Separado por alguns metros do estranjeiro e seu show pirotécnico, o barbudo era carinhosamente recebido pela fumaça e o calor das chamas que lamberam sua pele, o assediando sem qualquer acanhamento por invadir o local.
Os dois viventes estavam encarcerados pela destruição na sua volta, do que antes era um lugar cheio de pobres coitados, anônimos que atingiram seu estrelato, apenas por virarem cinzas.
— Que bagunça você fez aqui, hein? - comentava o recém chegado, fazendo uma análise óbvia do que havia acontecido.
- Adoro uma entrada dramática - respondia o Russo, sem deixar implícito a quem deles se referiu.
Dava para escutar o som nas ambulâncias que vinham de longe, os pais carregavam seus filhos no colo, torcendo para que abrissem seus os olhos e não deixassem a última fagulha de esperança deles se apagar.
Drones e naves de resgate voavam aos bandos, como aves afoitas na procura de sobreviventes, a cidade não recordava um terror dessas proporções desde o World Trade Center.
Na rua, postes derrubados com faíscas e vazamentos de gás, a chance de uma reação em cadeia levar a outros desastres ia se tornando mais evidente a cada segundo que passava.
O homem não parecia estar amedrontado, tampouco exitou ao caminhar na direção do centro de toda ameaça, bem onde estava o russo e seu poderoso campo de força.
- Está prestes a cavar sua propria cova - Ivan sorriu por seu atrevimento, confiante de todas as cartas que trazia nas mangas.
- Cadê a pá? - Retrucou de maneira grosseira, bem como um velho rabugento com cara de poucos amigos.
O anônimo se abaixou, juntando um par de fios que se desprenderam da rede elétrica sem qualquer equipamento, exposto as correntes de alta tensão agonizantes sem sequer esboçar uma reação de dor, logo se levanta e continua seu andar, imponente como o herói que chegou montado em seu cavalo para impedir o dragão de destruir o reino.
O vilão engoliu seco vendo aquilo, caía em si do que estava prestes a acontecer, o momento decisivo do qual se preparou por toda sua vida.
Era como se um único indivíduo fosse um risco maior para ele do que o próprio esquadrão que dizimou mais cedo, talvez realmente fosse.
Por mais louco que fosse o russo, sabia bem o porquê dele não reagir ao choque dos fios, bem como o motivo dele estar alí, a verdade era que aquele homem excedia sua loucura em inúmeras vezes, estava diante da fera, a besta que assombrou sua infância em tempos de guerra.
- Nem mais um passo! - Ele retirava duas semiautomáticas do sobretudo, as apontando ao barbudo com a proximidade, ameaçando disparar.
- Ou vai fazer o quê? - os fios eram agitados e chicoteados contra os asfalto, as palavras do russo não surtiram qualquer efeito no ex militar.
- Ah, então é assim? Que se dane! - Ele aperta o gatilho e solta uma rajada de disparos ao oponente, que salta e logo se protege atrás de um carro, ou pelo menos o que restou dele.
- Seu covarde, venha aqui e me enfrente! - Exclama irritado, liberando os pentes vazios de suas armas ao recarregá-las.
- Já vou, docinho! - Ele brincava com a situação, mas só chegou a perceber que uma bala o atingiu de raspão quando sua camisa começou a se tingir de vermelho.
Ivan rodeia a carcaça do veículo para conseguir o ângulo do abate, pronto para atirar no momento que o visse, quando inesperadamente, ele não estava mais alí.
Um barulho veio de trás quando o homem o surpreendeu, cravando os fios elétricos no campo de força e sobrecarregando a barreira de energia até estourá-la, gerando um clarão enorme ao se desfazer.
O russo nem teve tempo para reagir, suas defesas caíram diante de seus olhos quando um soco devastador invadiu sua face, ele era lançado ao chão pelo impacto e antes que pudesse pegar outra arma, se viu imobilizado pelo militar.
Tendo suas mãos seguradas atrás das suas costas, o russo estava rendido as vontades do coronel, que sentou sobre ele e pressionou seu rosto na calçada da rua.
- Me diz, quem te mandou fazer isso? - Ele questionou enquanto Ivan se debatia, tentava inutilmente se soltar.
- Vai pro inferno! - O russo gritava em desespero, ciente do que estava por vir.
O militar puxou os cabelos do russo e afundou sua cabeça na calçada - Responde o que perguntei, Strogonoff.
- Não foi ninguém!! - Ivan começava a tossir pela pancada, uma cratera se formou onde seu rosto beijou o chão.
A insistência dele fez o homem revirar os olhos, insatisfeito pois seu rendido não queria conversar.
Ivan teve seu rosto duas, três ou mais vezes seguidas golpeado contra a calçada, a manchando com os respingos do seu sangue.
- Quer dizer que ninguém te pagou pra vir fazer palhaçada em solo americano? Ou você é muito burro ou só quer se matar mesmo... Qual dos dois, hein?
- PARA!! POR FAVOR! - Ivan começava a chorar, soluçava até, seu rosto estava desfigurado, repleto de hematomas pelo interrogatório.
- Own... Machucou? - ele segurou um dos dedos do russo e o virou para trás ao quebrá-lo sem a menor dificuldade.
O loiro arfava de dor, sua voz falhava de tanto gritar, ele era cruelmente subjugado pela ações que realizou naquele mesmo local.
- Vou perguntar uma última vez, quem foi o filho de uma puta que te enviou? - O militar parecia estar com a paciência esgotada, prestes a encerrar seu interrogatório ali mesmo caso não resolvesse abrir o bico.
- Urgh... foi... - Resmungou o russo.
- Foi...? Vamos, continue! - Exclamou seu carrasco, na esperança de ouvir dos lábios do loiro quem seria seu próximo alvo.
- Foi a vagabunda da sua mãe, Roiser!
O assassino até ameaça de sorrir, mas antes que seus músculos faciais correspondam ao comando do sistema nervoso, sua visão escurece e seu corpo amoleceu com a pancada na nuca, o militar o apagou com a praticidade de que se desliga uma lâmpada no interruptor, soterrando sua cabeça no concreto.
O interrogatório foi encerrado sem mais nem menos, Roiser se levanta deixando o corpo desacordado do mercenário esperando que os reforços cheguem para prendê-lo quando escutou um barulho familiar vazando de baixo do mesmo, voltando e o empurrando para o lado ao ver uma granada de fumaça que explodiu e o envolveu em sombras, mas logo era dissipada por um simples mover das mãos do coronel, demonstrando sua força titânica.
Porém, os poucos segundos que o militar fora exposto à escuridão da fumaça serviram de algo, Ivan não estava mais no local, havendo desaparecido em mais um dos seus "truques de mágica".
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SONIUM
ActionEm 2048, a sociedade em que vivemos mudou drasticamente: os avanços tecnológicos promoveram um grande salto na medicina através de implantes cibernéticos e doenças antes incuráveis agora estão extintas, mas toda essa evolução também trouxe novas for...