Dia das Bruxas - 1991

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Draco não conseguiu acreditar em seus olhos quando viu que Harry e Rony continuavam em Hogwarts
no dia seguinte, parecendo cansados mas absolutamente felizes.
De fato, na manhã seguinte Harry e Rony começaram a achar que o encontro com o cachorro de três cabeças fora uma excelente aventura e estavam prontos para outra.
—Ou é uma coisa realmente valiosa ou realmente perigosa, que ele está guardando—falou Rony
—Ou as duas — acrescentou Harry.
Mas como só o que sabiam com certeza sobre o misterioso objeto era que media uns cinco centímetros
de comprimento, não tinham muita possibilidade de adivinhar o seu conteúdo sem outras pistas.
Nem Neville nem Hermione mostraram o menor interesse pelo que estava sob os pés do cachorro e do alçapão.
Neville só estava interessado em quando iria chegar perto do cachorro outra vez.
Hermione agora se recusava a falar com Harry e Rony, mas era uma menina tão mandona e metida a saber de tudo que eles encararam sua atitude como um prêmio.
Agora só o que realmente queriam era descobrir um jeito de se vingar do Draco.
Quando falava sobre a vaga no time para Rony, alguém disse:
—Então suponho que você ache que ganhou um prêmio por desobedecer ao regulamento? — Ouviu-se
uma voz zangada logo atrás deles. Hermione subia com passos decididos a escadaria, olhando com desaprovação para Harry.
—Pensei que você não estava falando com a gente — comentou Harry.
—É, continue a não falar — falou Rony —, está fazendo tanto bem à gente.
Hermione se afastou com o nariz empinado.
Harry teve muita dificuldade em se concentrar nas aulas daquele dia. Seus pensamentos não paravam de vagar até o dormitório onde guardara a vassoura debaixo da cama, ou de se desviarem para o campo de quadribol onde iria jogar.
Jantou depressa à noite, sem ao menos reparar no que estava comendo e, em seguida, correu até o quarto com Rony para finalmente pegar a vassoura.
Quando eram quase sete horas, Harry saiu do castelo e se dirigiu ao campo de quadribol no lusco-fusco.
Nunca estivera no estádio antes. Havia centenas de lugares em uma arquibancada em volta do campo de modo que os espectadores viam o que acontecia do alto. Em cada ponta do campo havia três balizas douradas com aros no topo. Lembraram a Harry os pôsteres de seu quarto.
Ansioso demais para esperar Olívio sem voar, Harry montou a vassoura e deu um impulso. Que sensação — ele mergulhou pelas balizas, subiu e desceu pelo campo.
—Ei, Potter, desça!
Olívio Wood chegara.
Carregava uma grande caixa de madeira debaixo do braço. Harry pousou ao lado dele.
—Muito bom — comentou Olívio, os olhos brilhando. — Estou vendo o que foi que Minerva quis dizer... você realmente tem um talento natural. Hoje à noite só vamos treinar um pouco, depois você vem aos treinos do time três vezes por semana.
Ele abriu a caixa. Dentro havia quatro bolas de tamanhos diferentes.
Goles, os balaços e o pomo.
—Fique longe — Olívio preveniu Harry. Ele se curvou e soltou um dos balaços.
Na mesma hora, a bola preta saiu voando e em seguida desceu direto contra o rosto de Harry. Harry golpeou-a com o bastão para impedi-la de quebrar o seu nariz e mandou-a ziguezagueando para longe
— ela passou veloz pelas cabeças deles e, em seguida, atirou-se contra Olívio, que mergulhou sobre ela e conseguiu imobilizá-la no chão.
—Como sabe — Olívio ofegou, forçando o balaço indócil de volta à caixa e passando a correia para
prendê-lo. – Os balaços voam pelo ar tentando derrubar os jogadores das vassouras. É por isso que tem dois batedores em cada time. Os gêmeos Weasley são os nossos.
"Não vamos praticar com o pomo — disse Olívio, guardando-o cuidadosamente de volta na caixa. —
Está escuro demais e poderíamos perdê-lo. Vamos experimentar com outras bolas."
E tirou do bolso um saco de bolas comuns de golfe e alguns minutos depois ele e Harry estavam no ar,
Olívio atirando as bolas com toda a força para todos os lados e Harry apanhando-as.
Harry não perdeu nenhuma, e Olívio ficou encantado.
Passou-se meia hora, a noite chegou e eles não puderam continuar.
—Aquela taça de quadribol terá o nosso nome este ano — disse Olívio feliz quando voltavam cansados
ao castelo. — Eu não me espantaria se você se saísse melhor que Carlinhos, e ele poderia ter jogado na seleção da Inglaterra se não tivesse ido embora caçar dragões.
Talvez fosse porque agora andava muito ocupado com o treino de quadribol três noites por semana além dos deveres de casa, mas Harry nem acreditou quando se deu conta de que já estava em Hogwarts havia
dois meses.
O castelo parecia sua segunda casa. As aulas, também, estavam se tornando cada dia mais interessantes, agora que dominara os conhecimentos básicos.
Na manhã do Dia das Bruxas eles acordaram com um delicioso cheiro de abóbora assada que se espalhava pelos corredores. E, o que era ainda melhor, o Prof. Flitwick anunciou na aula de Feitiços que, em sua opinião, os alunos estavam prontos para começar a fazer objetos voarem, uma coisa que andavam morrendo de vontade de experimentar desde que viram o professor fazer o sapo de Neville sair voando pela sala.
O Prof. Flitwick dividiu a turma em pares para praticar.
O parceiro de Harry foi Simas Finnigan (um alívio, porque Neville tinha tentado atrair sua atenção). Mas Rony teria que trabalhar com Hermione Granger.
Era difícil dizer se era Rony ou Hermione que estava mais aborrecido com isso. Ela não falava com nenhum dos dois desde o dia em que a vassoura de Harry chegara.
—Agora, não se esqueçam daquele movimento com o pulso que praticamos! — falou esganiçado o Prof. Flitwick, como sempre empoleirado no alto da pilha de livros. — Gira e sacode, lembrem-se, gira e sacode. E digam as palavras mágicas corretamente, é muito importante, também, lembrem-se do bruxo Barrufo, que disse “s” em vez de “f” e quando viu estava no chão com um búfalo em cima do peito.
Era muito difícil.
Harry e Simas giraram e sacudiram o pulso, mas a pena que deviam mandar para o alto continuava parada em cima da mesa. Simas ficou tão impaciente que a empurrou com a varinha e tocou fogo nela — Harry teve que apagar o fogo com o chapéu.
Rony, na mesa ao lado, não estava tendo muita sorte.
—Wingardium leviosa! — ordenou, sacudindo os braços compridos como pás de moinho.
—Você está dizendo o feitiço errado — Harry ouviu Hermione corrigir aborrecida. — É Wing-gar-dium
levi-o-sa, o “gar” é bem pronunciado e longo.
—Diz você então, que é tão sabichona — retrucou Rony.
Hermione enrolou as mangas das vestes, bateu a varinha e disse:
—Wingardium leviosa!
A pena se ergueu da mesa e pairou a mais de um metro acima da cabeça deles.
—Ah, muito bem! — exclamou o professor Flitwick, batendo palmas. — Pessoal, olhe aqui, a Hermione Granger conseguiu!
Rony estava de muito mau humor na altura em que a aula terminou.
—Não admira que ninguém suporte ela — disse a Harry quando procuravam chegar ao corredor. — Francamente, ela é um pesadelo.
Alguém deu um esbarrão em Harry ao passar.
Era Hermione. Harry viu seu rosto de relance — e ficou assustado ao ver que ela estava chorando.
—Acho que ela ouviu o que você disse.
—E daí? — Mas pareceu meio sem graça. — Ela já deve ter reparado que não tem amigos.
Hermione não apareceu na aula seguinte e ninguém a viu a tarde inteira.
Ao descerem ao Salão Principal para a festa das bruxas, Harry e Rony ouviram Parvati contar à amiga
Lilá que Hermione estava chorando no banheiro das meninas e queria que a deixassem em paz. Rony ficou ainda mais sem graça ao ouvir isso, mas no momento seguinte entraram no Salão Principal, onde as decorações do Dia das Bruxas tiraram Hermione de suas cabeças.
Mil morcegos vivos esvoaçavam nas paredes e no teto e outros mil mergulhavam sobre as mesas em
nuvens negras e baixas, fazendo dançarem as velas dentro das abóboras.
A comida apareceu de repentenos pratos de ouro, como acontecera no banquete de abertura das aulas.
Harry estava se servindo de uma batata assada na casca quando o Prof. Quirrell entrou correndo no
salão, o turbante torto na cabeça e o terror estampado no rosto. Todos olharam quando ele se aproximou
da cadeira de Dumbledore, escorou-se na mesa e ofegou:
—Sombrios... no banheiro... escaparam da minha mala...
Em seguida desabou no chão desmaiado.
Houve um alvoroço. Foi preciso explodirem várias bombinhas da ponta da varinha do Prof.
Dumbledore para as pessoas fazerem silêncio.
—Monitores — disse ele com voz grave e retumbante —, levem os alunos de suas casas de volta aos
dormitórios, imediatamente!
Era com Percy mesmo.
—Me acompanhem! Fiquem juntos, alunos do primeiro ano! Não precisam ter medo deles se seguirem as minhas ordens! Agora fiquem bem atrás de mim. Abram caminho para os alunos do primeiro ano passarem! Com licença, sou o monitor!
—Como é que eles não tem medo de Dumbledore? — perguntou Harry enquanto subiam a escadaria.
—Não me pergunte, dizem que porque eles já morreram mesmo — respondeu Rony. — Vai ver o Quirrel esqueceu de fechar a mala dessa vez.
Eles passaram por diferentes grupos de pessoas que se apressavam em diferentes direções. Enquanto lutavam para passar por um bolinho de alunos de Lufa-Lufa, Harry de repente agarrou o braço de Rony.
—Acabei de me lembrar da Hermione.
—O que tem ela?
—Ela não sabe que tem sombrios aqui.
Rony mordeu o lábio.
—Ah, está bem — falou ríspido. — Mas é melhor Percy não ver a gente.
Abaixando-se, eles se misturaram aos alunos de Lufa-Lufa que iam na direção contrária, escapuliram por um lado deserto do corredor e correram para os banheiros das meninas.
E em seguida ouviram — risadas altíssimas e barulho de explosões.
Rony apontou: no fim do corredor, à esquerda, havia um bando de fantasmas vindo.
Eles se encolheram no escuro e procuraram ver o que era quando a coisa passou por um trecho iluminado pelo luar. Era uma visão muito estranha.
Vários fantasmas negros, com pequenos olhos, em uma fumaça preta. Pelo que seu pai contava, os sombrios te matavam se você inalasse a fumaça que sai deles.
Afogueados com a visão, começaram a correr de volta pelo corredor, mas ao chegarem num canto ouviram uma coisa que fez seus corações pararem — um grito alto e enregelante — e vinha da sala que tinham acabado de passar reto.
—Ah, não! — exclamou Rony, pálido como o barão Sangrento. — Vem do banheiro das meninas.
—Hermione! — disseram os dois juntos.
Era a última coisa que queriam fazer, mas que escolha tinham?
Dando meia-volta, correram até a porta e giraram a chave, atrapalhados de tanto pânico — Harry escancarou a porta — e entraram correndo.
Hermione estava encolhida contra a parede oposta, parecendo prestes a desmaiar. Os fantasmas avançavam contra ela, sem nem mesmo reparar que ela estava ali.
—Parem com isso! — Rony distraia os fantasmas.
—Vamos, corra, corra! — Harry gritou para Hermione, tentando puxá-la na direção da porta, mas ela não conseguia se mexer, continuava achatada contra a parede, a boca aberta de terror.
Os gritos e os ecos pareciam estar deixando Rony enlouquecido. Eles jogaram mais feitiços e avançaram para Rony, que estava mais perto e não tinha jeito de escapar.
Harry então fez uma coisa que era ao mesmo tempo muito corajosa e muito idiota: tomou impulso e quebrou o vidro do espelho.
Se você conseguisse distrair os sombrios e canalizar sua fumaça em algum frasco, eles seriam parados.
O barulho foi imenso e os fantasmas pararam por um momento. Ainda confusos, começaram a se atirar em Harry.
Hermione afundara no chão de tanto medo; Rony puxou a própria varinha — sem saber o que ia fazer, ouviu-se gritando o primeiro feitiço que lhe veio à cabeça:
—Wingardium leviosa!
Na mesma hora, um frasco de sabão levitou no ar e acabou encaçapando a fumaça dos fantasmas.
O frasco caiu, e tintilou, com uma melodia sombria.
—Eles morreram? — Rony perguntou.
—Acho que não.
De repente o barulho de portas batendo e passos pesados fizeram os três erguerem a cabeça. Não
haviam percebido a confusão que tinham aprontado, mas com certeza alguém lá embaixo ouvira a pancadaria e o espelho quebrando. Um instante depois a Profa. Minerva adentrou o banheiro, seguida de perto por Filch e Quirrell, que fechava a fila. Quirrell deu uma espiada no frasco, soltou um gemidinho e sentou-se depressa em um vaso sanitário, apertando o peito.
Filch debruçou-se sobre o frasco.
A Profa. Minerva ficou olhando para Rony e Harry. Harry nunca a vira tão zangada.
Seus lábios estavam brancos. A esperança de ganhar cinquenta pontos para Grifinória desapareceu logo da cabeça de Harry.
—O que é que vocês estavam pensando? — perguntou a Profa. Minerva, com uma fúria reprimida na voz.
Harry olhou para Rony, que continuava parado com a varinha no ar. —Vocês tiveram sorte de não
serem mortos. Por que é que não estão no dormitório?
Filch lançou a Harry um olhar rápido e penetrante. Harry olhou para o chão. Desejou que Rony baixasse a varinha.
Então ouviu-se uma vozinha que veio das sombras.
—Por favor, Profa. Minerva, eles vieram me procurar.
—Srta. Granger!
Hermione conseguira finalmente se levantar.
—Saí procurando os fantasmas porque achei que podia parar a baderna deles sozinha. Sabe, já li tudo sobre sombrios.
Rony deixou a varinha cair.
Hermione Granger, contando uma mentira deslavada a um professor?
—Se eles não tivessem me encontrado eu estaria morta agora. Rony fez o feitiço e Harry os distraiu. Não tiveram tempo de chamar ninguém. Os sombrios iam acabar comigo quando eles chegaram.
Harry e Rony tentaram fingir que a história não era novidade para eles.
—Bem... nesse caso... — disse a Profa. Minerva encarando os três —, Srta. Granger, que bobagem, como pôde pensar em enfrentar um bando de sombrios sozinha?
Hermione baixou a cabeça.
Harry perdera a fala. Hermione era a última pessoa do mundo que desobedeceria ao regulamento, e ali estava fingindo que desobedecera, para tirá-los de uma enrascada.
Era o mesmo que Snape começar a distribuir balinhas.
—Hermione Granger, Grifinória vai perder cinco pontos por isso — disse a Profa. Minerva. — Estou muito desapontada. Se não estiver machucada, é melhor ir embora para a torre de Grifinória. Os alunos
estão acabando de festejar o Dia das Bruxas em suas casas.
Hermione se retirou.
A Profa. Minerva virou-se para Harry e Rony.
—Bem, eu continuo achando que vocês tiveram sorte, mas não há muitos alunos do primeiro ano que
pudessem enfrentar um bando de sombrios. Cada um de vocês ganha cinco pontos para Grifinória. O
Prof. Dumbledore será informado. Podem ir.
Eles saíram depressa do banheiro e não falaram nada até subirem dois andares.
—Devíamos ter ganhado mais de dez pontos — resmungou Rony.
—Cinco, você quer dizer, depois de descontar os pontos que Hermione perdeu.
—Foi legal ela ter nos tirado do aperto — admitiu Rony. — Mas não se esqueça, salvamos a vida dela.
—Talvez ela não precisasse ser salva se não tivéssemos feito ela chorar — lembrou Harry.
Tinham chegado ao retrato da Mulher Gorda.
—Focinho de porco — disseram e entraram.
A sala comunal estava cheia e barulhenta. Todo o mundo estava comendo o jantar que fora mandado
para lá.
Hermione, porém, estava parada sozinha do lado da porta, esperando por eles. Houve um silêncio constrangido.
Depois, sem se olharem, todos disseram “Obrigado” e correram para apanhar os pratos. Mas, daquele momento em diante, Hermione Granger tornou-se amiga dos dois.
Há coisas que não se pode fazer junto sem acabar gostando um do outro, e aprisionar um bando de sombrios em um vidro de sabão, é uma dessas coisas.

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+notas

Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?
Eu só queria dizer que amei esse capítulo, e amei criar uma nova forma do começo da amizade do Trio de Ouro. Sombrios são criaturas de minha autoria, então não tem nos livros originais.
E lembrando que eles apenas escaparam da mala do Quirrel, porque ele iria usar numa aula, aqui não temos Voldemort.
Espero que gostem, muah
Votem e comentem ai o que acharam.
🐉💚

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