Percorri o corredor parcialmente escuro, tentando ignorar todas aquelas criaturas que rosnavam e mostravam os dentes pra mim quando eu passava pelo corredor, em frente as suas jaulas. Tinha passado o restante do dia pensando na minha última conversa com Percy, Margo e Mia, e não havia chegado a qualquer conclusão. Precisava de respostas e, principalmente, precisava de um momento sozinha.
Parei de andar quando visualizei a jaula de Misty. Ela estava de costas pra mim, deitada no chão, parecendo estar em um sono pesado. Não tinha vindo vê-la desde o dia que cheguei, quando ela fez um belo espetáculo para vários guerreiros ao me reverenciar. Mas desde que Raven havia me levado para voar com Griffin, andava pensando com mais frequência em Misty do que eu gostaria.
Margo me contou que ela estava mais calma desde esse dia também, mas ainda não deixava ninguém se aproximar dela. Amélia pensou em soltá-la, mas também tinha ficado com medo das coisas sairem do controle e o dragão acabar machucando alguém. É claro que Margo deixou claro que isso era graças a mim, mesmo que eu não tivesse feito absolutamente nada.
Soltei uma respiração pesada e caminhei até parar na frente das grades, onde ficava o pequeno portão. Com as mãos trêmulas, puxei o pino que a trancava, antes de puxa-la lentamente. As grades rangeram, fazendo até mesmo meus ossos estremecerem com o som repetindo e desagradável. Aquilo foi o suficiente para fazer Misty notar que não estava mais sozinha.
A enorme cabeça do dragão branco se ergueu e girou na minha direção. Meu sangue ficou tão frio quando aqueles olhos cor de oceano, antes de eu terminar de abrir as grades e colocar um pé para dentro. Misty não se moveu. Na verdade, a única coisa que se movia com força e muito rápido naquele momento era meu peito, subindo e descendo em uma velocidade sobrenatural.
—Você não vai me machucar, não é? —Sussurrei, colocando o outro pé para dentro, sentindo meu coração chegar a garganta, enquanto meu sangue corria com mais força pelas minhas veias.
Levei um susto quando soltei o portão e ele se fechou atrás de mim com um baque estridente. Misty continuou imóvel mesmo assim, me deixando um pouco hesitante sobre fazer aquilo ou não. Quando não suportei mais a ansiedade dentro de mim, dei um passo na direção dela e depois outro.
Misty pareceu levar isso como um sinal positivo de mim, porque seu corpo se ergueu e suas asas se abriram, me pegando completamente desprevenida. Dei um passo para trás, mas Misty já estava inclinando a cabeça na minha direção. Sua respiração forte jogou meus cabelos para trás e me fez exibir uma careta, porque não era o cheiro mais agradável do mundo. Mas então ela girou a cabeça, deixando-a de lado na altura do meu peito.
Soltei uma risada ao reconhecer aquele gesto, porque já tinha visto Griffin fazer o mesmo com Raven. Ergui minha mão e deslizei os dedos pelas escamas embaixo da sua cabeça, vendo-a fechar os olhos e soltar o que parecia ser um grunhido de apreciação, se é que isso era possível.
—Você não é tão mal assim, não é? —Falei, me aproximando mais dela e agora usando as duas mãos para fazer carinho na sua cabeça.
Olhei para cima vendo o céu parcialmente escuro e a copa das árvores. Misty ficava presa em correntes para não sair dali, já que o calabouço sobre ela era aberto, e também para não atacar nenhum guerreiro desavisado. Mas agora ela não estava mais agressiva e não precisava mais delas. Me abaixei e comecei a soltar as correntes das suas patas, soltando uma risada nervosa quando sua cabeça me seguiu e seus dentes ficaram a mostra. Mas não parecia irritada. Parecia... feliz.
—Bom ver que resolveu se aproximar dela. —Uma voz masculina murmurou atrás de mim, me fazendo dar um pulo de susto. Virei apenas para encontrar Raven parado do lado de fora, com os braços cruzados e um sorriso nos lábios, como se o fato de eu me aproximar dela realmente o deixasse feliz.
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As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1
FantasyLIVRO 1 (AS CRÔNICAS DE SCOTT) Dois mundos divididos por uma barreira mágica. Arcádia, uma terra cinzenta e sem vida, onde os humanos lutam para sobreviver todos os dias, já que a fome e a miséria andam lado a lado com eles. Falésia, um mundo repl...