Subo as escadas correndo, o celular em minha mão estar aberto na conversa de Alessa e para o meu desespero não há nenhuma mensagem. Aperto os dedos ao redor do aparelho na mesma medida em que acelero meus passos e empurro a porta do andar de seu apartamento. Tudo ao meu redor parece um borrão, minhas mãos tremem e o ar parece rarefeito devido a corrida. Bato em sua porta na hora que a alcanço e espero um segundo antes de me levanta na ponta dos pés para pegar a chave reserva na soleira da mesma. Invado seu apartamento, não preciso pensar muito antes de trancar o local e correr para seu banheiro.
Então eu paro quando vejo a água escorrendo do pequeno cômodo fechado, meu coração me trai e sinto que posso desabar ali mesmo. Ela não faria isso, ela prometeu. Conto os números de trás para frente em minha cabeça enquanto passo por cima da água e abro a porta. A primeira coisa que vejo é seu corpo molhado dentro da banheira e esse é o empurrão que preciso para sair do estopim.
Caio de joelhos e abraço o corpo frio de Alessa enquanto a mesma chora. Não penso. Apenas a puxo para fora da banheira, jogando meu corpo para trás logo em seguida, o que a manteve em meu colo. Solto algumas palavras enquanto a consolo em meu peito, alcanço as toalhas no gancho e passo rapidamente por todo seu corpo antes de embala-la.
A essa altura eu estava encharcada de água. Devido a adrenalina não me dei conta do que ela estava falando antes, mas agora podia escuta bem baixinho:
— Desculpa, desculpa, desculpa
O aperto em meu peito se intensificou. Por um momento me perguntei o motivo da desculpa e não tive coragem o suficiente de olhar imediatamente para seus pulsos. Fecho meus olhos e abraço seu corpo frágil com força. Conto novamente e me preparo.
Lentamente, como a covarde que sou, desço meus olhos sobre seus braços. Alguns eram finos e outros mais grossos, porém todos sangravam, ela tinha se certificado que sangrariam. Pois vejo que em alguns lugares tinha incontáveis cortes, um em cima do outro, tornando tudo uma bagunça só. Não falo nada. Não sei se conseguiria. O nó em minha garganta me aperta tanto que não sei se conseguiria forma uma frase inteira.
Com todo o cuidado, ajudo ela a se levanta e a empurro para fora do banheiro. Ainda mantendo um braço em sua cintura para não cair, me viro para o interior do ambiente. Vejo o sangue no chão, a água levemente manchada de vermelha e vejo a lamina. Jogada no chão como a vilã do filme de minha vida, os pingos de sangue ao redor da mesma faziam reviravoltas em meu estômago. Me viro e saio junto com Alessa em meus braços antes que vomitasse.
A partir dai tudo é um borrão, eu a seco, troco e visto. Limpo cuidadosamente seus braços e os enfaixo com uma tala. Lembro-me de encarar seu rosto enquanto minhas mãos trabalhavam em seus cortes, seus olhos estavam vazios. Como sempre. Ela encarava o chão a sua frente, mas duvido que realmente o via. Termino com o que estava fazendo e me levanto para guarda as coisas, quando volto coloco Alessa na cama e jogo o lençol em sua volta.
Sento em sua frente acariciando seus cabelos opacos escuros. Ela não me encara. Ela apenas olha para um ponto qualquer enquanto sua mente vagueia por ai, não me importo. Somente fico ali, passando minhas mãos por seus cabelos embaralhados, em um determinado momento, entre as dores em minhas costas e carinhos preguiçosos, Alessa cai em um sono profundo, sua respiração se acalma e seu rosto assume uma aparência suave. Linda, essa era a Alessa e ela é maravilhosa.
Saio de seu quarto silenciosamente e fecho a porta. Não vou muito longe, talvez eu tenha andado dois ou três passos antes de cair de joelhos e chorar no meio do corredor. Coloco a mão na boca impedindo um soluço feio de sair alto demais, não sei quanto tempo fiquei parada ali até ter forças o suficiente para enfrentar o resto da semana.
VOCÊ ESTÁ LENDO
E no final ela disse sim
Short StoryEra 31 de dezembro. - Sim ou não? A cada ano ela piorava. - Não Ela suspirou. - Okay - Okay.