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  Chego em meu apartamento toda encharcada por conta da chuva e me surpreendo ao ver minha mãe me esperando.

-Aonde você estava Anne? - fala e se assusta ao ver o estado que eu me encontrava. - Por que você está toda molhada? - diz analisando minhas roupas.

-Oi, mãe. Eu fui no cemitério... É... Falar um pouco com a minha vó, acabou que começou a chover e eu acabei assim. - falo tentando ocultar alguns fatos.

-Meu Deus, você ficou louca? Anne, você saiu de um coma, imagina se você pega uma pneumonia com essa chuva. - diz e sai da sala, voltando logo em seguida com uma toalha.

-Eu tô bem ok?-falo a encarando. - Eu tô ótima. - Sorrio ao lembrar de Noah.

-Você realmente estava no cemitério? Você tá muito sorridente... - fala desconfiada.

-Eu encontrei com ele lá... - falo e ela me olha espantada. - Mas fica tranquila, eu nunca mais vou ver ele. - sorrio triste.

-Você sempre fala isso, mas sempre acaba descumprindo isso. - diz revirando os olhos.

-Mãe. - começo um pouco insegura. - A gente acabou se beijando... - falo e ela me olha espantada.

-Eu não acredito, Anne. Não acredito que você fez isso. - fala andando pela sala.

-Só que foi mais uma forma de me despedir dele definitivamente. - ela me olha confusa. - Noah vai ser pai. - falo respirando fundo.

-Não me diz que você está grávida? Anne! - diz e eu sorrio.

-Não mãe, Charlotte está grávida. Ela veio pessoalmente dar essa notícia. - falo sem ânimo.

-Meu Deus, eu sinto muito por isso... - diz se aproximando de mim. - Como você está com isso? - pergunta.

-Eu me sinto um pouco destruída, mas eu estou mais com a consciência pesada de ter beijado ele. Mas o Noah também não se importou em isso acontecer... Ele disse que ainda me ama. - falo e ela me olha atenta. - Eu amo ele, mãe. Mas eu não posso fazer mais nada. Eu só preciso tentar superar que tudo acabou.

-Ai, filha. Isso é complicado. Só fique longe dele, porque ele vai ter um filho e você sabe o que é não ter um pai presente. - fala e eu sinto o soco de suas palavras. Eu sei que só com esse exemplo eu conseguiria levar suas palavras à sério.

-Eu não sei se conto isso, mas meu pai apareceu. - falo e vejo ela adotar uma pose tensa. - Ele apareceu no estúdio. - falo e ela parecia pensativa.

-O que ele queria? - diz friamente.

-É... - não sabia se dizia realmente isso. - Ele vai se casar. - a mesma me olha surpresa. - Ele veio me pedir perdão e queria que eu fosse em seu casamento... - falo.

-Era de se esperar que ele um dia apareceria né, depois de tantos anos... E você? Como você se sentiu com isso? - pergunta repousando as mãos em meu ombro.

-Eu não sei, foi muita informação para o dia de hoje. Charlotte grávida, meu pai aparece depois de tanto tempo, eu e Noah, dia do meu aniversário de namoro com ele... Foi muita coisa para um dia só. - digo cansada e sorrio ao olhar para ela. - Mas não se preocupe comigo, porque eu quero saber de você... - ela me olha confusa. - Mãe, nunca tocamos nesse assunto, desde quando eu tinha dez anos. Agora que eu passei por uma experiência perto de uma traição, eu sei que o que eu passei nem chega aos pés do que você passou, porque você tinha toda a bagagem de ter uma filha para cuidar, contas de uma família para pagar sozinha, ainda ter que ser forte e não demonstrar fraqueza diante à essa situação...

-Eu acho que cada dor é muito individual, filha. Você passou por isso, eu passei por outra... Cada uma com sua dor. - sorri. - Mas uma coisa que é semelhante entre nós duas, é que a gente não quer demonstrar o quanto se sente mal com tudo isso. - assinto.

-Eu queria pedir desculpas para você... - falo com algumas lágrimas em meus olhos.

-Porquê?

-Eu na época, sentia raiva por meu pai não morar mais com a gente, eu poderia ter sido mais compreensiva... - respiro fundo, minha mãe estava imersa em pensamentos e no que eu dizia. - Eu sempre olhei para a minha dor e não para das pessoas e caramba, olhando daqui agora. Você foi forte. Eu admiro isso em você, porque sem ajuda de ninguém, a não ser um pouco da minha vó, mas logo em seguida a gente viveu o luto de perdê-la, as coisas aconteceram na nossa vida, tudo ao mesmo tempo. Foi tão complicado, eu sentia tão confusa quanto à tudo que acontecia. Mas em meio a todo esse caos que foi a nossa vida, você mãe. - falo pegando em suas mãos. - Você foi uma das pessoas que mais me ensinou sobre nunca desistir e lutar por tudo que é mais importante para nós. E a gente sempre teve uma a outra. - sorrio e ela chorava. A abraço e a mesma me envolve em uma abraço forte.

-Eu amo muito você, tá bom minha menina?! - sorrio desfazendo o abraço.

-Eu também te amo muito! - seco suas lágrimas. - A única certeza que eu tenho agora que, talvez almas gêmeas não existam só em relações amorosas, mas também em relações afetivas de mãe e filha... Porque eu sei que você é a minha alma gêmea, você sempre está aqui comigo, em todos os momentos. - sorrio deitando em seu ombro.

-Eu também acho. - sorri. - Eu sempre estarei aqui, assim como no dia em que você deu seu primeiro beijo e ficou receosa de contar para mim, mas depois viu que tinha uma melhor amiga a esperando aqui. Porque eu não quero ser apenas a sua mãe, como a sua melhor amiga, cúmplice de todas as coisas boas e não tão boas assim. - diz e eu sorrio, dando um beijo em sua bochecha.

  A minha mãe era a pessoa mais importante que eu poderia ter em minha vida, ela era a minha companheira para todas as horas, a única que quando todos virarem as costas para mim, ela ainda estará lá, me apoiando e me ajudando a me reerguer. Ela era aquela mulher forte, batalhadora que corre atrás e não precisava de ninguém para mostrar o quão poderosa ela era. Ela era uma mulher incrível.

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