Não achei que Ayla tinha falado sério sobre a questão de comemorar, mas percebi que sim quando estava em casa, com ela, meu tio, Peter, Vitor e sua família, e mais alguns poucos conhecidos que pareciam realmente felizes pela minha vitória. Todos haviam trazido bebidas e alguma comida, se juntando na nossa pequena sala.
Sempre que alguém vinha me dar os parabéns eu sorria e agradecia, fingindo estar comemorando também, quando na verdade estava mais ocupada pensando na próxima semana que eu teria. Tinha a sensação de que ela ia ser pior do que a outra, porque agora era a última prova que estava me esperando quando esses dias terminassem.
—Você precisa beber e se animar. Acabou de ganhar de um guerreiro nível dois de Falésia e nem parece feliz. —Ayla se sentou no topo das escadas que davam para o segundo andar, ao meu lado, já que eu estava me escondendo ali para evitar conversar com todo mundo.
—Ah, não, eu estou muito feliz. Mas eu ainda não venci o Torneio dos Mundos, Ayla, eu apenas ganhei uma das provas. —Falei, aceitando o pote de vidro que ela me estendeu, que estava cheio até a metade com uma bebida forte demais pro meu gosto. —Onde está a Cecília? Pensei que ela iria vir pra cá com a gente.
—Ela disse que precisava resolver alguma coisa super importante na loja. —Ayla deu de ombros, fazendo uma careta ao dar um gole na sua própria bebida. —Alexia também não está aqui, você notou?
—Hm, sim, notei. Mas eu já esperava. Ela deve estar muito decepcionada pelo fato de eu não ter morrido de uma forma bem cruel. —Afirmei, arrancando uma risada de Ayla.
Ficamos em silêncio depois disso, com Ayla encarando os próprios pés, enquanto eu observava o movimento das pessoas na sala do meu tio. Olhei para Ayla de novo, percebendo que ela parecia pensativa. Isso me fez levar a mão até a dela, brincando com seu dedos e fazendo-a olhar pra mim.
—Sabe, quando eu vencer o torneio, vou poder pagar a dívida com Marcos e comprar alguma coisa também. Eu estava pensando em uma construção onde pudesse abrir meu próprio negócio. —Ergui as sobrancelhas ao ver a curiosidade brilhar nos olhos de Ayla. —Você pode vir morar comigo e até mesmo trabalhar comigo, dependendo do que eu resolver fazer.
—Uau, é uma proposta realmente tentadora. —Ayla abriu um sorriso quando soltei uma risada, negando com a cabeça. —Podemos pensar sobre isso depois que o torneio acabar?
—Contanto que você realmente venha morar comigo, como prometemos uma a outra quando éramos crianças, podemos sim. —Afirmei, fazendo-a rir e revirar os olhos, apertando a minha mão de volta como se estivesse grata por eu estar pensando nela naquele momento. —Não sei qual vai ser o resultado desse torneio, Ayla, mas tenho a sensação que as coisas vão mudar muito depois da prova final, independente do que acontecer.
—Eu também estou com essa sensação, sabia? —Ayla sorriu pra mim, enquanto nós duas brindávamos a minha vitória. —Mas o que eu tenho certeza é de que agora eu realmente tenho uma amiga guerreira.
—Você poderia se tornar uma também, sabia? —Sugeri, vendo Ayla soltar uma gargalhada como se eu estivesse contando uma piada muito ruim. —Eu estou falando sério. Você não precisa deixar seus livros de lado, mas pode aprender alguma coisa.
—Não, obrigada. Eu não tenho qualquer talento ou desejo nessa parte. Melhor deixar pra você, que roubou todo talento do mundo. —Afirmou, me fazendo sorrir negar com a cabeça, porque aquilo não era verdade. —Vai se sair bem na última prova, Zaia, Todos aqui vão torcer muito por você.
[...]
No dia seguinte eu já voltei aos treinos com Peter, percebendo que ele pretendia me deixar muito mais cansada e destruída do que da última vez, me fazendo lugar com dois ou três guerreiros ao mesmo tempo, ir para a floresta carregar peso para fortalecer meu corpo, além de treinar com arco mais uma vez. Não preciso dizer que esse último eu fui um completo desastre, quase acertando outro guerreiro treinado por Peter com uma flecha, o que me rendeu alguns olhares atravessados.
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As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1
FantasyLIVRO 1 (AS CRÔNICAS DE SCOTT) Dois mundos divididos por uma barreira mágica. Arcádia, uma terra cinzenta e sem vida, onde os humanos lutam para sobreviver todos os dias, já que a fome e a miséria andam lado a lado com eles. Falésia, um mundo repl...