Ana Lívia não conseguia saber com precisão quanto tempo eles estavam conversando, mas podia jurar que era o maior tempo que eles haviam passado juntos sem quererem arrancar a cabeça um do outro. E ela não estava pensando nisso de uma forma exagerada. Eles realmente já quase arrancaram a cabeça um do outro em uma briga que tiveram no ensino fundamental, um agarrando no couro cabeludo do outro, um ódio mortal transbordando dos olhos castanhos dos dois.
Mas, dessa vez, eles estavam em uma conversa realmente civilizada, algo que se ela pudesse, faria um registro para poder esfregar na cara de Cecília quando ela contasse a história, mas a amiga teria que se contentar apenas com a versão detalhada da conversa e era por isso que Ana usava de toda a sua concentração para absorver tudo que Chanwoo falava para ela.
Até o momento ela havia descoberto muita coisa sobre o garoto coreano à sua frente, como por exemplo, ele realmente era coreano e não descendente de coreanos como ela sempre achou. Nascido e criado até os 8 anos de idade na Coreia do Sul, Chanwoo havia passado maus bocados quando entrou na escola porque não sabia falar direito a língua e mesmo depois de anos, ele ainda se enrolava em algumas palavras. O que levou a garota a desconfiar se ele realmente estava falando a verdade, já que o que ele mais fazia nessa vida era discutir com ela. E em sua opinião, ele tinha uma dicção e eloquência impecáveis.
Apenas para que ela acreditasse nele, eles fizeram uma rápida disputa de trava-línguas e para a surpresa da garota, ele havia errado todas as rodadas, o que causou uma crise de risos em Ana Lívia e acabou o arrastando também, os dois morrendo de rir a plenos pulmões pelo quarto.
Chanwoo também não ficava menos surpreso durante a conversa, havia descoberto mais da garota que adorava irritar do que ele sequer poderia imaginar. Diferente do que ele via e ouvia pelos corredores da escola, Ana Lívia não queria de forma alguma seguir uma carreira esportiva, mesmo sendo a melhor atleta de lá. Ela queria mesmo era entrar na faculdade local para cursar produção editorial, sendo um dos seus objetivos poder montar uma editora própria no futuro. E ele achou genial.
— Hm... Chanwoo? — a garota chamou o menino, que estava deitado na cama espaçosa depois de quase morrer de tanto rir com um dos casos que Ana Lívia o havia acabado de contar. Ele levantou minimamente a cabeça, apenas o suficiente para que a garota avistasse seus olhos puxados. — Tem uma coisa que a Ciça me falou hoje e queria saber se os meninos falam sobre isso com você...
Ana Lívia de repente ficou com vergonha de trazer o assunto à tona, mesmo que ela não acreditasse que fosse verdade, desde que Cecília havia jogado a semente da dúvida no colo dela e depois dessa sessão de paz com o asiático, Ana começava a suspeitar de que havia uma porcentagem de verdade nas palavras da amiga.
— O que? — ele incentivou, se apoiando em um só braço e ficando de lado, virando na direção de Ana Lívia. O movimento fez com que o moletom cinza que ele usava se levantasse, deixando o cós da calça, assim como parte da pele de sua barriga definida, exposta.
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Girassol | ORIGINAL
RomantizmQuatro anos e meio depois que a vida de Ana Lívia virou de ponta cabeça, a mineira tenta sobreviver a sua maneira, cuidando sozinha de seu filho, Dudu, e trabalhando em um emprego que pode não ser dos seus sonhos, mas supre seu desejo em permanecer...