O sol está prestes a rachar minha cabeça ao meio, mesmo usando um chapéu de vaqueiro que tende a cair nos meus olhos, de uma cor pink berrante. Quero estrangular Gabe, mas ela está do meu lado, em cima de um cavalo cinzento, enquanto estou grudada em Stela, uma égua branca. Os estábulos já ficaram para trás, e agora estamos rodeadas de árvores.
Acordei às seis da manhã, com uma prima fanfarrona batendo palmas.
—Vamos, vamos -ela fez cócegas nos meus pés e grunhi como um lobo. —Os cavalinhos estão esperando pela sua bunda.
O caso, é que não, não estavam. Sequer foram selados quando chegamos. Mas isso não foi um problema pra Gabe, que decidiu me ensinar a selar um cavalo de última hora. Estava até animada com isso, até chegar um cara, alto, forte, mas não musculoso, com os cabelos no ombro, tão loiros que cegavam sempre que o som batia, com os olhos mais lindos que já vi, verdes como as folhas da fazenda. Um tipo de Tamlin brasileiro.
—Leo -Gabe acenou quando o viu, carregando fardos de feno para o estábulo. —Estava mesmo te procurando. Essa é minha prima, Sol -ela apontou pra mim, sorrindo como um leão prestes a dar o bote.
Entendi no mesmo instante o que ela queria com aquilo. Não, não havia entrado numa máquina do tempo onde Gabe era um doce. Ela continuava ardilosa. Só que dessa vez me jogando pra cima do funcionário da fazenda.
—Oi, é um prazer -disse Leo, com a voz sorridente, mesmo que não sorrisse. Isso sequer era possível? Apertei sua mão, enquanto a outra segurava o chapéu pra longe dos meus olhos.
—Você cuida dos cavalos? -perguntei, apontando para as baias. Ele assentiu, olhando por sobre o ombro. Mesmo sendo cedo, o sol já o fazia transpirar, e o peito e as costas da camisa estavam molhadas.
—Eu diria que o mais próximo que cheguei deles é levar comida e água e selar -respondeu ele, olhando para Gabe e para mim. —Vocês vão cavalgar?
Não sei porque, mas a maneira como ele disse, mais a expressão maliciosa de Gabe pra mim, me fizeram corar.
—Vamos sim -respondeu ela, inclinando a cabeça pro lado, os cachos presos balançando. —Você pode ensinar a Sol a selar a Stela? Vou fazer o mesmo com o cavalo do meu pai.
Leo olhou de volta pra mim, e algo, juro que algo reluziu nos olhos verdes.
—Claro. Vamos lá, eu te ensino -e um fantasma de sorriso atravessou seu rosto.
O segui, olhando por sobre o ombro, enquanto mostrava o dedo médio pra Gabe, que riu baixinho.
Foi relativamente fácil selar Stela, mas o medo dela dar um coice em meu nariz ainda era grande. Mas Leo foi simpático e disse que eu precisava deixá-la me cheirar primeiro, me conhecer. Depois disso foi interessante e até divertido. Leo cuidou das fivelas, enquanto eu tentava me equilibrar acima dela. A altura dali até o chão era alarmante, coisa que me daria dor de barriga, se Leo não tivesse guiado a égua pelos primeiros metros, e andou comigo em cima dela por um tempo ao redor dali.
Gabe, a safada que era, que levaria um belo tapa no final do passeio, ria baixinho enquanto cavalgava Lenny, o cavalo do pai. Cinza como uma tempestade se formando.
—Você pegou o jeito rápido -dissera Leo, dando um tapinha em Stela. Eu sorri com o elogio.
—Aprendo rápido -respondi. —E não é tão ruim quanto eu achava.
—É uma liberdade que adoro ter -ele olhou pra mim, dando uma piscadela, e soltou as rédeas de Stela. —Não se esqueça, segure firme, e não tenha medo. Stela é calma, não vai dar problemas.
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Corte de Sombras e Mundos
RomansaOBRA INSPIRADA EM ACOTAR DE SARAH J. MASS Numa festa de casamento, a última coisa que você espera é dar de cara com um personagem que não existe na vida real. Quando isso acontece com Sol, no casamento de sua prima, é só o começo de coisas estranha...