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Precisou de um momento considerável para terminar de se acalmar, mas quando conseguiu abriu a porta e tentou fazer o mínimo de barulho que poderia.

Só depois que fechou a porta atrás de si pôde sentir novamente algum tipo de segurança, mesmo se apenas uma ilusão psicológica. Seu olhar pousou no meio da cama, onde Langer havia feito um ninho com os lençóis.

Andou até a cama e se sentou na borda, e quando o menino viu que tinha companhia tirou um dos braços do ninho para mostrar outro dente que caíra.

-- Se sente melhor? -- garoto acentiu -- Então porquê a cara de sofrido?

-- Minha cabeça dói menos, mas ainda dói.

O dente de leite foi deixado na cabeceira (que o ex dono jogue mais tarde) e o ninho parcialmente desfeito para poder tocar na criança. Passou as mãos pela cabeça e pescoço, mas nenhum sinal de febre.

-- Vomitou depois que comeu?
O viu fazer que não.
-- Fez alguma coisa diferente?
Ele hesitou por um instante, mas fez que não.

Seu pobre bebê. Lhe partia a alma o ver daquele jeito. E estranho. Já havia pego febres e resfriados antes - mudanças de clima podem ser cruéis - mas nada mais grave do que isso. Se houvesse alguma doença contagiosa lá dentro, provavelmente também estaria sentindo, ou ao menos uma parte dos criados, já que estavam todos trancados lá dentro.

E, no entanto, a fraqueza e dor de cabeça da manhã não pareciam ter passado, mesmo que dissesse que ao menos a segunda melhorou.

Bom, se não era uma febre, não tinha razão para não o deixar se enrolar, então puxou o lençol de volta.

-- Pode dormir logo, se quiser. Prometo que vou estar aqui quando acordar.

Apesar de claramente não estar passando bem, o sorriso mínimo chegou aos olhos do menino, o que lhe deu alívio, mas também lhe deu culpa. Lhe dava uma desculpa para não querer sair de lá dentro (uma tolice, com certeza deve ter a sua própria chave para cada cômodo, e mesmo se não, talvez pudesse arrancar um pedaço da porta, mas dava a ilusão de segurança e às vezes uma ilusão é o bastante), mas cuidar do seu filho deveria ser a causa, não uma desculpa.

Mas, se percebeu a parte de ansiedade em si, não demonstrou, apenas pôs a cabeça exatamente em cima de onde ficava sua alma e fechou os olhos.
Às vezes se perguntava de onde o hábito de pôr exatamente ali veio. Agora, crescendo, talvez não pudesse responder, mas imaginava que, como um bebê, quando finalmente conseguiu o apoiar sobre seu peito havia achado o som dos batimentos confortante. Talvez pela familiaridade, já que foi o primeiro que ouviu.

Poderia tentar cantar, mas era pintor, não cantor, e o objetivo era o ajudar a dormir, não perturbar, então se limitou a baixar seu capuz e alisar a nuca, sempre para baixo.

Só o soltou quando teve certeza que estava dormindo, e mesmo então continuou contemplando-lhe o semblante calmo, que parecia trazer paz à sua própria alma. Uma paz real, não como a que trazia os incensos, que funcionavam mas podia dizer que era uma calmaria forçada.

É claro que sim. Ah, seu besta, você mudou o curso da sua vida inteira por essa criança, o que é querer ficar no mesmo quarto até que melhore? Não é nada.
"Agora, que foi visto andando sob luz solar sem problema algum e que um de seus olhos têm uma cruz, estava bem, mas como esconder dos amigos o que absurdamente rápido estava amadurecendo? E se de repente Eterna tivesse o tal "olho treinado"?", era só repetir isso para si mesmo algumas vezes e qualquer dúvida que tinha seria sanada.
Talvez, e sabia que era um pensamento sombrio, se tivesse ocorrido enquanto queria morrer só de o ver, tivesse sentido algum alívio ao o ter tirado de si, mas e depois que passou? Eram sentimentos conflitantes. Ao mesmo tempo que se sentia culpado por ter sumido e deixado quem o conhecia sem sequer uma prova que ainda estava bem, via a (ex?) amiga como uma possível ameaça ao seu bem mais precioso.

Quase sete anos... podiam passar quantos fossem, duas coisas nunca mudariam: tinha a mesma idade que a si, e era mulher. E, ainda assim, quando saiu ela tinha um cargo de respeito entre os caçadores. Havia subido? Havia provado que não estava se superestimando quando se considerou abençoada? Não era difícil a visualizar virando a mão direita do capitão. Se estivesse adivinhando certo, seria ao menos a mais jovem a conseguir, e a primeira mulher. Será que...

Um suspiro cansado escapou, o corpo foi arrastado para fora da cama e pegou um dos ramos de dentro de um pano dobrado.

Não devia ter amarrado aquele crucifixo no pulso...

Vampire Verse - Sun and MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora