Feyre para na frente minha casa, me segurando com força em seus ombros. O restante disso passa como uma torrente de informações falhas que meu cérebro tenta captar, mas não estou consciente o suficiente.
Eu abro a porta, sem me importar que minhas malas não estejam comigo, que deixei itens em Velaris, principalmente minha chave de casa. Mas isso pouco faz falta. Minha mãe mantém uma chave debaixo do capacho de entrada.
É domingo, a casa está vazia como sempre, minha mãe ocupada com as vizinhas, nos jogos na praça, provavelmente tomando algum sorvete e rindo até ficar rouca. Meus irmãos estão vivendo suas vidas na cidade, mas eu estou aqui, voltando pra casa, de um final de semana que tinha tudo para ser o inicio de uma vida nova pra mim.
Mas estou entrando com Feyre e Nestha na minha sala, uma delas me senta no sofá e a outra me traz um copo de água da torneira, porque provavelmente não sabe mexer no filtro d'água, mas não a julgo, porque eu mesma não saberia mais nada agora.
Meus olhos ardem, minha garganta queima, minha cabeça parece uma bolha prestes a explodir e encharcar o lindo tapete da sala.
—Sol -uma mão toca meu queixo, erguendo meu rosto. É Feyre, com sua voz doce e distante. —Como você está?
Eu apenas pisco, sentindo mais lágrimas caindo.
—E-ele m-mentiu pra mim -é o que respondo, tão fraco que gaguejo. E logo mais uma torrente de choro vem, me cortando por inteiro, da cabeça aos pés. É isso que me tornei. Tão quebrada quanto antes.
Tudo poderia ser mentira dita pela boca de Elain, mas ouvir Azriel dizendo que podia explicar...Aquilo só confirmava tudo.
—Eu vou matar esse filho da puta -eu ouço Nestha grunhindo, atirando uma almofada para o chão, para se sentar ao meu lado e me abraçar. Me abraçar.
—Ninguém vai matar ninguém, Nestha -diz Feyre, como uma ordem. —Rhysand já deve estar resolvendo as coisas lá.
—E acha que seu parceiro não vai tentar matar aquele babaca? -Nestha ri, acariciando meus cabelos. —Vai ser um milagre encontrá-lo inteiro.
Eu fungo, me afastando de Nestha, mas ela enrola meu rosto nos dedos.
—O que ele fez, Sol?
Não consigo dizer, porque toda vez que abro a boca, eu só consigo imaginar Elain e Azriel, se pegando, num quarto, prometendo ficarem juntos. Eu só fui uma pedra em seu sapato, que ele decidiu mostrar pra todos. Eu até acreditei que havia orgulho e alegria em sua voz quando me apresentou para Mor como sua parceira. Estúpida! Como sou estúpida!
Feyre deve mostrar pra ela com sua mente de daemati, porque um silêncio pesado cai entre nós, e logo as duas me levam para o andar de cima, me ajudando a deitar na cama.
—Vai ficar tudo bem, Sol -Feyre beija meu rosto, enquanto me cobre como uma criança que teve pesadelos. —Vou dar um jeito de arrumar isso tudo.
Eu nego com a cabeça.
—Não quero que nada seja arrumado. Quero esquecer que o conheci -falo, a voz rouca e grogue.
Elas não dizem nada por um minuto inteiro, e a única a abrir a boca é Nestha, que aperta meus dedos nos seus antes de afastar da cama.
—Vou me vingar por você.
E simples assim, as duas somem naquele pó de estrelas no meio do meu quarto. E é quando começo a chorar de fato, enfiando o rosto no travesseiro, dolorida e cansada, magoada e ferida até os nervos mais profundos.
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Corte de Sombras e Mundos
RomanceOBRA INSPIRADA EM ACOTAR DE SARAH J. MASS Numa festa de casamento, a última coisa que você espera é dar de cara com um personagem que não existe na vida real. Quando isso acontece com Sol, no casamento de sua prima, é só o começo de coisas estranha...