As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1

Capítulo 38: Minha casa.

Por um segundo tudo que Raven e eu fizemos foi encarar um ao outro. As palavras ditas e não ditas pesando entre nós dois como pólvora prestes a queimar e explodir. As lembranças do ataque no Chalé Azul e de David fazendo a raiva e a mágoa borbulharem de dentro de mim.

—Porque está fazendo isso, Raven? —Indaguei, odiando a confusão que se formou no seu rosto, como se ele não fizesse ideia do que eu estava perguntando.

—Você sabe o porquê. —Afirmou, enquanto eu negava com a cabeça, apertando o cabo de espada com tanta força a ponte de meus ossos doerem. —Existe um câncer no nosso mundo, Zaia. A grande profecia é a chave pra destruí-lo.

—E o que isso te diz respeito? —Questionei, soltando uma risada. —Não pode querer que eu acredite que está fazendo isso pra destruir algum mal que só você enxerga.

—A profecia é importante para o nosso mundo e eu sou um elemental. Ganhei esse poder e esse dragão pra prezar pelo bem do meu mundo. —Ele deu um passo na minha direção, fazendo eu erguer mais a espada, esperando pelo ataque que certamente viria. —Ela pode mudar tudo, Zaia. E você está ligada a ela. Pode não querer acreditar, mas só quero o bem de todo mundo.

—Uma pena que David não estivesse entre todo mundo, não é? —Falei, vendo o impacto que minhas palavras tiveram em Raven, já que seu rosto foi tomado por arrependimento, antes de se tornar frio e duro.

—As vezes, pra fazer o certo, é necessário tomar decisões erradas. —Afirmou, me fazendo soltar uma risada e negar com a cabeça. Ele deu mais um passo na minha direção. Nenhum sinal daquela espada de fogo. —Posso ajudar você, Zaia. Podemos nos ajudar. Todos nesse mundo tem interesse em usar você pra benefício próprio. Sky não é tão diferente.

—E no que você difere deles? —Indaguei, gesticulando ao redor. —Até agora você fez um ótimo trabalho em parecer alguém que só quer me usar pra benefício próprio.

—Quero sua ajuda, mas também quero que me ajude. A profecia cita três pessoas. —Ele se aproximou mais ainda, até a única coisa que nos separava ser minha espada erguida, quase encostando no seu peito. —Amélia acredita que eu sou um dos guerreiros citado nela. Ela tentou me controlar da mesma forma que fez com você. No início eu aceitava o que ela falava, até você aparecer e eu perceber que as coisas podiam ser diferentes.

Eu olhei por cima do ombro de Raven, vendo as duas figuras de cabelos azuis que lutavam com alguns guerreiros na outra ponta da ponte, onde Raven estava minutos atrás.

—E o que te faz pensar que vou confiar em você depois de tudo que fez? Depois de David? —Indaguei, observando Raven engolir em seco, hesitando ao erguer a mão e tocar a ponta da minha espada. Deixei que ele a empurrasse para o lado, usando isso para quebrar o restante do espaço entre nós.

—Venha comigo e vai perceber que eu não estou errado. Posso mostrar a você porque estou fazendo tudo isso. —Raven sussurrou, com os olhos fixos nos meus, enquanto eu controlava a raiva que queimava dentro de mim.

—Eu preciso te perguntar algo. —Falei, soltando uma respiração pesada, enquanto olhava pra ele com a minha expressão mais cautelosa, como se ele realmente tivesse me ganhado com suas palavras. —O que acontece quando um elemental do fogo se molha?

Raven franziu a testa em confusão, antes de olhar pra trás e encontrar Kylian e Erick cortando as cordas que seguravam a ponte. Ele tentou correr para impedi-los, mas a ponte cedeu antes que ele conseguisse chegar até eles. Nós dois despencamos, caindo na água fria e violenta do rio, sendo carregados pela correntezas.

Usei todas as forças do meu corpo para tentar nadar, mas nada parecia funcionar por conta da velocidade que a água me carregava. Raven estava na mesma situação que eu, sendo carregado pelo rio descontrolado, parecendo tentar se agarrar as pedras no fundo. Meus braços e pernas batiam nelas sempre que eu tentava me segurar, arrancando todo o ar de dentro de mim.