Franja

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Franja.

Era madrugada e eu tinha que fazer aquele maldito trabalho de arte, meu quarto estava uma bagunça e a música Que Estrago da Letrux estourava meu fone, o vaso estava quase pronto quando a música acabou e começou a tocar Unchained Melody dos Righteous Brothers

— O que você está fazendo?

Ouvi uma voz atrás de mim, olhei e vi uma Gizelly, não pude deixar de soltar um sorriso ao vê-la com meu blusão e só de calcinha, seus cabelos estavam bagunçados e sua cara era de sono. Tão fofa.

— Eu estava sem sono.

Ela se aproximou se acomodando sentada atrás de mim.

— Eu me ferrei no sono. Que horas são?

— Umas duas horas — murmurei me virei em sua direção para dar um selinho meio desajeitado.

Então voltei minha atenção para meu vaso, ela colocou a mão na minha cintura brincando com o tecido, sorri com o gesto, sua outra mão encostou no vaso fazendo o barro perder a forma. Ela riu.

— Eu espero que não seja sua obra de arte.

— Bom — rio — agora não é mais.

O tempo passa tão devagar

E o tempo pode fazer tanto

Você ainda é minha?

Eu preciso do teu amor

— Posso ajudar?

Perguntou sincera. Como dizer não aos olhinhos brilhantes da Bicalho?

— Claro — coloquei suas mãos na posição certa, o material entrou em contato com ela. — Agora deixa o barro escorregar entre seus dedos.

Você ainda é minha?

Eu preciso do teu amor

Eu preciso do teu amor

Que Deus traga rápido seu amor pra mim.

Eu ia moldando o vaso junto com Gizelly, sua mão estava em cima da minha, ela beijou minha nuca e meu corpo se arrepiou. Me virei e a beijei, de um jeito levemente desajeitado devido à posição.

Abri os olhos, 7:21 da manhã, ótimo, estava atrasada. Mais um sonho, mais um pensamento sobre Gizelly. Eu deveria escrever um livro. Me arrumei lentamente enquanto o Uber estava chegando. Quando o carro chegou, entrei. Coloquei meu fone e uma música aleatória tocou. O caminho foi rápido e quase total silêncio, só o motorista que perguntou se o ar estava bom e porque o sinal fecha tão rápido.

Eu não sei!

Cada assunto, eu hein.

Cleberson era seu nome. Hora ou outra ele soltava alguns comentários sobre a família, ou sobre uma garota muito parecida comigo que também havia feito uma viagem com ele, porém ela tinha uma namorada e elas ficaram se pegando no Uber dele enquanto contava uma história. Ah pronto, esse povo hoje em dia não sabe que se pegar em carro não é confortável? Assim que cheguei, paguei a corrida e fui a passos rápidos até o prédio.

— Está atrasada. — A secretaria disse o óbvio, estava ocupada olhando para os papéis. — Tainá já reclamou.

— É um dom que tenho — respondi pegando uma bala que ficava em sua mesa, finalmente atraindo seu olhar. — E aí, como foi o encontro lá?

Oitavo B Onde histórias criam vida. Descubra agora