#13

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Lucifer abriu um olho e espreitou Chloe que roncava suavemente. Ele levantou-se e abriu as grandes e brilhantes asas brancas. Ele procurou as plumas mais macias. Raphael era o mestre das curas, mas ele podia tentar... mal não podia fazer. Ele olha para a pequena pluma na sua mão. Ele ia cortar as asas depois disso, estava muito cansado com a manipulação do Pai sobre ele. Mesmo com essa ideia em mente ele voltou a lembrar-se das suas asas quando brilharam sobre Chloe no inferno ou como foram rápidas a encontrar um hospital. As malditas eram úteis ele não podia negar.

Ele ficou ao seu lado, colocou a pluma sobre o ombro dela e disse algumas palavras em enoquiano. As penas dele responderam com a mesma energia. O brilho delicado e caloroso que ele causou com o seu cântico enoquiano. Ele próprio ficou espantado com o acontecimento, as asas dele respondiam a ela. Sobre o seu cuidado elas brilhavam. Ele não se demorou, fazendo o corpo dela absorver a pluma.

"Lucifer... Não cortes as tuas asas." A voz dela era suave e cansada. Ele tem a certeza de que ela ainda estava adormecida, mas por alguma razão respondeu exatamente aos seus pensamentos.

"Não me podes pedir isso." Ele sussurra.

Como é óbvio ela não responde nem se move. Ele volta a deitar-se sobre a cama com as suas asas ainda abertas. Ele hesita, mas coloca a asa sobre ela.

As asas dele ainda não pararam de brilhar sobre Chloe. Durante o sono ela envolveu-se ao lado dele e ele retribuiu passando a asa sobre ela como um escudo para o mundo exterior. Ela parecia absolutamente perfeita, muito melhor do que a sua versão pura no inferno. No inferno o seu corpo era apenas uma carapaça sem vida que sustentava a sua alma, mas ali na frente dele estava a verdadeira Chloe. Cheia de opções, sangue nas veias e um coração palpitante. Carne macia e osso frágil. Tão frágil quando a vida que ela carregava e que tinha recuperado por milagre... o melhor de tudo é que ela era de facto um milagre. E Lucifer ainda não sabia como se sentia sobre isso. Todo o acordo parecia soar muito mal... o Diabo proteger um Milagre não parecia certo.

Pensando sobre o inferno, ele não podia esquecer a energia que começou a surgir nela. O brilho sombrio um pouco antes de ser capturada... o inferno fez isso com ela... ela ganhou poder de alguma forma, ela aprendeu rápido e ganhou uma posição. Depois do rapto ela estava desfeita, a sua alma marcada e a sua luz desvanecida... deixaram uma carcaça desfeita e sem energia. Foi ele quem restaurou essa luz, a esperança que ainda estava dentro da sua alma e ele percebeu que ainda deveria lá estar. Ele restaurou a sua alma, não restou nada sem ser luz e pureza. Algo que ele já não via há milénios pois no inferno apenas o mais podre podia habitar. Lucifer manchou a sua própria alma, sentindo-se indigno de tal brilho. A única luz que o inferno viu foi ela.

Ele traçou os fios do seu cabelo e sorriu. Ela já era a rainha do inferno mesmo sem querer. Mesmo que eles fossem completamente o oposto um do outro ela era a rainha que ele procurava. Mesmo que ela não se lembre. O que intriga Lucifer é esse magnetismo que entrou na equação. Numa última fase ele já não queria tirar férias na Terra. Ele queria ficar com ela onde quer que ela fosse. Ele sabia que não a podia acompanhar para o Céu e isso já o deixava deprimido. No fundo ele sabe que apenas aceitou essas férias do Pai por causa dela. Se não fosse essa sensação dentro dele ele teria ficado no inferno remoendo secretamente em como poderia ter sido.

Ele não era material para relacionamento de qualquer tipo, muito menos para namorado... ele era aventureiro, um jogador do desejo e um amante ousado. Tudo o que significa amarras era um grande não e ele fugia dessas responsabilidades mais rápido do que podia pensar. Por outro lado, ali está ele... Lucifer Morningstar... ex-anjo, diabo aposentado e agora guardião de uma humana. Uma humana que ele já cuidava profundamente. A humana que fazia o seu coração bater de forma estranha e as suas asas brilhar. A humana que lhe pediu inconscientemente para não cortar as asas e ele ia cumprir... por ela.

Ela roncou ao lado dele, alto, mas ao mesmo tempo tão único e adorável. Ele suspirou e perdeu-se mais uma vez no seu rosto relaxado no seu ombro. O cheiro dela, o cheiro que ele sempre quis experimentar. Era dela e ele não podia nem imaginar algo tão requintado. Uma mistura floral de rosa, lírio e algo amadeirado. Encaixava-se nela como uma luva. Ele apreciou!

Chloe deu uma guinada e Lucifer faz as asas desaparecer por instinto. Ela abriu os olhos. "De volta à terra da realidade detetive?" Ele pergunta com um sorriso.

"O que...?" Ela olhou para ele muito próximo e afastou-se imediatamente. Ela não se ousa mover mais. A dor tinha desaparecido? Ela tocou o ombro.

"Algo errado?" Lucifer pergunta.

"Diria que estou perfeita... como se não tivesse sido baleada ontem."

"Adorável."

"Eu estou a falar a sério." Ela abre a camisa apenas o suficiente para puxar o curativo que cobria os pontos. Era apenas isso... pontos e uma cicatriz. Sem pontas abertas, carne inchada e sangue. Estava perfeita e ela sabia que não fazia sentido nenhum pois a cicatrização podia levar uma semana. Não um dia. "Não faz sentido..."

"Eu dei uma ajudinha."

"Deixa-me adivinhar... um ritual satânico?" Ela diz sem graça e bastante séria.

"Não, uma pena minhas acelerou a cicatrização." Ele bufa descontente. Estava a ficar frustrante e ridículo ela não acreditar nele.

"Bem, eu sinto-me como nova." Ela sorri para ele com falsa emoção e claramente troçando dele. "Obrigado!"

"Não tens de agradecer." Ele diz azedo.

~oOo~

A rápida recuperação de Chloe foi em tudo responsabilidade de Lucifer. A cura do ferimento levou a que Chloe fosse ao hospital para tirar os pontos. Os enfermeiros ficaram chocados com a recuperação, mas uma desculpa barata foi o suficiente para acabar com as perguntas. Isso queria dizer que ela estava novamente no departamento da polícia apta para trabalhar. E Lucifer, que não era mais nada do que um grande negociador tinha ganho um lugar como consultor. Agora Chloe e Lucifer são parceiros, ou melhor, Chloe trabalha e Lucifer brinca e faz comentários inapropriados. Ainda havia tensão no ar, Chloe ainda não acredita em Lucifer, mas começa a aceitar o facto de ele viver numa metáfora.

Num dia difícil Chloe despensa Lucifer e quando o voltou a encontrar nessa tarde, em casa dela, Lucifer falou-lhe em como tinha conseguido um lugar seu. Um club, que ele iria chamar Lux e uma cobertura espaçosa que ela podia visitar assim que estivesse pronta. Ela estava chocada e ainda era um mistério para ela como era tão simples assim. Que tipo de acordo era bom o suficiente para ganhar um club noturno e uma penthouse? Onde ele arranjou o dinheiro afinal? Algum parente na Inglaterra? Ela fez pesquisa e Lucifer não existia nos registos até alguns dias atrás. Ela apenas tinha de descobrir o verdadeiro nome.

Mesmo assim ela ficou feliz por ele. Ele parecia satisfeito com o rumo da sua vida e ela estava mais do que satisfeita em continuar a sua. Chloe não queria parecer egoísta, mas para ela a vida nunca foi fácil como ele fazia parecer. Ela ficou órfã com 19 e um grande desastre nas capas das revistas logo depois. Depois entrou na polícia, a primeira coisa boa antes de conhecer Daniel... casaram, tiveram uma filha e divorciaram-se pouco depois... cliché e chato (segundo Lucifer). Agora ela tinha de fazer malabarismo entre um trabalho esgotante e ser uma mãe solteira. Nos tempos livres tentava não se perder, ela ainda era jovem, podia refazer a sua vida e encontrar um homem decente, mas a sua sorte volta a dizer-lhe para não tentar. 

A RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora