—Se seguir pela floresta, vai caminhar alguns bons dias antes de chegar até a praia. —Ele fechou o caderno, se movendo para descer da árvore. —Se procura a barreira magica, a direção certa é pra lá. —Ele apontou para o oeste, antes de pular do galho para o chão. —Mas eu não faria isso se fosse você, porque Amélia iria procurá-la assim que percebesse seu sumiço.
Ele ergueu a cabeça para me encarar, com um sorriso fácil nos lábios, me deixando ver os olhos em um tom castanho avermelhado, como se tivessem chamas dentro das suas íris. A pele, assim como a maioria dos falesianos, era bronzeada, que dava um contraste bonito com o tom dos seus cabelos. Não parecia ser muito mais velho que eu. Se eu fosse chutar, diria entre 20 a 22 anos.
Mas o que mais me chamou atenção foi o fato de que ele não usava qualquer espada ou arco, além das roupas de couro serem muito mais simples que as dos guerreiros do Chalé Azul. E no lugar do que deveria estar a pulseira azul no seu pulso, havia apenas uma tatuagem em formato de uma chama.
—Elemental do fogo? —Indaguei baixinho, vendo o sorriso dele se tornar maior, antes de ele erguer o braço e deixar a palma da mão voltada para cima. Uma chama surgiu ali, pequena e quase delicada demais, surgindo de dentro da sua pele. Mas ele logo fechou a mão, fazendo a chama desaparecer.
—Zaia Scott, certo? —Eu assenti com a cabeça, comprimindo meus lábios. —A arcadina que venceu o Torneio dos Mundos.
—Esse é o assunto principal de Falésia? —Indaguei, sem deixar a ironia escapar pela minha boca. O rapaz na minha frente riu, se aproximando um pouco de mim.
—Mais ou menos. Na verdade, o assunto principal é Misty e o seu estranho comportamento na última prova do torneio. Inevitavelmente você está incluída nessa história. —Ele balançou a cabeça quando eu soltei uma risadinha baixa e descrente, dando de ombros. —Estava mesmo tentando achar a barreira magica ou eu entendi tudo errado?
—Quero voltar pra casa. —Afirmei, soltando um suspiro pesado, vendo o rapaz erguer ligeiramente uma das sobrancelhas. —Você falou da Amélia, então deve saber que não vim pra cá porque quero.
—É, fiquei sabendo. Não posso dizer que não estou surpreso com isso. Amélia tem algumas ações questionáveis, mesmo quando está tentando fazer a coisa certa. —Ele ergueu a mão e passou pelos cabelos, antes de guardar aquele caderno em um bolso dentro da jaqueta. —Acho que é por isso que não nos damos muito bem. Não costumo concordar muito com ela.
—Ela já tentou te controlar como está fazendo comigo? —Indaguei, arrancando uma risada acida dele, que apenas tombou a cabeça de lado e me lançou um olhar afiado, que foi resposta o suficiente pra minha pergunta.
—Deveria aproveitar esse tempo no Chalé Azul. Ouvi dizer que você venceu um dos nossos nível dois. Aposto que vai se sair bem aqui. —Ele indicou o chalé de guerreiros que eu havia deixado para trás, antes de se aproximar e desviar de mim, me fazendo engolir em seco com o calor presente nos seus olhos. —Meu nome é Raven. Tenho que ir agora, mas a gente se vê por ai, Zaia.
—Você treina nesse chalé? —Indaguei, olhando-o por cima do ombro, vendo-o balançar a cabeça negativamente.
—Elementais não ficam em chalés de guerreiros. —Foi a resposta dele, antes de desaparecer no meio da floresta, me deixando sozinha ali.
Permaneci ali por algum tempo, tentando absorver tudo que havia acontecido comigo nos últimos dias, antes de decidir voltar para o Chalé Azul. Queria conversar com Percy de novo, ao mesmo tempo que queria ficar sozinha. Estava preocupada com meu tio e com Ayla, além de saber que eu não era bem-vinda ali, mesmo que Amélia me quisesse ali.
Voltei para dentro sobre os olhares atravessados de muitos guerreiros, ignorando-os completamente. Uma sensação estranha e pesada, tomava conta de mim, me fazendo sentir um vazio completo. Me sentei na cama quando cheguei no quarto, encarando meu reflexo no espelho, querendo que alguma solução surgisse pra tudo aquilo magicamente e eu pudesse voltar pra casa.
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As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1
FantasíaLIVRO 1 (AS CRÔNICAS DE SCOTT) Dois mundos divididos por uma barreira mágica. Arcádia, uma terra cinzenta e sem vida, onde os humanos lutam para sobreviver todos os dias, já que a fome e a miséria andam lado a lado com eles. Falésia, um mundo repl...