O Caso Armin não ficou muito tempo em repercussão. O dinheiro da Sra. Mama deu um jeito em toda publicidade que aparecia o rosto doce e otimista de Armin com seu sorriso infinito. Logo, ele virou apenas uma história passada de boca a boca até mesmo dentro do internato, meses depois ninguém tinha certeza se realmente era verdade. Armin foi eternizado, porém não por seu sorriso e bondade, e sim, por contos fantasmagóricos que eram interpretados por adolescentes em volta de uma fogueira noturna. Diziam que o garoto que morreu no riacho daquele internato vinha a noite assombrar as crianças e jurar vingança à não sei quem, e por alguma razão duvidosa começaram a surgir relados de crianças que viram ele ao entardecer próximo a água.
Era uma tarde de quarta, meu semblante não passava de cansaço brilhando em suor. Eu olhava para os lados procurando alguma motivação para continuar arrancando as ervas daninhas do jardim atrás daquele lugar horroroso que chamavam de internato.
Vejo Emma saindo pelas grandes portas da frente agasalhada e levando uma pequena mochila. A menina já quase mulher estava nos seus 16 anos. Seus cachos alaranjados ficavam mais escuros com o tempo e estavam compridos até o meio de suas costas. Ela me lança um olhar furtivo antes de entrar em um carro prateado que deveria ser de um taxista particular. Acompanho com o olhar aquele carro se distanciando cada vez mais pelo horizonte rodeado de árvores até sumir dentre algumas.
_Ei, garoto! - A voz áspera do zelador me chama a atenção e me volto para ele rapidamente. _Não temos o dia todo!
_Desculpe, senhor. - Me apresso e começo a procurar por outras ervas daninhas.
_Olhando a garota de novo, não é? - Ele me olha com um sorriso nos lábios.
_Apenas curioso. - Endireitei minhas luvas e olhei em volta, prestando atenção em nada além dos meus pensamentos. _ Não sei onde vai com tanta pressa toda semana.
_Ela trabalha para dona do internato, coisa boa não é. - Sua testa enruga ao mirar em direção onde o carro sumiu.
Concordei apenas com um aceno de cabeça. Começo a trabalhar em alguns pequenos matos que crescem perto dos meus pés e sinto aquele sentimento de que algo estava errado. Com os pensamentos agitados e as mãos que suavam de baixo das luvas, me peguei pensando outra vez na menina e em momentos que passamos juntos, como também nas coisas que ela podia estar passando esses meses todos sozinha. Já não sei se o que sinto é preocupação com Emma ou, só talvez, eu possa estar realmente gostando dela.
_Pegue mais para lá, garoto. - O zelador me despertou dos pensamentos e me indicou com o dedo os fundos perto do carvalho. _Está cheio dessas pestes no fundo. Deixa que eu termino por aqui.
_Certo. - Concordei com voz baixa e segui para os fundos do internato carregando um grande saco preto cheio de ervas daninhas arrancadas brutalmente da terra.
Abaixo do grande carvalho, que resplandecia com um verde vivo e majestoso que apenas a primavera poderia oferecer para aquela velha árvore, estava o pequeno
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_Ossos o ofício. - O rapaz dizia no telefone espremido contra sua orelha. _Se vira e me trás logo essa merda.
_Adrian! - A mulher faz um ronrono com a garganta logo após chamar a atenção do ajudante.
Ele faz um gesto para ela esperar um pouco mais e sai da sala.
O homem estava tentando falar com a empresa já havia 12 minutos. Várias vezes acabava soltando alguns palavrões e era repreendido por Elizabeth. É claro que eu era pontual, afinal ele estava usando meu telefone e gastando meu dinheiro. Tiveram problemas com o gravador e estavam buscando conseguir um substituto da fábrica, no entanto o assistente desajeitado acabou por esquecer de carregar o celular dele e teve que usar o meu emprestado.
_ Me desculpe o transtorno, Sr. Aiden. - Elizabeth coloca alguns de seus dedos entre as sobrancelhas e o polegar na têmpora, apertando com força como se fosse resolver o problema caso apertasse mais e mais.
_Por que não o demite de uma vez? - Falei sem remorso algum. _Está só te trazendo estresse. Um peso.
Ela me olha indignada, mas logo aceita o comentário, respira fundo e responde sendo breve e direta.
_Ele é meu namorado.
Não pareço surpreso, por menos decepcionado com algo que não me interessa, mas que por sua vez era sim um fato questionável. Isso explicava muita coisa.
_Isso explica muita coisa. - Concordei com meus pensamentos procurando por algo mais interessante para prestar atenção.
Meus dedos tamborilavam sobre a madeira do braço da poltrona onde eu estava acomodado.
_Sr. Aiden, o senhor já esteve em algum relacionamento com alguém? - A bela moça cruza novamente suas pernas e se inclina mais perto para me ouvir, prosseguindo com a entrevista sem o gravador.
_Ah, Sim. Preste atenção nesse parte, pode ser interessante para sua matéria. - completo com um sorriso vago e irônico, como se me lembrasse de uma piada engraçada e antiga.
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Um monstro para cada criança
TerrorA história contada pelo Sr. Clay relata uma infância traumática e assustadora. Quando pequeno, não sabia diferenciar os monstros reais com os apenas de sua cabeça. As coisas pioraram após perder a sua mãe em um acidente desastroso e ser mandado para...