Capítulo 29

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    Me despedir não é fácil. Não quando Gabe ainda está passando pela fase da tristeza absoluta por causa de Íris. Que mandou mensagem a semana inteira para ela, pedindo perdão, mas que não tinha outra opção.

—Sempre há opções - murmurou minha prima, se jogando do meu lado na cama ainda naquela manhã, mostrando o telefone pra mim, e logo o jogou em cima da poltrona. —Talvez seja culpa minha. Forcei a barra.

    Foi uma das coisas mais complicadas na minha vida ver Gabe assumindo a culpa de algo que era inocente. Foi ainda mais demorado a convencer disso. Mas agora ela está triste por outra razão, enquanto me ajuda a carregar as malas para nosso carro, estacionado na frente do chalé, amassando a grama sem nenhuma elegância.

   Minha mãe está rindo de algo que minha tia fala. Meu tio está abrindo o porta-malas.

—Podiam ficar mais um mês - minha tia fala, sorrindo suave para mim, enquanto tira a mala da minha mão e me abraça.—Agora a fazenda vai ficar tranquila por uns meses.

    Eu imagino. O campo onde havia um milharal quilométrico, esta vazio, possibilitando a vista de montes e terra verde de fazer qualquer um chorar.

—Eu preciso arranjar um trabalho, tia - zombo. —Viver desempregada não é meu sonho de consumo.

    Ela suspira, me soltando.

—Mas pense bem no assunto, se não arranjar nada. Talvez tenha algo aqui nas terras.

—A Sol arando terra? - ri Gabe, enfiando as malas no porta-malas. —Com essas mãozinhas delicadas? Duvido!

—Ei! - eu a belisco na barriga. —Sei muito bem como... arar - eu falo, incerta, e ela ri, os olhos brilhando de diversão.

—Então na próxima você coloca esse dom em prática, hein?

   Um convite. Pra voltar. Talvez eu volte mesmo, se não arranjar nada pra fazer na cidade. Meu telefone tem vibrado toda noite com mensagens de Thalia, perguntando sobre mim. Mas ando a ignorando. Talvez seja um reflexo protetivo, ou só porque não quero explicar o que aconteceu com Gabriel, sequer quero ouvir o nome dele de novo. E consigo até imaginar o que Thalia teria pra falar.

—Bom, então é isso - lamenta minha mãe, com a voz embargada, olhando para a fazenda.—Foi uma ótima estadia, Susi, de verdade. Há anos não me divirto assim.

—Suas amigas dos jogos vão ficar sabendo disso - solto em um murmúrio pra ela, e ela ri.

    Minha prima me abraça, nosso corpos grudados. Esta calor, e logo começamos a transpirar.

—Vou sentir muita saudade de você - ela fala, e sinto lágrimas ardendo nos olhos.

—Eu vou mais.

—Não. Eu vou - ela se afasto, enxugando minhas lágrimas. Em voz baixa, ela completa: —Obrigada por tudo, Sol. Você fez meus dias serem completos de novo.

    Eu digo o mesmo a ela, que lhe tira um embaçar de olhos, e um sorriso triste e genuíno. Sinto o mesmo. Meus dias, completos, vivos. Já me senti assim antes, quando Azriel voava pela Corte Noturna comigo nos braços, apontando e falando o que era cada lugar. Me senti em casa da mesma forma como me sinto agora, olhando minha família ali, e mesmo que tenha passado mais tempo com Gabe, os amo imensamente. Por fazer minha mãe feliz, por a acolher, por nos amarem no mesmo nível.

   Por isso é dolorido abraçar meus tios, ouvir a dica do meu tio sobre colher frutas, já que eu fiz várias despencar de uma árvore que eles têm no quintal. Mal tive tempo de me envergonhar antes das amoras caírem na minha cabeça como uma chuva, se amassando com um choque. No fim, estava coberta de vermelho e roxo, rindo, com Gabe comendo uma frutinha do meu cabelo.

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