XXXVI. Médica

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(...)

Fui para casa de carona com o Leonardo. Ele deu o veredito final. Chegamos e subi direto pro meu quarto, já pegando as roupas jogadas na cama e enfiando tudo na mala. Queria sair dali o mais rápido possível. Em menos de 5 minutos, juntei a minha mala e mais dois sacos de lixo com todos os meus pertences que ainda estavam lá, e desci as escadas. O Leonardo veio atrás com os sacos e me ajudou a colocar tudo no carro. Eu não conseguia olhar nos olhos dele. Ele também não se estendeu muito nas palavras, e por fim só disse:

- Você ainda vai me agradecer por isso, Luísa.

Nem me dei ao trabalho de responder, entrei no carro e dei partida. Que viagem infinita. Minha cabeça ia explodir a qualquer momento. Eu não podia fazer nada, não ia ter coragem de contar isso pra minha mãe, ela nunca entenderia. O Felipe fez o que pode, mas o pai dele ameaçou até prejudicá-lo profissionalmente, e isso já era demais pra nós dois. Ficou decidido que nós dois teríamos que mudar de número, eu iria mudar de apartamento e assim, nosso contato ia ser impossível. Ele ia monitorar até mesmo as redes sociais e manter um segurança comigo nesse meio tempo, fazendo ronda pela rua do apartamento e pela faculdade. Parecia cena de filme... de terror. Mas eu não podia bater de frente, eu não sabia do que ele era capaz, e não queria prejudicar o futuro do Felipe, que estava só começando. Eu ia seguir em frente.

(...)

TRÊS ANOS DEPOIS

Eu estava ali, de pé, estendendo a mão direita enquanto citava os juramentos médicos. Na minha colação de grau. Fui escolhida para ser oradora da turma, e ganhei uma homenagem por honra ao mérito. Enquanto eu fazia meu discurso, olhava pra pequena multidão no canto direito da platéia, formada pelos meus amigos, família, namorado e colegas. Todos sorridentes, comemorando, felizes pela minha conquista. De repente, vejo um rosto que, apesar de conhecido, não via há tempos. E estava diferente. Os traços mais marcados. Uma barba cheia e feita, aparada. O corpo estava mais musculoso, e ele estava vestido com uma camisa branca. Por um segundo, senti minha respiração parar. Eu esqueci como falar, respirar, me mexer. Nossos olhares se encontraram e ele abriu um sorriso. Eu caí de volta em mim e continuei meu discurso, sendo aplaudida de pé no fim. Na hora de descer, senti que a qualquer momento ia tropeçar e cair do palco, mas mantive a aparência. E fui até lá...

- Luísa, minha médica, que orgulho!!! - Mateus foi o primeiro a pular na minha frente, impedindo que meus pais ou qualquer outra pessoa me parabenizasse. Ele me apertou tão forte que tirou meus pés do chão.

- Ahh, obrigada, meu médico maravilhoso! - o abracei forte e comemoramos, a formatura dele tinha sido apenas alguns dias antes da minha.

Em seguida meus pais vieram me abraçar, e me deram beijos na bochecha, um de cada lado, enquanto limpavam as lágrimas (que não eram poucas).

- Nossa princesa, nem acredito, como você cresceu Luluzinha. Te amo tanto, minha pequena. Nossa médica. - meu pai dizia, enquanto apertava minha bochecha.

- Eu sempre acreditei em você, meu amor!!! Que orgulho, que benção. Amo você! - minha mãe disse, aos prantos.

Cumprimentei todos que estavam lá, minha madrasta, minhas amigas da escola, do cursinho, alguns primos e tios, e meu namorado, Vitor. Estávamos juntos há dois anos, ele já era médico formado há uns 4 anos, tinha 28 anos, e estava completando 24. Ele era um cara muito tranquilo, trabalhador, estudioso. Nos conhecemos quando fui fazer no internato, e ele foi meu professor.

- Minha doutora, finalmente posso te chamar assim. Parabéns pela conquista. Que venham muitas! Te amo, amor. - ele disse, me pegando pela cintura e me dando um selinho demorado.

- Obrigada, meu bem. - retribuí o carinho. O próximo a me estender a mão foi o Leonardo. Durante esses anos, ele tentou se reaproximar, mas eu não dei abertura. No primeiro ano em que ele fez com que eu e o Felipe nos afastássemos, eu cortei totalmente o contato. Nunca mais fui visita-los, e quando eles vinham até o Rio, eu inventava alguma desculpa pra eles ficarem em outro lugar. Desde que eu conheci o Vitor, as coisas mudaram um pouco, e fomos umas duas ou três vezes até São Paulo, mas também ficamos em um hotel, eu preferi não ficar em casa.

Pra contextualizar melhor, depois que o Leonardo descobriu tudo e nos obrigou a cortar relações, eu voltei imediatamente pro Rio de Janeiro e cumpri com a minha parte. O Felipe fez o mesmo, mas um dia eu vi ele na porta da minha faculdade, de longe. Ignorei e segui a vida. Ele nunca mais me procurou também. Eu acho que nesse meio tempo, minha mãe desconfiou que tivesse alguma coisa errada, mas nunca me confrontou pra perguntar. Soube por ela, uns 8 meses depois, que estava namorando uma garota. Desde então, fiz de tudo pra não encontrar ele de novo, inclusive bloqueei ele de todas as minhas redes sociais. Era página virada.

- Luísa, queria te parabenizar por esse passo tão grande. Sempre vi potencial em você. Fico feliz em ter participado de parte disso. Espero que você seja muito feliz na sua profissão. - foram as palavras dele, seguidas de um abraço meio desengonçado e um risinho nervoso. Eu agradeci, abracei de volta, mas logo me distanciei.

Não pude deixar de olhar em volta pra procurar pelo Felipe. Será que tinha sido um surto da minha cabeça? Não era possível alguém ser tão parecido. Os olhos. O sorriso. Meu Deus. Me afastei de todos e fui em direção à mesa de bebidas, que estava num canto do salão. Pedi uma água para o garçom, e quando ele me entregou, escutei uma voz grossa, vindo por trás de mim.

- Luísa...

Me virei pra olhar, ainda incrédula, segurando o copo com tanta força que acabei amassando um dos lados.

- Felipe! - eu arregalei os olhos, surpresa.

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