Capítulo 21

94 22 386
                                    

Estremeci violentamente quando os flashes da lembrança vieram... Meu pai sobre meu corpo, esmagando meu pulso, seus olhos cheio de ódio e nojo, sem um pingo de pena ou remorso. Os gritos que preenchiam o ambiente pareciam de outra pessoa, ou de uma criatura ferida. Senti minha garganta arder e as lágrimas quentes escorrerem por meu rosto contorcido de dor.

Acordei coberta de suor, arfando. Coloquei uma mão no rosto, tentando me acalmar. Meu corpo tremia violentamente por medo e frio.

Seth se sentou ao meu lado, preocupado e assustado.

A memória me pegou de surpresa. Já fazia alguns meses que eu não tinha esses pesadelos violentos. Essas lembranças revividas em sonhos...

Me senti impotente enquanto eu tentava me acalmar. As lembranças eram tão vívidas que eu podia sentir aonde meu pai desferira cada golpe. Tapei o rosto com as mãos, tentando, em vão, conter as lágrimas e os soluços.

- Sam... – Seth encostou cuidadosamente em meu rosto, mas eu o afastei com força, o medo irracional de que ele iria me machucar me cegando. Me levantei da cama e saí do quarto cambaleante, mas ele me seguiu.

Entrei no banheiro e desabei, porém seus braços me ampararam antes que eu atingisse o chão.

Seu rosto se contorceu quando eu levantei meu olhar para ele. Tentei me levantar novamente e alcançar a cabeceira de remédios, mas não consegui me manter em pé.

Entendendo minha intenção, ele se levantou e abriu a portinha, olhando rapidamente para mim quando eu concordei com a cabeça, confirmando que aquele era o frasco certo. É o único.

Seth me entregou o remédio e me ergueu, para que a gente fosse buscar água na cozinha, mas o impedi. Me apoiei na pia e enchi a boca com a água dali mesmo.

Descansei minha cabeça no mármore, sobre minhas mãos. Agora é só esperar.

Pouco a pouco meu corpo foi amolecendo, mas não o suficiente para me fazer cair novamente.

Seth afagou minhas costas e me ajudou a voltar para o quarto, me sentando na cama. Voltou ao interruptor e acendeu a luz.

- Você tá bem? – seus olhos estavam arregalados e ele parecia assustado.

Concordei fracamente com a cabeça.

- Desculpa. Não era pra você ter visto isso – sorri um pouquinho, apoiando meu rosto em minhas mãos, onde meus cotovelos estavam apoiados em minhas pernas.

- O que houve? – se sentou ao meu lado.

- Eu te machuquei? – perguntei, me voltando para ele, percebendo as marcas avermelhadas de minhas mãos em seu peito.

Ele suspirou pesadamente.

- Não muda de assunto, por favor – ele segurou minha mão e eu estremeci, quase o empurrando novamente, mas como o remédio já está começando a fazer efeito, eu me contive. O medo gritante estava dando lugar à um tipo de torpor.

- Bom... Acho que eu não preciso dizer o óbvio, não é? Eu tive uma crise de pânico e ansiedade.

- Você parecia estar tendo um pesadelo – ele disse, afastando meu cabelo da minha testa suada. – Você acordou gritando, Sam. Você estava com tanto medo que começou a chorar! Você me olhou com tanto medo que eu achei que eu tivesse feito alguma coisa – seu rosto se contorceu.

TransiçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora