I'll Meet You On the other side

Part 1/2

"Abram os livros" começou "Fechem os livros" acabou.

Era um círculo vicioso, odioso e tenebroso. Professores com costas curvadas de bolsos cheios entravam e saiam das aulas sem um pingo de vergonha que fosse na cara. Não existia sequer remorso por dar benefícios a alunos endinheirados e aplicavam punições nos pobres coitados que estudavam de forma gratuita. Nenhum de nós nada dizia, afinal éramos todos beneficiados pelas fortunas de família.

"Boa tarde Professor Jang" mais uma aula se iniciava, vazia e com cheiro de suborno. Lançou sorrisos a quem interessava e olhares tortos aos restantes.

A enfadonha aula continuava a decorrer quando olhei para Bang Minkook, o terceiro filho de um conglomerado grande do nosso país. Ele fazia ameaças quase verbais a um dos miúdos bolsistas que se sentava atrás dele, o outro ignorava os insultos que o amigo levava apenas para não ser alvo do outro.

Suspirei e voltei a concentrar nos livros, não seria eu quem diria algo ou faria algo. Não era da minha conta, tinha coisas mais preocupantes pela frente como as minhas notas. Apesar da grande ajuda monetária que recebia, as minhas notas tinham de ser perfeitas e não poderia errar nunca. Afinal, os professores eram pagos pelo meu pai não só para ajudar-me no ranking escolar como para espiar-me. Erros davam direito a uma pequena palma e pontuações não perfeitas eram desculpa de espancamento, mas eu estava habituado. Levei uma vida inteira entre chicotes e pás pelas costas, não era agora que iria incomodar-me mais que antes.

"Já vais?"

"Vou, tenho uma ou outra coisa para tratar ainda." Pegou na mochila e levantou-se "Vejo-te depois, Kim Youngdae"

Nada disse enquanto o via desaparecer pelas escadas afora. Levantei vagarosamente, sem pressa alguma de voltar a sentar-me na primeira fila e aturar a mesma lengalenga de sempre. Desci as escadas para o segundo andar, pensei em ir fumar para as escadas de emergência do lado de fora. Estava privado de nicotina à horas a mais.

Não era preciso ser-se um génio para saber que a quantidade de fumantes da Escola Elitista de Seul era enorme, todos fechavam os olhos para cigarros. Quer fosse aluno, professor ou qualquer outro tipo de empregado escolar não se atrevia a reclamar sobre tabaco ou outras substâncias. Quem tinha esses comportamentos eram alunos com boas conexões como eu, um estalar de dedos bastava para a pessoa nunca mais ter emprego.

Abri a porta da saída de emergência e, não obtive nenhum espanto quando vi Bang Minkook presta a acertar mais um soco na cara do rapazinho que ele implicava hoje na aula. O bolsista pedia me por socorro silenciosamente, já o outro esperava alguma ação minha para reagir. Toscos.

Dei de ombros e desci as escadas enquanto acendia um cigarro, de fundo ouvia os gemidos contidos do pobre coitado e o som que o punho do Bang fazia quando embatia a cara do garoto.

Não era da minha conta, não era sequer vantajoso ter defendido ou não alguém. Bang Minkook seria de grande ajuda quando chegasse à câmara de deputados do o governo Sul Coreano.

A beata caia no chão como se fosse pó, sentia-me concentrado em algo que não fosse a desgraça do meu futuro, presente ou passado. Não incentivo ou romântizo de forma alguma o uso de substâncias ilícitas ou sequer de tabaco, são apenas prazeres que os mais fracos aderem como se realmente fosse os libertar de algo. Eu era um dos tolos fracos que se entregava a vícios por nada. Ou talvez por tudo...

O sinal tocou e o som dos socos cessaram enquanto os gemidos continuavam, ouvi a porta bater e segui o exemplo dele, subi as escadas e ignorei o rapaz caído no chão. Não sentia remorso, ensinaram-me a focar em mim e ver os outros como competição se eles forem páreos a mim, caso não sejam tratados como se fossem nada. Afinal de nada vão me servir no meu presente e futuro.