Era à meia-noite. O céu desabava sua fúria sobre a cidade lá fora, enquanto uma melodia suave em cordas soltas adormecia minha alma em sonhos e reflexos escuros. A passos lentos e errantes, eu contemplava os retratos pendurados na parede, de lembranças perdidas de uma época atrás, das memórias e anseios da alma de uma certa mulher.
Gostava de beber. Sabe, entre uma e outra dose, as ambições mais pecaminosas encorajavam-se a ganhar vida com uma garrafa de vinho. Adiantei-me para tomar um gole, e me deliciei ao desejo infame daquele doce aroma, os pensamentos ainda perdidos que insistiam em relembrar aquela noite. Nada impediu meus desejos mais íntimos de se manifestarem naquele momento, vindo à tona noite adentro ao sabor do vinho.
"Eu posso me deixar levar."
Estava diante de uma deusa. Cabelos negros e ondulados, a pele morena, curvas avantajadas, distribuídas perfeitamente pelo seu corpo, e aquele forte cheiro de vinho e chocolate, que confundia e enfeitiçava meus sentidos. Seus olhos me encaravam em uma ferocidade que crescia cada vez mais às flexões constantes de seus quadris. Enquanto o som de sua delicada voz, que gemia de uma forma extremamente sensual, percorria a acústica do quarto de hotel, o pecado corria pela espinha e arrepiava os cabelos de seu braço, os seios perfeitos agitavam-se por baixo da blusa à sua respiração ofegante, a luxúria ardendo como fogo sobre os dedos nervosos que massageavam o tecido quase transparente de sua calcinha.
Lembro-me de ter limpado a mancha de vinho que havia derramado sobre o terno naquela noite. Às vezes me pego pensando em coisas que não devia. Sabe, entre um e outro trago daquele sabor irresistível e mortal que havia no cigarro entre meus dedos, daquela dose alucinada de adrenalina e tesão, eu comecei a pensar que não havia nada mais venenoso do que o olhar castanho-claro da ninfomaníaca, que clamava pelo amor de um homem, que não deixava nenhum desejo incógnito ou subentendido.
Estava diante de uma deusa. Os lábios carnudos e avermelhados degustavam-se com o sabor impuro de seus dedos molhados, e sua língua desesperava-se em busca de sentir algo em seu paladar. Ela dizia que eu podia me deixar levar. O suor de sua pele revelava aos poucos seus pequenos e delicados mamilos, e enlouqueceu seus sentidos quando se uniu aos dedos que se perdiam de vez no caminho de seu sexo, enquanto a temperatura aumentava e ela gemia quase sem fôlego a cada movimento involuntário de seu corpo.
A submissão ousava ao sussurrar desejos pecaminosos em seu ouvido. Ela entregava-se à tentação de corpo e alma, gritando todos os anseios de sua mente escura e tempestuosa, mas, acima de tudo, livre. Era a poesia da alma que soava como os trombones do demônio sobre a inevitável luxúria que ardia sobre essa garota, e o pecado que escorria doce e amargo entre suas pernas.
Uma verdadeira escrava do prazer.
Que não seja divina, que não pareça santa ou inocente.
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Submissa (+18)
Short StoryAlgumas memórias nunca morrem. Algumas histórias tornam-se obsoletas com o tempo, mas os desejos permanecem. O espírito é forte, mas a carne é fraca.