DOIS.

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As batidas em minha porta me incomodam profundamente, elas são frenéticas e nem um pouco ritmadas, minha cabeça lateja sem parar e meus olhos estão sem forças para serem abertos. Com o cenho doendo e o rosto quente, eu murmuro um "sai fora" que não é suficiente para parar a insistência da pessoa que está do outro lado da madeira branca.

— Por que você simplesmente não entra? Está aberta! — reclamo, rolando na cama.

— Não sei o que justifica sua última irresponsabilidade, mas eu espero que eu não precise justificar nenhum atraso no seu primeiro dia de trabalho — ouço Hanna dizer e pelo seu rosto fechado e braços cruzados, que eu vejo de forma um pouco embaçada, ela não está nada feliz.

Puts, me fodi!

Eu esqueci completamente que hoje é o dia em que eu conhecerei com quem eu vou trabalhar e, de fato, aprender sobre meus deveres mais a fundo. Por isso, não me preocupei nenhum pouco quando fui dormir só depois do sol nascer, ou quando decidi não programar o despertador para algum horário anterior ao do almoço — que pelo cheiro que entra pela porta, está sendo feito por Monique.

— Me perdoa, mãe! — quase imploro. — É que ontem eu tive uma noite dific-

— Não quero saber, Eva! Nós tínhamos um compromisso! — ela diz, antes de deixar o quarto batendo a porta.

A atitude dela causa uma série de barulhos na minha cabeça, e toda a raiva que estava guardada no meu coração sobre a noite passada volta. Em um pulo eu me levanto da cama e me tranco no banheiro, não me preocupando em dar muita atenção para Picles, que havia entrado antes da minha mãe deixar o quarto.

No reflexo do espelho eu estou um lixo!

Minha maquiagem está toda borrada pelo rosto, meu cabelo uma bagunça e as olheiras se mostram profundas, mesmo com a finíssima camada de base que ainda a cobre. Esfrego meus olhos com a mão, terminando de destruir o que ainda parecia ser um antigo bom delineado e faço um som com a garganta para demonstrar meu descontentamento com a situação. Eu odeio ser acordada às pressas, ainda mais com barulhos incômodos e broncas injustas; ela nem se deu o trabalho de me ouvir antes de encher minha cabeça com broncas e merdas.

Reúno todas as partículas de força que ainda existem dentro do meu corpo para ir até o chuveiro e ligá-lo, antes de tirar a minha roupa e prender meu cabelo em um coque alto. Por mais que ele esteja fedendo, não tenho tempo de lavar, então espero que um perfume resolva.

Entro embaixo da água morna e aproveito cada minuto. Existe um turbilhão de coisas na minha mente, que não descansa nem por um segundo, mas eu não quero que descanse, eu quero remoer cada uma das coisas que aconteceu noite passada até que eu não tenha nem mais um motivo para perdoar Megan quando ela bater na minha porta, arrependida do que fez, quando Dante a colocar no mesmo lugar que me colocou. Eu cansei de manter esse meu lado da vida seguro das minhas vilãnias, eu não quero mais ser a garota que está aqui para todas as horas, que fica fazendo papel de idiota para que os outros possam se divertir enquanto mentem para mim.

— A antiga Taylor não pode atender o telefone agora! — Faço do tubo do óleo corporal o meu microfone. — Por que? Porque ela está morta.

E começo a cantarolar a música que melhor define meu momento.

Quando saio do box enrolada na toalha, uso a água fria da pia para lavar o meu rosto e tirar toda a maquiagem, antes de passar meus cremes, uma rotina de cuidados com a pele que eu criei por causa de Hanna. Apesar de Monique ser vaidosa, nada se compara ao que Hanna faz para si mesma, desde a alimentação impecável e os exercícios, até os produtos que passa e as roupas que usa. Tudo milimetricamente pensado não só por ela, mas também pela equipe que a acompanha desde a adolescência, quando a mãe dela era uma estrela de Hollywood extremamente pomposa.

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