Quinta-feira. Esse foi o dia que minha mãe marcou de falar com os pais de Bryan para decidirem o que fariam a respeito do ocorrido. Minha mãe demonstrou tranquilidade como sempre. Eu, por outro lado, me senti afoita apenas ao relembrar do dia em que "dei" meu primeiro beijo. Yolanda disse que ele não havia sido válido já que fui obrigada a isso.
- Então é na quinta que o castigo de Bryan será decidido? - Marcos perguntou, empurrando com as mãos uma gigante bola de neve até o que parecia ser a "cabeça" do boneco que fizemos.
- Sim.
- Aleluia! - exclamou Yolanda, erguendo a "cabeça" e a pondo sobre o corpo do boneco de neve.
- E você não quer ir, estou certo? - Jacob argumentou e eu o olhei surpresa.
- Como você sabia? - coloquei meu cachechol no boneco.
- Sua voz. Sem falar que você também andou meio...estranha essa semana.
- Eu estava estranha?
- Bem...
- Você só não comeu nada durante os recreios, ficou com cara de paisagem durante as aulas e foi uma das primeiras a morrer na guerra de neve que a gente fez. E olha que de nós três você é a que tem os reflexos mais rápidos. - minha amiga respondeu no lugar de Len. - Eu não te entendo, Bea! O garoto te machucou e você não quer que ele seja punido?!
- Talvez seja porque eu não gosto de conflitos. Na verdade, se vocês não tivessem visto a mim e ao Marcos naquele dia, nem sei se eu teria contado tão rápido assim para minha mãe sobre o que aconteceu.
- Eu posso te amar e ser sua melhor amiga, Beatriz. Mas às vezes eu não te entendo. É serio.
- Eu sei que o que ele fez é errado, mas ainda me sinto culpada por querer castigá-lo.
- Tente ver as coisas por esse lado: -Jacob pôs dois botões negros que simbolizavam os olhos do boneco de neve - Se Bryan não for castigado, talvez ele faça o mesmo com outras garotas. Quem sabe se no futuro, ele não será capaz de fazer coisas piores?
As palmas de Marcos quebraram meu silêncio reflexivo.
- Finalmente você disse algo inteligente e digno de um troféu, meu amigo.
- Você pode até ser inteligente e ir bem nas provas e trabalhos, mas por acaso você consegue soar tão romântico e poético quanto Jacob quando ele toca violino? - a voz de Yolanda saiu tão raivosa que se ela fosse uma espada, com certeza a cabeça de Marcos teria sido decepada.
-O-obrigada, Yolanda. Eu acho... -Jacob arrumou o gorro e guardou ambas as mãos no bolso da calça. Seus olhos miraram a grama coberta por neve.
Tentei ocultar a risada, tapando os lábios com a mão. Marcos por mais que tivesse levado uma surra verbal, se encontrou no mesmo estado.
-Ah, por acaso sexta-feira não é o aniversário da Lizzy? -Yolanda que também ficou igual a um morango, desviou o assunto.
-É sim. Ela vai fazer uma pequena festa no fim da tarde. -Jacob respondeu. -Lizzy quer um lírio.
-Ela deve ser bem difícil de agradar já que mesmo a nossa cidade seja o lar das flores, nessa época não encontramos muitos dessa espécie por aqui.-Marcos comentou.
-Pois é. E se eu não conseguir, terei que pagar uma prenda e Lizzy não pega leve quando o assunto são prendas.
-Eu acho que vi uma floricultura no dia em que procurávamos pelo seu irmão, Len. -falei.
-É sério? Por acaso você poderia me levar lá quando eu for comprar o presente da Lizzy? Só se não for te incomodar.
-Claro que não vai me incomodar. Podemos ir depois da escola, o que acha? -sugeri e ele aceitou. -Combinado então.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Cidade dos Campos Floridos
Teen FictionBeatriz e sua mãe Rosemery se mudam para Flowerville para finalmente realizarem o sonho de seu pai. Além de novas amizades, aventuras e paixões, as duas encontram um lugar para enfim chamar de lar. "Descobri que uma família não possui apenas pessoas...