Capítulo 35 - A Doninha, o Ratel, e o Bisonte

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         A noite caíra depois de tantas surpresas em um mesmo dia

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         A noite caíra depois de tantas surpresas em um mesmo dia. Ouvira irmão Domba dizer que vira a tal princesa de olhos lilases no porto de Long Mu, e que ela partira de lá durante a noite.

         O carniceiro que era, viera até Stoffel e aguentou o ardor das horas de jornada apenas para me informar do que viu, esperando que eu pudesse cumprir o que prometera há algumas semanas, quando descobri da morte de Heina.

         Não demorei a encontrá-la em Stoffel. Não era uma mulher difícil de avistar, tanto pela beleza, quanto pelos olhos lilases.

         Quando a vi deixar a casa de Remy Torben e toda a segurança que tinha para trás, apenas para se aventurar pelas ruas, achei que a mulher fosse louca. Mas se existia algo que a princesa parecia ter neste mundo, esse algo era sorte. Pois qual não foi minha surpresa quando ela encontrou-se com Issachar Warwyck e ele intercedeu em seu favor.

         Eu nunca havia me importado com as pessoas, ou com o destino das pessoas: se viviam ou se morriam. Talvez eu tivesse aprendido da forma mais dura, há tantos anos quando me tornei um prêmio para A Casa da Fênix.

          — Você é uma arma. Seu corpo é uma arma. Seu sorriso é uma arma. Você vive apenas para matar em nome da Casa da Fênix. — Era o que a governanta dizia, com suas bochechas altas e ossudas, e seu sorriso entre as peles enrugadas do rosto.

          Eu sempre me lembrava daqueles dias. Talvez porque tenha sido assim que eu me tornei aquilo que as pessoas descrevem como "um monstro". Mas com Issachar tinha sido diferente.

         Eu me lembrava bem de como anos atrás, num inverno gelado, eu havia ficado presa numa nevasca que se sucedeu sobre as terras oestinas, entre Long Mu e Vitta.

          Naquela época meu nome escorria pelas bocas das pessoas como fel, enquanto contavam como eu era um monstro que havia matado o monge de Monte Vitta. Até mesmo irmão Jiang me odiou.

         Era difícil entender. Queriam que fosse feito. Queriam que Wissam deixasse de viver, mas no momento em que eu o matei, trataram-me como se eu fosse um monstro.

          Não quis voltar para A Casa da Fênix. Mas eles mandaram assassinos atrás de mim, para me levarem de volta. Eu estava cansada. Cansada de ser um objeto que fazia de tudo por eles, e ainda assim, o monstro era eu. Só porque eu sorri ao matar Wissam? Sorri. E sorrio sempre que me lembro, porque eu odiava aquele homem.

         Matar era algo no qual eu era boa, e pra mim era um trabalho como qualquer outro. Matar Wissam, porém, foi sim uma diversão. O que eu poderia dizer? Transformei o maior castigo que a minha família me deu, ao me abandonar aos cuidados do general de Long Mu, em um grande presente.

         Todos me criticavam, só que apesar de meus anos incansáveis de serviço, eles nunca me deixariam parar de trabalhar. Então eu parei naquele mesmo dia, e fugi na nevasca, pintando a neve com as pegadas, vermelhas do sangue de Wissam, e do meu, após a espada do irmão Jiang me ferir o lado.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora