Chapéu Seletor - 1991

728 30 6
                                    

Aporta abriu-se. E apareceu uma bruxa alta de cabelos negros e vestes verde-esmeralda. Mas ele já a conhecia.
Tinha o rosto muito severo e Harry sabia que não devia aborrece-la.
— Alunos do primeiro ano, Profa. Minerva McGonagall  — informou Hagrid.
—Obrigada, Hagrid. Eu cuido deles daqui em diante.
Ela escancarou a porta. O saguão era tão grande que teria cabido a casa de seus padrinhos inteira ali.
paredes de pedra estavam iluminadas com archotes flamejantes como os de Gringotes, o teto era alto demais para se ver, e uma imponente escada de mármore em frente levava aos andares superiores.
Eles acompanharam a Profa. Minerva pelo piso de lajotas de pedra. Harry ouviu o murmúrio de centenas de vozes que vinham de uma porta à direita – o restante da escola já devia estar reunido. Mas a Profa. Minerva levou os alunos da primeira série a uma sala vazia ao lado do saguão. Eles se agruparam lá dentro, um pouco mais apertados do que o normal, olhando, nervosos, para os lados.
— Bem-vindos a Hogwarts — disse a Profa. Minerva. — O banquete de abertura do ano letivo vai começar daqui a pouco, mas antes de se sentarem às mesas, vocês serão selecionados por casas. A Seleção é uma cerimônia muito importante porque, enquanto estiverem aqui, sua casa será uma espécie de família em Hogwarts. Vocês assistirão a aulas com o restante dos alunos de sua casa, dormirão no dormitório da casa e passarão o tempo livre na sala comunal.
“As quatro casas chamam-se Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina. Cada casa tem sua história honrosa e cada uma produziu bruxas e bruxos extraordinários. Enquanto estiverem em Hogwarts os seus acertos renderão pontos para sua casa, enquanto os erros a farão perder. No fim do ano, a casa com o
maior número de pontos receberá a taça da casa, uma grande honra. Espero que cada um de vocês seja
motivo de orgulho para a casa à qual vier a pertencer.
“A Cerimônia de Seleção vai se realizar dentro de alguns minutos na presença de toda a escola. Sugiro
que vocês se arrumem o melhor que puderem enquanto esperam.”
O olhar dela se demorou por um instante na capa de Neville, que estava afivelada debaixo da orelha
esquerda, e no nariz sujo de Rony. Harry, nervoso, tentou achatar os cabelos. Porque não tinha nascido com os cabelos sedosos e baixos como os de sua mãe?
—Voltarei quando estivermos prontos para receber vocês — disse a Profa. Minerva. — Por favor, aguardem em silêncio.
E se retirou da sala. Harry engoliu em seco.
Não queria ir para a Sonserina, Ranhoso tinha sido de lá, e seus pais não gostavam dele.
Então Harry também não gostava.
Queria ir para a Grifinória, igual a sua família. Coragem, lealdade.
Era isso que ele queria.
Olhou à volta, ansioso, e viu que os outros também pareciam apavorados. Ninguém falava muito a não ser Hermione, que cochichava muito depressa todos os feitiços que aprendera, sem saber o que precisaria mostrar. Harry deduziu que era nascida-trouxa, e não sabia como a Selecao funcionava.
Então aconteceu uma coisa que o fez pular bem uns trinta centímetros no ar — várias pessoas atrás dele
gritaram.
— Que di...
Ele ofegou. E as pessoas à sua volta também.
Uns vinte fantasmas passaram pela parede dos fundos. Brancos-pérola e ligeiramente transparentes, eles deslizaram pela sala conversando entre si, mal vendo os alunos do primeiro ano.
Pareciam estar discutindo. O que lembrava um fradinho gorducho ia dizendo:
—Perdoar e esquecer, eu diria, vamos dar a ele uma segunda chance...
—Meu caro frei, já não demos a Pirraça todas as chances que ele merecia? Ele mancha a nossa reputação e, você sabe, ele nem ao menos é um fantasma. Nossa, o que é que essa garotada está fazendo aqui?
Um fantasma, que usava uma gola de rufos engomados e meiões, de repente reparou nos alunos do primeiro ano.
Ninguém respondeu.
—Alunos novos! — disse o frei Gorducho, sorrindo para eles. — Estão esperando para ser selecionados, imagino?
Alguns garotos confirmaram com a cabeça, mudos.
—Espero ver vocês na Lufa-Lufa! — falou o frei. — A minha casa antiga, sabe?
—Vamos andando agora — disse uma voz enérgica. — A Cerimônia de Seleção vai começar.
A Profa. Minerva voltara.
Um a um os fantasmas saíram voando pela parede oposta.
—Agora façam fila e me sigam.
Harry entrou na fila atrás de um garoto de cabelos cor de palha e na frente de Rony, e todos saíram da sala, tornaram a atravessar o saguão e as portas duplas que levavam ao Grande Salão.
Harry jamais imaginara um lugar tão diferente e esplêndido. Era iluminado por milhares de velas que flutuavam no ar sobre quatro mesas compridas, onde os demais estudantes já se encontravam sentados.
As mesas estavam postas com pratos e taças douradas. No outro extremo do salão havia mais uma mesa comprida em que se sentavam os professores. A Profa. Minerva levou os alunos de primeiro ano até ali, de modo que eles pararam enfileirados diante dos outros, tendo os professores às suas costas. As centenas de rostos que os contemplavam pareciam lanternas fracas à luz trêmula das velas. Misturados aqui e ali aos estudantes, os fantasmas brilhavam como prata envolta em névoa.
Seus pais tinham descrito mais de 10 vezes Hogwarts, mas nada do que disseram, foi tão especial quanto ver pessoalmente.
Harry olhou para cima e viu um teto aveludado e negro salpicado de
estrelas. Ouviu Hermione cochichar:
—É enfeitiçado para parecer o céu lá fora, li em Hogwarts, uma história.
Claro que Harry sabia disso mas era difícil acreditar que havia um teto ali e que o Salão Principal simplesmente não se abria para o infinito.
Harry baixou depressa os olhos quando a Profa. Minerva silenciosamente colocou um banquinho de quatro pernas diante dos alunos do primeiro ano. Em cima do banquinho ela pôs um chapéu pontudo de bruxo.
O chapéu era remendado, esfiapado e sujíssimo. Sua mãe faria um feitiço de limpeza tão bom, que ele ficaria novo em folha.
Então, por alguns segundos fez-se um silêncio total.
Então o chapéu se mexeu. Um rasgo junto à aba se abriu como uma boca — e o chapéu começou a cantar:

The Correct Time.Onde histórias criam vida. Descubra agora