Melhores amigos para sempre?

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(recomendo escutar antes de ler)


"Não existe esse negócio de melhores amigos para sempre."

Foi uma grande dúvida, de fato. Eu nem sabia o que fazer com essa informação. Na época, devo ter acreditado. Hoje em dia não, mas na época com certeza.

Aí passaram vários anos e cheguei naquela tarde. Estava chovendo. A caixa postal do Josh cheia e eu chorando feito um idiota porque ele não atendia o celular. Devo ter mandando umas 400 mensagens, chamei por ele em todos os grupos e redes sociais possíveis, mas ele me bloqueou de tudo porque estava mesmo chateado. E eu comecei a chorar mais. Poxa, eu odiava ver ele chateado, especialmente comigo. O que eu ia fazer? Fiquei muito tempo pensando nisso "o que é que eu vou fazer?" Não adianta nada ser um artista rico, famoso e bem-sucedido se seu melhor amigo te odeia. Como é que eu ia viver sabendo que o Josh me odiava? Nunca ia conseguir. Eu amava ele com todas as minhas forças, e não me importo o quão gay você acha que isso é. A verdade é que ninguém entendia o que a gente tinha. Ninguém entendia que não nos beijávamos, não transávamos, não namorávamos, mas nos amávamos muito. E aposto que você não entende isso também. Não estou nem aí.

No dia eu fiquei muito preocupado. O Josh estava na droga da Austrália em uma competição internacional de dança que ele tinha acabado de perder por ter sido desclassificado logo na primeira etapa. Me ligara na noite anterior mal para caramba, falando que se achava um fracassado. Vê se eu posso com uma coisa dessas? Joshua Kyle Beauchamp me ligando e dizendo que era um fracassado? Joshua Kyle Beauchamp. Quis ir até Sydney só para dar uns tabefes na cara dele e gritar um "vai se foder, você é incrível!". Gritei pelo celular mesmo. E depois de dois dias estava ali chorando porque ele não queria falar comigo nunca mais. Era triste. Pensei "é, talvez não exista esse negócio de melhores amigos para sempre", só que eu não queria acreditar nisso. Você acreditaria?

Tomei uma decisão idiota. Minha mãe falou que eu era doido, e a Linsey até me xingou. E daí? Eu precisava fazer aquilo. Arrumei as malas correndo, comprei uma passagem e fui para Austrália. Meu produtor quase me esganou. "Noah, você tem show amanhã! Noah, a sua sessão de autógrafos! Noah, você precisa ir para a sessão de fotos!". No avião eu nem estava mais chorando, mesmo assim tweetei antes de decolar "pfv, n fiquem bravos cmg, n aguento mais ngm bravo cmg. amo ele. amo vcs. vou compensar tudo. show grátis tlvz?". Aí meu produtor se demitiu. Eu era um péssimo artista e um péssimo amigo. Botei os fones e voltei a chorar. E estava chovendo.

Não lembro do voo. Demorou e foi horrível. E a comida era ruim também. Eu nunca tinha ido para a Austrália. Pensei em ligar para a Sav, ou para a Nataly. Deixei para lá, não queria ninguém me vendo com cara de choro. Enfiei o chapéu, o capuz e os óculos. Se eu fosse reconhecido ia ser um caos completo. E saí do aeroporto de Sydney sem fazer ideia de para onde ir, porque eu não sabia onde o Josh estava hospedado. Você me acha estúpido?

"Para onde, senhor?"

"Não sei."

O taxista me olhou como se eu fosse doido. Joguei no Google o nome da competição e mandei ele me levar para lá. O Josh devia estar perto dali. Cheguei no lugar e tinha muito barulho, e muita gente, e muita chance de eu ser reconhecido. Aí eu comecei a chorar de novo. Nem sabia o motivo, acho que é porque eu não dormia direito há duas noites. Ouvi meu telefone tocar no bolso, o Josh estava me ligando. Sentei em um canto com a mala vermelha e atendi.

Debaixo do guarda-chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora