- Quando será que isso tudo vai terminar? – ela questionou, dançando seus dedos pelo meu peito.
Afaguei seus cabelos e respirei fundo. Não havia nenhuma resposta plausível que fosse possível de responder, então não respondi.
Virei-me de lado e olhei fundo em seus olhos. Ela sabia que eu não responderia, então sorriu e fechou os olhos, aproveitando o presente. Viveríamos daquela forma, até findarem os anos, ou até algum de nós se despedir antes do tempo natural do mundo.
O futuro incerto rondou meus pensamentos durante alguns minutos, até que caí no sono.
Acordei com Esther choramingando longe de mim. Sentada na beirada do lago, seu corpo tremia como se estivéssemos no inverno. Sequer questionei, apenas fui até sua direção e a abracei, envolvendo suas costas. Seu corpo sempre era quente, mas naquele momento, poderia dizer que quase queimava.
- Jean, – ela começou entre soluços – eu tenho medo. Estou com medo de tudo.
- Eu sei, meu amor. Eu sei. Eu também.
Seu choro aumentou, e ela tremia cada vez mais. Abracei seu corpo ainda mais forte, e por ali ficamos; tomados pelo medo, mas cientes de que pelo menos tínhamos um ao outro. Era a melhor forma de seguirmos de encontro ao nosso destino injusto.
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O destino era injusto. Completamente.
Como se não bastasse toda a dor do coração de Esther, e seus medos e incertezas, os que estavam ao seu lado a apunhalaram pelas costas. Levi era um desses. Meus sentimentos antes anestesiados voltaram à tona, e eu não pude deixar por isso mesmo.
-Que porra é essa?! – joguei os papéis pela sala, e avancei em um soco no rosto de Levi. Acertei, e acabei tirando um pouco de sangue de seu nariz; mas eu já tinha a certeza do retorno.
Levi se virou em fração de segundos e antes que eu pudesse me colocar em posição de defesa, ele já estava com seu joelho em minha barriga. Meu estômago quase encontrou as paredes das minhas costas e eu caí no chão, gemendo de dor.
- Além de tudo você é insolente, moleque – ouvi, mas não pude vê-lo, já que meu rosto estava quase colado ao chão, enquanto minhas mãos apertavam meu abdômen com toda a força que eu tinha naquele momento. Pela dor, eu poderia dizer que meus órgãos haviam sido explodidos.
- Você é um completo idiota. Eu apenas fiz o meu trabalho – ele disse, parado em minha frente. Suas mãos puxaram meus cabelos levantando minha cabeça, e seus olhos cinzentos se fixaram nos meus. Minha vontade era de matá-lo ali mesmo, mas eu estava completamente incapacitado até mesmo de respirar.
- Erwin teve seus motivos para duvidar de Esther, e essa era a nossa prioridade. Bem diferente da sua, que só pensava em comê-la noite e dia – disse, cuspindo as palavras. – Todos são suspeitos até que se prove o contrário. Você me enoja, Kirstein.
Levi soltou minha cabeça, fazendo-a bater no chão. Eu não conseguia sequer pensar, e com o impacto, tudo começou a rodar.
Percebi de canto de olho ele se colocando de pé, e sentando-se em cima de algumas das caixas da mudança. Respirei devagar, tentando amenizar a dor que tomava conta do meu corpo, mas não obtive sucesso. Me arrastei, tentando colocar-me no mínimo de joelhos.
A dor era tanta, que quase vomitei tentando recompor-me.
Levi podia ser o homem mais forte de todos, podia ser Capitão, Tenente, Comandante, tanto faz. Eu não poderia deixá-lo dizer aquelas coisas como se fossem normais. Esther não merecia; e se durante sua vida eu não pude defendê-la de absurdos como esse, pelo menos em seu descanso eu deveria honrá-la.
- Esther confiava... – achei que as palavras não fossem sair. Minha respiração era pesada como nunca antes. Mesmo assim, continuei. – Confiava em você. Era como um irmão... Ela disse que era como um irm...
Antes que eu pudesse terminar de falar, Levi levantou-se e veio em minha direção. Ouvi ele mandar-me calar a boca, enquanto seu sapato encontrava meu rosto em um chute. Ali mesmo apaguei.
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- Ele está acordando! Connie, corre aqui!
Minha cabeça latejava infernalmente; desejei não ter acordado por isso.
Meus pensamentos tentavam relembrar-me do que havia acontecido, enquanto meu corpo se recompunha de uma dor imensa. Me sentei, colocando as mãos na cabeça. Apertei com força, praguejando para que passasse de uma vez. Porra, eu odiava dores de cabeça, e ficava ainda mais estressado quando elas apareciam.
- Jean! Finalmente! Ficamos tão preocupados... Como que você consegue fazer uma coisa dessas? – a voz de Sasha ecoou mais uma vez em minha mente. Abri os olhos devagar, poupando-os da luz do sol que entrava pelas janelas da pequena enfermaria.
- Como assim? – "Fazer uma coisa dessas"? Que coisa?
Sasha riu.
- Eu já vi pessoas desastradas, mas como você, nunca. Quem no mundo vai descer escadas sozinho, segurando caixas imensas em sã consciência?! É óbvio que não ia dar coisa boa – explicou, enquanto pegava um copo d'água e estendia em minha frente.
Peguei o copo e tomei um gole. Percebi que a dor ainda era presente em meu corpo, assim que engoli o líquido. Estava dolorido ao ponto de doer até mesmo enquanto bebia uma água.
- Ainda bem que o Capitão te encontrou. Estávamos todos do outro lado da unidade. Está melhor?
Filho da puta.
- Entendi – respondi, tentando levantar-me. – Sim, estou bem. Preciso ir embora.
Sasha franziu o cenho e pegou o copo de minha mão.
- Ir embora? Pra onde, Jean?
Soltei uma risada assim que coloquei os pés no chão. Estava feliz por ainda conseguir andar, e achei graça na pergunta. Depois de tudo, o parecer a respeito da minha análise psicológica não poderia ser outro.
- Minha casa, Sasha. Minha mãe ainda está viva, creio eu.
Minha barriga doeu, e eu gemi baixo de dor a apertando. Levando em consideração a dor recente, não deveria ter passado muito tempo desde a humilhação que Levi me proporcionara.
- JEAN! – Connie entrou na sala gritando, desproporcionalmente animado.
- Fale baixo porra! Minha cabeça está explodindo – rosnei.
- Perdão. Achei que quisesse saber.
Desfiz a carranca e inclinei o queixo em sua direção, curioso. Tive certeza que coisa boa não seria.
- Você vai ficar – ele disse, me entregando um pergaminho enrolado.
Sasha deu pulinhos de alegria enquanto batia palmas freneticamente. Eu não soube o que dizer, como reagir. Apenas coloquei o pergaminho em cima da cama e balancei a cabeça.
-Não, não vou. Estou desertando dessa tropa.
Sinto muito, mas não te darei esse gosto, Levi.
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Fluctuate (Parte II) - Jean Kirstein
FanfictionDepois de ter descoberto o verdadeiro significado do amor, Jean se vê completamente perdido quando Esther, sua grande paixão, morre em sua frente. Agora ele terá que enfrentar não somente a solidão de estar sozinho e a dor de ter perdido seu primei...