Não sei quantas vezes insisti para que Amélia me deixasse ir embora, antes de desistir, vendo-a passar pela porta e me deixar sozinha. Tinha deixado claro que eu era livre para fazer o que eu quisesse por ali, o que soava como uma grande piada e hipocrisia. Fiquei deitada na cama por um tempo, me sentindo frustrada por estar naquele lugar contra a minha vontade.
Quando me cansei de ficar ali sem fazer nada, me levantei e xeretei por todo quarto, vendo tudo que havia por ali. O armário estava lotado de roupas, além da minha espada estar depositada delicadamente sobre elas. Com uma respiração pesada troquei de roupa, vestindo um daqueles conjuntos de couro, prendendo a espada na minha cintura.
Saí do quarto, encontrando um labirinto de corredores, com milhares de portas por todo lado, que provavelmente eram de quartos como o meu. Tentei encontrar uma saída, zanzando por vários minutos até achar uma escada, que se abria em um imenso refeitório, repleto de fileiras de mesa e bancos por todo lado. Algumas pessoas estavam sentadas por ali, com bandejas de comida, conversando e rindo.
Desci os últimos degraus, vendo as conversas diminuindo à medida que eles iam notando a minha presença, até aquele refeitório ser tomado por um silêncio carregado. Não era difícil notar minha diferença pra eles. Eu era mais magra, pálida e pequena, enquanto eles tinham músculos e um tom de pele bronzeado do sol. Eram guerreiros, enquanto eu parecia uma intrusa.
—Zaia? —Olhei para as escadas atrás de mim, me surpreendendo ao ver Percy de descendo os degraus e caminhando na minha direção, com um sorriso se abrindo nos lábios ao me ver. —Que bom ver você de pé e bem. Matou quase todo mundo de susto com o que aconteceu na arena.
—Aposto que todo mundo pensou que eu ia morrer. —Comentei, me aproximando mais dele para que os falesianos ao redor não ouvissem nossa conversa. Os murmúrios pelo refeitório tinham recomeçado, mas muito mais baixos. —Ou desejaram isso, pra que eu não ganhasse o torneio.
—Eu não. Eu não desejei isso. —Percy foi rápido em rebater, e eu quase me senti mal, porque me lembrava de ouvir sua voz gritando meu nome e pedindo que me tirassem de lá. Não havia nada além de preocupação e desespero nele naquele momento.
—Sinto muito, Percy. Não estava me referindo a você. Hoje só não é um bom dia pra mim... —Parei de falar, mordendo o lábio ao me dar conta de uma coisa. —Ainda fazem três dias desde a última prova?
—Hm... sim. —Percy respondeu, franzindo a testa, como se não estivesse entendendo o porquê de eu perguntar aquilo. —Por que está perguntando isso?
—Só queria ter certeza de algo. —Olhei para Percy e depois ao redor, percebendo que as pessoas olhavam pra nós dois com curiosidade e desconfiança. Era óbvio que eles não me queriam ali, assim como eu não queria estar ali. —Que lugar é esse afinal? Amélia se referiu a isso como uma chalé de guerreiros.
—Pensei que tinha escolhido vir pra cá. —Percy fez uma careta, como se não estivesse entendendo nada, enquanto eu soltava uma risadinha, percebendo que não havia sido eu a única enganada por Amélia.
Percy me levou até o gramado que eu enxergava pela janela do meu quarto. Como aconteceu no refeitório, todos os guerreiros ficaram olhando pra mim com curiosidade, sussurrando uns com os outros sobre a minha presença ali. Percy me explicou que Amélia tinha feito um comunicado a todos de que eu havia escolhido o Chalé Azul para ficar em Falésia, depois de vencer o torneio. Muitos não reagiram à isso muito bem, enquanto outros pareciam apenas receosos.
—Chalé Azul. —Repeti, observando a imensa construção se que assemelhava a um chalé, mas parecia muito mais um castelo de madeira, com torres altas de pedra nas quatro extremidades, além de uma bem no centro, onde algumas bandeiras azuis balançavam com o bater do vento. Ao redor haviam galpões e celeiros, onde guerreiros caminhavam e treinavam. —Vocês vivem aqui? Passam a vida treinando?
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As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1
FantasyLIVRO 1 (AS CRÔNICAS DE SCOTT) Dois mundos divididos por uma barreira mágica. Arcádia, uma terra cinzenta e sem vida, onde os humanos lutam para sobreviver todos os dias, já que a fome e a miséria andam lado a lado com eles. Falésia, um mundo repl...