Aoyama suspirou baixinho, enquanto passava a mão pela saia em seu corpo desajeitadamente. Olhou para o seu laço ao invés da gravata. Suas sapatilhas no lugar de sapatos masculinos.
Olhou para o chão, humilhado.
"Ele é estranho, não é?"
"Ele usa roupas de menina mesmo sendo homem."
— É tão estranho assim? — perguntou a si mesmo, olhando para seu corpo.
Sabia que era um homem, e nunca negara esse fato. Porém gostava tanto daquelas roupas...
Sempre gostara de saias rodadas, vestidos e meias calças. Desde bem pequeno pedia algumas sapatilhas de presente à sua mãe, assim como vários acessórios.
Eram tão mais bonitas que as blusas monótonas dos homens, as calças pesadas e os sapatos robustos e feios...
Eram leves, e para ele, os deixavam bonito. Se sentia livre nelas, um sentimento bom.
Contudo, nunca pareciam entendê-lo. Não, não queria virar mulher, não queria agir como uma, apenas achava aquelas roupas mais bonitas. Qual o problema disso?
Elas não o faziam menos homem, não mudavam sua personalidade, e muito menos eram tão ridículas como gostavam de chamar.
O fato era que Aoyama se sentia confortável em um vestido, com as pernas soltas. Em um short curto feminino e um moletom roxo, bem mais bonitinho do que o cinza escuro que homens costumavam usar.
E qual era o problema disso? Eram apenas roupas. Elas não mudariam seu caráter.
Entretanto ninguém parecia entendê-lo. Ninguém queria entendê-lo.
Apenas sabiam criticar seu estilo, dizer o quanto era estranho por aquilo.
Por fim, isso apenas acarretava em seu total isolamento. Ia para um canto sem pessoas do exterior de seu prédio.
Todavia, naquele dia, nada tinha para comer. Somente ficaria ali, até o horário de sua próxima aula, e ignoraria mais um vez o olhar sobre si no corredor.
Segurou a barra da saia, tentando não lembrar os olhares críticos dos colegas, e dos deboches dos meninos.
Estava tão aéreo que pulou de susto ao sentir alguém sentando ao seu lado. Olhou abalado para o garoto moreno e grandalhão ao lado, este que usava óculos retangulares e segurava dois sanduíches.
Esperou ouvir quaisquer provocações do outro, mas este apenas mordeu um sanduiche e ficou lá; parado, enquanto comia calmamente.
Olhou para a face bonita do outro, e o fitou curioso.
O garoto pareceu sentir o olhar sobre si, e o encarou. Piscou algumas vezes, olhando para sua face e sorriu.
— Quer um? — perguntou o moreno.
Aoyama Yuuga que nunca havia ouvido tamanha gentileza antes o olhou atônito.
— O-o quê? — perguntou incrédulo.
O outro nem ao menos havia contraído a face a ver suas vestimentas. Ele apenas as viu, e não só elas, ele viu Aoyama.
O sorriso não saiu de sua face, até estender o outro sanduíche ao loiro.
— Vai, pegue... — colocou em sua mão. — São de manteiga de amendoim...
Os olhos de Aoyama brilharam. Pegou o sanduíche, o abrindo e mordendo com força, uma tentativa vã em esconder as lágrimas silenciosas que escorriam de suas bochechas coradas.
Aoyama Yuuga não era acostumado à gentileza do outro, isso o assustava.
O moreno, por outro lado, arregalou os olhos vendo o outro chorar baixinho.
— E-ei, o que houve? — perguntou ele limpando suas lágrimas, sem se importar com a aparência de Aoyama. — Eu lhe assustei?
Aoyama apenas negou secando os olhos azuis turquesa e olhando para os olhos profundos do outro.
— Não assustou, eu só... — murmurou. — Obrigado... — e não estava agradecendo pelo sanduíche...
E foi assim que conheceu Iida Tenya: chorando deprimentemente, enquanto devorava um sanduíche de pasta de amendoim em segundos.
Havia conhecido talvez a única pessoa que o aceitava totalmente, que não o olhava com olhares estranhos. E isso não era ruim para ele; Tenya ser o único em sua vida era algo bom, uma singularidade. E Aoyama amava isso.
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O Estilo de Aoyama
FanfictionAoyama se perguntava se gostar de roupas femininas era algo tão errado assim. Afinal eram apenas roupas, certo? Qual era o problema em colocar saias rodadas, meias calças e sapatilhas? Isso não mudaria seu carater e definitivamente não fazia dele um...