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A vista sem fim de corredores era assustadora os sons dos gritos ao longe e por vezes um silêncio ainda mais assustador.

"A vista não é a melhor." Diz Lucifer atrás dela. Chloe quase saltou pela janela com o susto e olhou para ele incerta.

"Não te ouvi entrar." Ela diz levando a mão ao peito, mas não sentindo uma pulsação.

"Estavas distraída." Ele diz. "Já decidiste?"

"Sim... eu quero voltar ao loop."

Lucifer parecia surpreso. "Porquê?"

"Pelo menos sei onde estou e posso fazer algo que sei fazer. Eu não sou a pessoa certa para rainha do Inferno."

"Preferes ficar presa na tua antiga vida?"

"Sim. Era minha, as minhas escolhas e as minhas coisas."

Chloe acordou do seu sonho nesse momento. Ela não se lembrava de muito. Apenas pequenos detalhes surgiram e o Lucifer estava neles, tal como estava agora na frente dela. A dor no seu ombro não a deixou se mover na cama e ela apenas olhou para ele tentando ler a sua expressão.

"Lucifer? Como chegámos aqui?"

Ele inclinou a cabeça de lado e sorriu para ela. "Eu imobilizei o atirador, ele deve estar a chorar na tua sala de estar... depois voei contigo até aqui o mais rápido que consegui. Eu pensei em curar-te como da última vez, mas na altura eras uma alma... não sei se resulta com um corpo. Essa é a especialidade do Raphael."

"Curar-me?"

"Bom... os demónios não foram gentis." Lucifer diz sério. "Foram punidos pelo mau comportamento, não penses nisso agora."

"Isso é insano..."

"Ouve... é a verdade."

"Eu tive um sonho estranho." Chloe diz perdendo-se um pouco nos seus pensamentos.

"Que tipo de sonho?" Lucifer pergunta curioso.

"Nada. Não te preocupes é um sonho." Ela não queria acreditar que estava a ceder a essa história mal contada sobre o inferno e ela ter morrido. Essa conversa insana fez o seu subconsciente gerar um sonho louco. Tudo o que ela sabia sobre Lucifer era zero... ele era um homem charmoso, parecia rico, mas era completamente chanfrado. Ela não lhe podia dar ouvidos.

"Olha, acho que já entendi." Ele diz e ela olha para ele intrigada. Que insanidade podia sair agora? "É algum tipo de choque pós-trauma? Eu vi isso no inferno... geralmente por situações de guerra. No entanto, tu levantes um tiro."

Será que ela estava assim tão traumatizada? Ela já lidou com situações de stress maior e ela via cadáveres praticamente todas as semanas. Chloe sabia que estava treinada para pior como sequestro e tortura, mas mesmo assim ela nunca se mentalizou que podia mesmo ser um alvo. Ela sentia-se por cima das restantes pessoas. A sua especialidade era o raciocínio e o tiro, ela é uma exímia atiradora. Não quer dizer que ela seja intocável, ela tem problemas como todos. Mesmo assim ela via o mundo por outros olhos. Ela sabia que podia morrer em serviço, o pai morreu... mas mesmo assim ela ainda atuou com o maior cuidado para se sentir invencível. Algo falhou nos seus cálculos, um criminoso tentou matá-la. "Olha Lucifer, obrigado por me ajudares e me trazeres ao hospital."

"Era o mínimo que podia fazer. Afinal é o teu desejo permanecer viva e eu nunca quebro uma promessa."

~oOo~

Mais tarde depois da visita de Dan e Trixie, Chloe teve alta e voltou para casa. Uma equipa da LAPD já tinha vindo encontrar esse membro do gangue e levado o criminoso para a esquadra. Lucifer veio atrelado a ela. Por mais que ela quisesse protestar ainda se sentia mais segura com ele por perto. Quando ela olhava para ele não podia ler qualquer expressão enquanto ele se movia pela cozinha e ela descansava no sofá.

Ela apenas concordou que Lucifer a acompanhasse porque ele referiu que não tinha onde ficar e ela precisava dele para um depoimento dos acontecimentos na esquadra. Ele era estranho sem dúvida, mas parecia à vontade e conhecê-la melhor do que ela estava à espera. Era um desafio para o seu lado de detetive, ela ia descobrir.

"Há comida no inferno?" Ela brinca com ele no seu tom brincalhão.

"Pode haver sim, não que seja necessário. E o sabor é diferente..."

"Então tu não comes?" Ela ergue a sobrancelha ainda na dúvida.

"Eu não preciso, mas é um prazer que não dispenso quando estou na Terra." Ele sorri para ela. "Aqui está!" Ele levou-lhe um tabuleiro com omelete e tostas.

"Obrigado." Ela olhou para ele. "Já pensaste onde vais ficar?" Ela abandonou a brincadeira por um segundo.

"Acho que posso encontrar algo." Ele sorri para ela.

"Eu tenho alguns contactos num hospital psiquiátrico." Ela brincou, mas ele ficou sério. Ela imediatamente sentiu-se mal por o julgar assim... algum dia ele sairia da personagem. Talvez até se abrisse com ela. Ela tentou mudar de assunto. Era o mais seguro. "Disseste que me tens de proteger... Vais me seguir o tempo todo? Quem te está a pagar?"

"Ninguém me está a pagar nada detetive. E não, eu não te vou seguir o tempo todo."

Ela deu uma garfada na omelete que estava deliciosa. "Isto está muito bom. Obrigado."

"De nada. Se quiseres eu posso ir embora. Uma palavra é suficiente." Ele diz.

"A sério? Eu tentei-te expulsar com uma arma e tu não saíste."

"Mas eu precisava explicar... eu tinha uma sensação que não podia ignorar... e tu pediste-me no inferno para te contar a verdade." O olhar dele ficou sombrio, o maxilar tenso e então o olhar dele encontrou um ponto aleatório para focar. "O meu Pai."

"O teu Pai?"

"Sim... eu acho que foi ele... ele colocou esse pressentimento em mim."

"Eu conheço o teu pai?"

"Não pessoalmente, mas vocês conhecem-no por Deus."

Chloe suspira derrotada. "Estou cansada."

"Eu vou indo então." Ele diz.

"Espera Lucifer!"

Lucifer pára no caminho olhando para ela à procura da razão para esperar. "Precisas de algo?"

"Foi uma longa noite e tu não tens para onde ir... talvez possas ficar um pouco enquanto eu faço uma sesta. Mais tarde podemos ir até à esquadra da polícia para fazer o depoimento."

"Queres mesmo que eu fique?" Ele pergunta.

Ela concorda. "Podes assistir um filme ou ler um livro. Ou uma sesta também... tu não dormiste naquela cadeira desconfortável." Ela parecia realmente preocupada com o seu bem-estar e o coração de Lucifer começou a disparar. Mesmo não se lembrando ela mantinha os seus gestos gentis.

"Posso ficar de vigia."

"Como quiseres." Ela diz enquanto se levanta. "Tenho algumas mantas naquela caixa se quiseres." Ela subiu para o quarto e deitou-se ainda dorida, os analgésicos não eram fortes o suficiente para afastar toda a dor.

Ele apareceu na porta do quarto e apenas ficou parado analisando-a. Ela sentia-se exposta. "Precisas de alguma coisa Lucifer?"

Ele nega. "Prefiro ficar por perto." Ele diz simplesmente.

Ela bateu no espaço ao lado dela na cama. "Não fiques aí parado como um maníaco. Senta-te aqui se quiseres." Algo dentro dela lhe dizia para confiar nele, ele salvou-a apesar de tudo e o depoimento dele era importante. Mesmo assim ela gostava de ser cuidada... que mulher não gosta?

Ele sentou-se encostando-se na cabeceira da cama e fechando os olhos. Foi essa a última imagem que Chloe viu antes de adormecer. 

A RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora