara são intensos, curiosos e estão fixos nos meus....

The Date~Volsher Adaptation~Onde histórias criam vida. Descubra agora