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Ruggero

Achei que estivesse trabalhando.
— Começarei amanhã — continua fria e distante.
— Ok. Estou indo para casa. Fez almoço ou quer que eu leve?
— Estou fazendo. É coisa simples, Ruggero.
— Eu sei. Estou indo agora. Levarei um vinho para a gente — digo e desligo.
A cada provocação dela, eu vou responder com carinho e muito amor. Não é ela que
precisa me provar nada, eu preciso deixar claro que sempre fui o mesmo. Apesar dos
nomes diferentes, o interior é o mesmo.
O almoço não foi o encontro dos sonhos. Eu deveria estar com raiva por ela ter
chegado tão tarde, mas estou ainda mantendo isso entalado na minha garganta. Vou
digerir sozinho, nem para Mike eu contarei.
— Estava delicioso — eu digo recostado na cadeira.
Karol  está em pé, tirando a mesa.
— Obrigada. Não achei que você fosse almoçar aqui.
— Pois é. Decidi de última hora. Vamos sair hoje à noite — completo em seguida.
Karol  me olha intrigada.
— Onde vamos?
— Surpresa — digo e me levanto. Dou a volta no balcão, dou um beijo nela e falo
pertinho do ouvido: — Te adoro, meu amor.
Sinto Karol  estremecer, mas não espero por resposta. Pego Bernardo na
cadeirinha alta.
— Vem descansar com o papai. — Ele se manifesta eufórico e o levo comigo para o
quarto.
Eu e Bernardo acabamos dormindo. Quando acordei com o celular despertando, pulei
da cama e, para minha surpresa, Karol  estava deitada, encolhida no cantinho da cama,
dormindo tranquilamente. É uma imagem muito boa de se ver, parece até pura e inocente,
quem vê nem acredita que é ruim comigo. Pego meu celular e tiro uma foto.
Tomo um banho rápido, visto uma roupa, pego minhas coisas e vou até ela.
— kah  — chamo baixinho. Ela abre os olhos e, meio alarmada, me olha. — Estou
voltando para a empresa. Volto às cinco, e às sete sairemos. Temos que voltar cedo por
causa do bebê.
— Tá bom.
Me abaixo, beijo a bochecha dela e saio.
É assim que vai funcionar. Vou agir como o marido mais romântico do mundo. Não vou

dar brecha para ela me provocar novamente. A noite passada, até tarde fora de casa,
ainda me deixa pirado, mas não vou perguntar nada. Não sei quando eu vou esquecer isso,
só não quero que ela repita, se não, eu saio dos eixos.
Na empresa, eu levei, mais uma vez, uma bronca de Mike  e Miguel. Agustín ficou rindo
apenas. Antes eu era o focado, o determinado, o mais produtivo. Agora, com essa história,
estou muito desleixado. Acabei perdendo um cliente importante, ainda bem que Mike
conseguiu recuperá-lo.
Depois que a reunião terminou, Mike  fez um sinal para mim, e eu o segui até a sala
de descanso. Não podemos mais nos reunir em nenhuma das três salas – minha, de Mike,
ou de Agustín. Valu é quase onipresente, está onde Mike  está, e eu não quero valu sabendo
de nada para não correr o risco de contar para karol .
Chego à sala de descanso, e Agustín está jogado em um sofá conversando no celular.
Assim que entro, ele abrevia a conversa, desliga, levanta rápido e vem bisbilhotar. Mike
fecha a porta com a chave e me encara.
— Novidades? — Vou direto ao ponto, totalmente curioso.
— Sim. Sente-se.
Me sento, e Agustín ocupa o lugar ao meu lado.
A sala de descanso é uma sala de estar. Tem TV, dois sofás grandes, um pequeno
bar que nunca está abastecido – porque sempre roubamos as bebidas daqui – e uma
enorme estante que vai de uma parede à outra com todo tipo de livros sobre finanças e
economia. Valu e Miguel são os que mais usam esse tipo de pesquisa. Eu e os outros
preferimos arquivos computadorizados, mas, às vezes, somos obrigados a pegar algum
exemplar para ler.
Mike  me conta tudo o que eu precisava saber sobre Sérgio. Não vou dizer que saí
daquela sala o mesmo que entrei. Fiquei tão perplexo que perdi o dia de serviço.
Decidi não contar nada para karol . Não sei como ela vai reagir a isso, porque eu
acho que era para ser um segredo. Tive sorte que o detetive que Mike  arrumou deu conta
do recado.
***
Quando cheguei em casa, às cinco, fiquei na frente do prédio, liguei para  karol  e
pedi que ela descesse. Ela veio meio desconfiada segurando Bernardo. Na porta do prédio
está o carro que comprei e, do outro lado da rua, um outdoor. Ela olha primeiro para o
outdoor, onde está escrito a seguinte mensagem:
A vida é minha, mas o coração é seu. O sorriso é meu, mas o motivo é você.
Karol , apenas me aceite.
— Isso é para, sempre que olhar pela janela, lembrar do que eu sinto por você.
Ela desce o olhar para o meu rosto. Estou em frente ao carro segurando um buquê
imenso.
— O que está fazendo? — Indaga, semicerrando os olhos.
— Tentando te reconquistar. Olha só. — Aponto para o carro. — Gostou?
Ela olha boquiaberta para o carro.
— Comprou um carro para mim?
— Você pediu. Lembra? — digo, como se não tivesse importância.
Ela abre um sorriso amarelo e dá de ombros, meio sem jeito. Vejo um vislumbre da
Karol  lá de Angra que era bem humilde e não ligava para essas coisas. E daquela
mulher que me apaixonei. Não queria que ela mudasse.
— Bom… é lindo.
— Que bom que gostou. — Vou para perto dela e dou um beijo nos lábios ainda
assustados.
— Quer sair comigo, karol ? Sou Ruggero pasquarelli, tenho trinta anos e moro nesse prédio.
Trabalho com finanças, sou quase um banqueiro, tenho mãe, irmão e uma cadela chamada
Jane. Sou pai de um garoto lindo e me casei com uma mulher maravilhosa, por quem estou
apaixonado.
Karol  olha para os lados, e eu fico na expectativa. Ela morde os lábios e tenta não
sorrir. Volta a me encarar, e vejo que seus olhos brilham.
— Está mesmo disposto a insistir nisso, não é?
— Estou. Ganhei um ponto?
— Vamos,  Ruggero, entre. Tenho um encontro com meu marido daqui a pouco e preciso
me arrumar — ela diz, tentando parecer durona, mas o sorriso está quase desabrochando.
— E me dê essas flores. — Ela toma o buquê da minha mão e caminha na frente.
Sorrindo de orelha a orelha, eu vou atrás.
Saímos para jantar, lindos e apaixonados (pelo menos da minha parte). Eu vesti um
terno preto, e karol , um vestido que a deixou simplesmente encantadora.
Hoje mais cedo eu encontrei um amigo para pedir que ele fechasse o restaurante só
para nós dois. Ele disse que não podia, mas me deu uma ideia. Ele tem um restaurante,
que está em reforma, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Uma parte do lugar foi organizada às
pressas, e é para lá que levo karol , para jantarmos com a bela vista da cidade
anoitecendo.

****

Gostaram ? Batam a meta é teremos outro ainda hoje  kkkkk

Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora