Shh... sorria.

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Pela milésima vez somente naquela semana Akutagawa se sentiu sufocar, sua garganta embolada em um nó que fazia doer a cabeça, os lábios tremelicavam com a força em que os crispavam na esperança de abafar os soluços doloridos, sua caixa torácica nunca parecerá tão vazia, sentia o ar falhar como nunca. Fora assim das outras vezes também, mas tudo bem.

Os olhos avermelhados e inchados focados no espelho lhe forçavam a crer na realidade, aquela que a cada dia lhe afogava um pouco mais. Estava detonado, não lhe restava nada além de tudo. De todas as dores, de toda solidão, de toda rejeição, de toda invasão, de todo cansaço e de toda lentidão.

Era em momentos como esses que em seu quarto, que sentia o ar falhar e os olhos arderem, que se perguntava. Porque? Porque chorava tanto e sufocava ao tentar parar? Porque não suportava a ideia de acordar ao amanhecer? Porque não estava satisfeito com tudo que tinha? Por Deus, era um maldito ingrato? Porque era tão rejeitado? O que fizera de tão errado? Merda, porque tão falho?

Jogou a água acumulada em suas mãos no rosto tentando acalmar a respiração, secou o rosto com uma tolha qualquer e voltou ao quarto que era somente iluminado por uma luminária de gatinho e se sentou na cama em meio às cobertas formando um montinho de tecidos. Estava tarde e Atsushi ainda não havia chego, não conseguia dormir sem que o namorado estivesse ali. Pelo menos em dias assim, em que mal conseguia respirar.

O moreno suspirou e passou a mexer as mãos nervosamente, estava tão cansado e machucado. Já havia ficado saturado de questionar a situação em que estava, era inútil. Não havia uma resposta sequer para tal.

Se aconchegou melhor na coberta preta de pelinhos suspirando quando sentiu o corpo esquentar ainda mais, se talvez tivesse forças para levantar e fazer um chá para tomar naquela madrugada seria algo incrível. Mas aparentemente nem para isso serviria, já que cogitar se mover lhe deixou ainda mais desgostoso.

Se virou na cama ficando de frente para a porta do quarto, ainda deitado. Iria observar o nada, mas de frente para a porta já que assim poderia ver quando o amado chegasse, só esperava se recompor até lá. Coisa que as lágrimas que lhe escorriam as bochechas provaram totalmente impossível, não iria dar tempo.

Atsushi chegaria em casa e veria aquele ser destruído e quebrado que havia se tornado, tão infeliz e desanimado. Não sabia como havia mudado tanto, mas quando viu já estava completamente desgostoso da vida.

Sentia tanta saudade de quando passava noites a fio lendo, achando a melhor coisa do mundo, ou como quando ficava vendo filmes sozinho com vários doces e se sentia satisfeito, também quando tirava uma boa nota na escola e o orgulho que sentia de si se sobressaia a carência que lhe afligia, igual como quando dançava na frente do espelho com o fone de ouvido conectado no celular e o volume máximo explodia contra seus tímpanos praticamente lhe obrigando a pular e gritar. É, sentia saudade.

Se perguntou se conseguia fazer isso agora, mas sabia que não. Havia parado de dançar e cantar no espelho, as notas já não eram mais satisfatórias fazia alguns anos e os filmes já não eram mais coloridos, lhe sobrava apenas a leitura e Atsushi, bem ele era muito mais do que merecia.

Em muitas de suas noites de insônia, o namorado lhe ouvia chorar por horas a fio enquanto acariciava seus cabelos o lembrando de seu amor, em outras delas ele lia algum dos livros que havia começado para o deleite do moreno. Amava a voz do albino, era como ouvir o mundo acordar e o ouvir gato ronronar. Também haviam madrugadas em que Nakajima estudava com Akutagawa, não dormiam nesses dias, haviam aquelas situações em que o namorado o amava durante a madrugada até vê-lo cansado e preparado para dormir, era mágico. Amava aquele homem.

Ainda olhando para a porta do quarto aberta examinou cada canto na esperança de vê-lo entrar e vir em sua direção apenas para lhe beijar o rosto e o dizer o quão belo era, Nakajima sempre fora tão romântico. Olhava para a porta na esperança de vê-lo aparecer no corredor apenas de calça e calçados avisando ter chegado. Coisa que não aconteceu nos segundos seguintes, nem nos minutos seguintes e muito menos nas horas seguintes.

Akutagawa observou e observou, passará horas sem nem mesmo cochilar observando a porta do quarto com esperança de vê-lo chegar, quando notou já havia amanhecido. Se sentindo pior do que antes se arrastou para fora da cama e caminhou até o banheiro para tomar banho, fazia três dias desde o último. Arrancou a roupa de seu corpo e se lavou, passou alguns segundos observando as cicatrizes em suas coxas, não faziam muito tempo.

Saiu do banho e vestiu uma roupa apta para ir a faculdade, calçou os tênis e pegou a bolsa. Saiu do quarto indo em direção a porta não demorando a sair, caminhou calmamente em direção ao campus que não era tão longe e sorriu ao passar pelo café preferido de Nakajima, entrou fazendo o pedido de seis copos de cappuccino com chocolate, a turma era viciada nesses cafés.

Passou rapidamente pelo cemitério que ficava pelo caminho, ele era lindo. Havia ido ali visitar o pai de Nakajima no verão passado, um momento inesquecível.

Já dentro do campus ele caminhou até uma cerejeira encontrando os quatro sentados ali. Dazai estava desenhando em seu caderno com um lápis carvão e tinha o namorado, Chuuya, encostado em si enquanto folheava uma revista de moda. Já Kunikida fazia cálculos precisos com uma pequena agenda e sua fiel companheira, a calculadora e Kenji comia um saco de salgadinhos de milho verde quietinho, parecia cansado. Observou os quatro e suspirou chateado, Nakajima não havia ido e nem havia lhe ligado. Esperava conseguir o ver antes das aulas.

Se aproximou um pouco mais colocando a caixa que continha as bebidas no chão, no centro da roda fazendo todos lhe olharem com pequenos sorrisos, o menor era o de Dazai. Retribuiu o sorriso com um risinho leve antes de começar a falar, amava tanto os amigos.

-- Neh, pena que o Atsu não veio hoje. Pedi chocolate extra. Inclusive, sabem porque ele não veio? -- a voz agora já mais animada que durante a madrugada, soou baixa somente para os quatro presentes.

-- Ele foi dormir tarde e perdeu a hora. Sabe como ele é Ryuu-chan, fica jogando e lendo até tarde dá noite e depois não consegue acordar. Eu o aviso para lhe ligar quando chegar em casa. -- Dazai tratou de despreocupar o menor que suspirou aliviado, e sorriu grande quando engataram uma conversa animada sobre um livro novo.

O sorriso de Akutagawa naquele dia avisou aos quatro assim que eles o notaram, não contariam para o moreno naquele dia. Mesmo que contassem todos os dias, naquele não iriam o fazer. Era o suficiente, por um tempo. Akutagawa não precisava saber pela sétima vez naquela semana que Atsushi havia se matado à exatos três meses. Que o albino não resistiu a depressão e aos pesadelos que lhe afligiam, que o amado havia lhe deixado uma carta e que fora ele quem o encontrou caido, frio e sem vida no chão manchado de vermelho.

Para Ryuunosuke, Atsushi havia lido e jogado até tarde e estava dormindo em sua cama fofinha e quentinha. Não em um caixão a sete palmos do chão.

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