Capítulo 17: O que você quer de mim?

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Me forcei a ficar de joelhos, porque não havia para onde correr naquele momento, com os três dragões prestes a entrar em um embate bem na minha frente. Os gritos da plateia foram abafados pelo rugido do dragão branco, que abriu a boca e lançou aquela névoa densa na direção dos outros dois.

Ouvi o som do gelo se formando, vendo o dragão de escamas cinzas tentar desviar daquilo, antes de sua asa ser atingida e congelar instantaneamente. O dragão na minha frente disparou pra cima dos dois, enquanto eu ficava de pé, sentindo minha cabeça girar e eu quase tombar pra frente, antes de disparar na direção do centro da arena onde estava a esfera.

Os gritos me seguiram, mas não quis olhar pra saber se algum dragão estava vindo atrás de mim. Continuei a correr, com meus músculos tão rígidos que queimavam a cada movimento do meu corpo. O chão tremeu embaixo de mim, fazendo um nó se formar na minha garganta quando vi o chão se partir em dois, entre eu e a esfera.

Cheguei até a abertura do chão e impulsionei minhas pernas para cima. Um grito escapou pela minha boca quando estendi minha mão na direção da esfera, sentindo meus dedos a rodearem, antes de algo bater com força contra as minhas costas. O ar se prendeu na minha garganta quando fui lançada para o lado, antes de tudo ficar em silêncio no momento que imaginei aquela plataforma onde David sempre ficava, entre as arquibancadas.

Meu corpo bateu contra o chão firme, arrancando um som rouco da minha garganta, porque a dor deixou meu corpo estranho, principalmente quando senti minhas costas empapadas com algo quente que fez minha visão embaçar com tons variados de vermelho e preto. Um zumbindo nos meus ouvidos me impediu de ouvir o que estava acontecendo, mesmo que as pessoas corressem ao meu redor, se abaixando ao meu lado como se estivessem desesperados.

David surgiu, assim como um mar de cabelos loiros que não eram os meus, em uma garota com olhos de um tom violeta chamativo. Os dois falavam comigo, tocando meu rosto, enquanto minha cabeça parecia tão pesada, a ponto de eu desejar dormir e não acordar mais, por que meu corpo estava paralisado no chão, frio e pegajoso de sangue. Tentei abrir a boca para dizer algo, mas meus lábios pareciam que haviam sido colados, antes da escuridão levar minha mente para longe.

[...]

Tive alguns sonhos esquisitos enquanto dormia. Vi meu tio e Alexia discutindo ao lado da minha cama, enquanto ele segurava minha mão e me olhava como se implorasse por alguma coisa. Vi Peter, Ayla e Cecília também, em completo silêncio enquanto me olhavam sem nem piscar, em mistos de surpresa, preocupação e alivio. Sonhei com olhos amarelos e outro de um tom muito bonito de violeta, com mãos cuidadosas tocando meu rosto. Vi David também, ao lado de uma mulher de cabelos e pele negra, que eu não fazia ideia de quem era.

Eram apenas imagens confusas, que faziam minha cabeça latejar com uma dor de cabeça insuportável. Meu corpo era um emaranhado de sensações estranhas, com pontos de dor e outros de calmaria. Faixas que deixavam meu corpo imóvel sobre a cama, sem poder mover um músculo sequer.

Quando consegui abrir meus olhos, estava com a boca seca e um gosto amargo na língua, como se tivesse acabado de beber alguma coisa. Eu reconhecia as cortinas brancas da enfermaria, além da cama muito mais macia que a que eu dormia normalmente. Mas não estava confortável, porque meu corpo estava duro e dolorido, como se eu não me movesse a muito tempo.

Tentei me sentar, sentindo minha cabeça girar quando me ergui, quase tombando da cama quando fiz isso. Me deitei de volta na mesma hora, umedecendo os lábios com a língua, enquanto tentava me lembrar do que havia acontecido, porque havia uma névoa negra na minha cabeça, que me impedia de raciocinar direito.

Olhei para o lado quando alguém puxou a cortina branca, vendo aquela mulher negra que estava no meu sonho surgir, com os olhos claros parecendo espelhar o céu. Ela parou quando notou que eu estava acordada, com a expressão se tornando surpresa por um segundo, antes de se tornar inexpressiva de novo. Não deveria ter mais de 35 anos.

As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora