KALEIDOSCOPE • Jikook [abo]

[54] for love

Min Sorai sabia o que estava fazendo. As coisas que viu no futuro estavam propensas a interferir no presente, querendo ela ou não, porque sabia que era a única pessoa em todo o mundo que estaria disposta e teria a capacidade para cumprir aquele doloroso dever.

A grande verdade, sobretudo, era que as pessoas queriam o seu filho pelo mesmo motivo que ela mesma o queria também. Para ter um controle mesmo que mínimo sobre algo que nada nem ninguém saberia explicar. Jimin era mesmo motivo de tudo. Mas as coisas nunca foram sobre o seu filhote, e sim sobre o que ele podia fazer e proporcionar. Um poder inimaginável, que nem mesmo os maiores líderes tiveram, nem os maiores dominantes que o mundo já teve, e talvez nem mesmo os maiores deuses puderam ter em suas mãos.

Seria uma força interminável poder ter controle sobre a mente alheia, um poder invencível dado a alguém tão delicado e gentil como o seu filhote ômega. Ela quase achava cômico o fato de tamanho poder cair justamente nas mãos de quem menos queria e menos precisava daquilo. Amava muito seus filhos, tanto Yeo quanto Yoongi, e viajou por muitas vidas até encontrar algo que os faria ter um mínimo de paz e um mínimo de felicidade. Mas o destino era cruel, e ele era ainda mais cruel com os bondosos, com os puros, com as pessoas que menos queriam a guerra e mais que uma paz.

Sorrindo falsamente para os soldados do clã Le Paradis, fingindo amar estar de seus lados, continuou caminhando e ignorando os olhares curiosos em cima de si, olhares penetrantes de alfas curiosos e encantados por ser uma mulher ômega.

Descobriu muito jovem que o mundo é dos caçadores, nunca da caça, e se quisesse sobreviver e fazer com que seus filhos também sobrevivessem naquele mundo cruel, precisava fazer o que fosse necessário para que os tivessem vivos mesmo que não estivessem mais sãos. Era uma escolha terrível que vinha com consequências tão terríveis quanto. Isso fazia dela uma mãe ruim, sempre soube disso, mas era uma escolha que teve que tomar muito jovem, e carregaria esse fardo até os últimos segundos da sua vida com a cabeça erguida.

Sorai acreditava que as pessoas sempre estão procurando respostas lógicas para ações ilógicas, mas ela também acreditava que não havia lógica no amor, e não era necessário haver lógica nas suas escolhas e no seu amor por seus filhos. Um amor cruel, e ela também sabia muito bem disso, mas nem sempre o amor seria algo bonito e justificável.

Sorai, desde o primeiro instante soube que seria terrivelmente odiada por seus filhos, justamente aqueles que mais amou com todas as forças, porque sabia o fim de tudo e já tinha o conhecimento de que eles ficavam bem, mas jamais a perdoariam. Tivera que mexer com suas vidas, fazer decisões por eles para que as coisas dessem certo no fim de tudo, e estava mais do que disposta a ser odiada por isso.

Pensando nisso se lembrou da sua infância, dos seus pais que sempre a viram como objeto a ser vendido, também do seu irmão cruel impiedoso. Suas lembranças então chegaram ao incrível dia que conheceu o verdadeiro amor da sua vida, seu marido que amou tanto. Lembrava que muitas vezes achava que seu coração fosse explodir tamanho sentimento por aquele alfa, achava que nada no mundo poderia ser mais forte do que aquilo... até que seus filhos vieram ao mundo, e então nada mais tinha qualquer importância, a não ser eles.

Depois que as visões vieram teve muito medo de ter e logo em seguida perder seus filhos, quando eles de fato vieram não podia evitar um amor ainda mais forte que sentiu por cada um deles. Às vezes o amor era uma tortura, por mais belo que fosse em sua teoria, e o seu amor pelos seus dois filhos precisou de muitos sacrifícios, porque tanto Yeo quanto Yoongi tiveram que passar por muitas coisas para finalmente serem livres. E eles ainda não eram.

Sorai sabia desde o momento em que começou aquilo que tudo tinha um preço alto, todas as suas ações teriam consequências, mas sempre esteve disposta a pagar por elas, não se importando em se tornar uma vilã se fosse necessário.