Asas e Ossos

     O vento gelado sussurrava entre ás árvores, a neve era espeça fazendo a caminhada ser ainda mais difícil, lãs grossas com varias peles remendadas uma as outras que um dia cobriram o corpo de alguns linces negros; Esquentavam a pele fria de Sor. Calian Mongrane. Por baixo das peles escuras de lince, uma armadura de malha com elos finos ficava por cima de uma camada de couro negro derretido, assim como os calções também negros feitos por grossas camadas de couro derretido por cima de uma lã felpuda de algum outro animal, as luvas eram feitas com couro de carneiro derretido e certa quantidade de pelo forrava o lado de dentro. As botas assim como o restante do vestuário eram negras feitas também de couro derretido junto com a pelagem escura da parte de dentro. Seu rosto coberto por uma manta grossa evitava que as palavras congelassem antes de sair de sua boca.

     - Espero que valha a pena. – Disse Sor. Calian enquanto lutava para não se atolar na quantidade exuberante de neve sobre seus pés.

     - Velejar nesta tempestade e ainda cavalgar de baixo da neve não é uma atitude muito prudente Sor. – O jovem que o acompanhava estava assim como Sor. Calian bem agasalhado, digo, com uma quantidade bem menor de peles escuras e caras, mas algumas mantas grossas porem um pouco maltrapilhas. – Ainda mais sem nenhuma certeza de que o verá. – O garoto não tinha mais de quatorze anos e puxava Sor. Calian por debaixo dos braços para desatolar o homem que por fim ficara até a cintura coberto de neve quando pisou em falso no gelo.

     - Obrigado, - Disse Calian Mongrane a se ver livre das garras do inimigo branco que o prendera. Era um homem esbelto, e não muito velho, mas as roupas pesadas que o protegia do frio fazia com que seu peso dobrasse, ou talvez multiplicasse por três. – Eu tenho certeza que o verei meu filho. Oh se tenho certeza! – Afirmou olhando para o garoto encontrando apenas os olhos para fora do manto que cobria o rosto do jovem.

     - Logo ali Sor. – Afirmou o garoto apontando para a silhueta gigantesca do castelo que saia do esconderijo de nevoa grossa. Certo desconforto triste pairava no rosto do jovem, como se outrora presenciasse algo que nenhum homem deveria presenciar.

     O castelo de Stalfast se encontrava em um despenhadeiro gigantesco, suas paredes pareciam se fundir com as rochas montanhosas. O castelo era posicionado naquela região estrategicamente, seria impossível invadi-lo pela entrada traseira, caso o castelo tivesse uma. Em suas costas, apenas o abismo se encontrava em sua queda que não seria possível dizer o quão demorado seria, pois nunca conseguiram ter tal ideia. As paredes eram acinzentadas em algumas partes, e também com certo toque de marrom que fazia uma sinergia completa com as rochas da montanha. Não havia pondes, apenas um grande portão feito de aço e madeira entrelaçados, a pintura no brasão quase totalmente coberto por uma camada grossa de neve, dava indícios do que Sor. Calian esperava encontrar no local.

     Um brasão negro com bordas prateadas ostentava em seu centro um dragão branco com as patas dianteiras unidas em asas gloriosas.

     Ao se aproximar da entrada do castelo, o portão desceu. A parede feita para aguentar uma invasão milenar se colocava diante dos dois homens de forma magnificamente grandiosa e esplendorosa. Quando passaram por cima da porta gigantesca, um pequeno grupo de tendas se espalhava por uma espécie de salão a céu aberto. O senhor daquele castelo, misericordioso, cedera parte de sua residência para que os poucos que habitavam em sua volta não morressem de frio ou de fome durante o inverno. Apesar de não ter um teto acima das tendas, era possível notar a diferença de temperatura do lado de dentro do portão.

     O chão de forma inesperada se estremeceu um pouco de baixo de seus pés. Sor. Calian permitiu uma espécie de sorriso em seu rosto, pairando por baixo de uma cicatriz que atravessava os lábios de forma vertical, indo de seu queixo até seu nariz defeituoso.