II. Lunar.

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É deveras incrível o quanto assustador algo pode se tornar tendo as palavras certas, os detalhes certos. A hora certa.

Minuto por minuto, segundo por segundo; um calafrio.

Já te disseram para nunca permanecer acordado às 03:00 da madrugada enquanto o escuro se faz presente?

Então eu repito.

A escuridão retém em sua sombra tudo o que não deve ser visto, ouvido e dito. Se alguma vez, quando você estava só, teve a sensação de ser observado, a impressão de ouvir barulhos estranhos ou mesmo um pressentimento de murmúrios arrastados ecoando no calar da noite... então alguém te fazia companhia em segredo.

Mas não se preocupe, dizem que você não precisa ter medo ao levantar de noite para ir beber água, ou mesmo de ficar com o pé para fora da coberta... 

Se demônios e espíritos estiverem interessados em você, eles provavelmente já estão aí, deitados ao seu lado na cama.

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 Quem é você? Ou melhor, o que é você?  o fitei receosa ao vê-lo dar um passo para mais perto, me olhando de cima e deixando os lábios exatamente na linha de meus olhos.

 Se eu disser... vai ter medo?  suas palavras foram sussurradas em um tom arrastado, me fazendo estremecer em questão de segundos.  Se eu disser... vou ganhar algo em troca?

 O que quer?  ldvantei o olhar, cruzando-o com o dele enquanto um sorriso malicioso tomava forma no canto de sua boca.

 Quero sua alma, seus pensamentos, seus medos, seus desejos... quero você.

Ele ditou em um sussurro rouco, o qual me fez engolir seco e dar um passo desajeitado para trás, completamente arrepiada, escutando seu riso soprado e o vendo pôr as mãos nos bolsos da calça social.

Se aquilo fosse um sonho, minha mente precisava urgentemente ser estudada.

O nó formado em minha garganta parecia aumentar mais a cada tentativa falha de falar algo. Era surreal demais, alucinante demais para ser algo verídico, porém, ainda assim, parecia tão real para ser uma simples criação da minha imaginação fértil.

— O-O q-que quis dizer com isso? — minha voz saiu meramente falha e mais uma vez ele riu soprado.

— Uma garota vulnerável como você não deveria ficar acordada até uma hora dessas, ninguém te disse? — ele fixou os olhos escuros nos meus de forma intensa, e eu não consegui manter meu olhar no seu por muito tempo, logo desviando para o chão e mordiscando meus lábios inquietamente.

— Por que? — maldita curiosidade.

— Porque pode ser perigoso. — o moreno se aproximou vagarosamente, prendendo o próprio lábio inferior entre os dentes e sorrindo de lado, um sorriso tentadoramente malicioso.

— Você é perigoso? — voltei a encará-lo, olhos nos olhos, sentindo uma leve tensão por meu corpo.

— O que você acha? Pareço ser nocivo pra você? — ficou sério, mantendo o corpo ereto e levando calmamente o polegar até o lábio rosado, por onde deslizou a ponta do dedo sem desgrudar as orbes negras de mim, fazendo com que a minha breve linha de raciocínio se desmanchasse.

— B-Bom... — desviei de seu olhar outra vez, coçando a cabeça com o dedo indicador. — Não posso afirmar nada se eu nem ao menos sei o que você é.

— Não faz a mínima ideia? — ele sorriu ladino.

— Hm... um fantasma? — o mirei atentamente, vendo seu sorriso se desmanchar em um bico indignado.

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