– Christopher, me responde uma coisa? – a voz de Belinda surgiu atrás de mim. Eu desviei meu olhar de Maite e a contragosto, encarei minha irmã postiça. Apesar da voz inocente, os olhos claros brilhavam perigosamente.
– Tenho opção? – murmurei resignado.
– Você quer levar a Maite aonde? – ela sibilou. Esperou que alguns alunos passassem e prosseguiu com o mesmo tom duro de antes - Para um passeio no parque ou para a cama?
Eu ergui minhas sobrancelhas, fingindo não entender o que ela queria dizer com aquilo. Mas Belinda me conhecia tão bem que apenas revirou os olhos. Odiava o fato de ela perceber quando eu mentia.
– Todos já falam sobre a amizade entre a sonsa e você.
– Sonsa? – eu fingi pensar em algo – Não conheço nenhuma sonsa, tirando você, obviamente.
– Não banque o idiota – ela me cortou rispidamente – Você pelo menos a beijou não é?
Respirei fundo, buscando um resto de paciência que não tinha com Belinda.
– Com licença irmãzinha, mas eu vou fazer algo melhor do que ouvir sua doce voz – murmurei suavemente antes de me afastar. Maite conversava com Anahí, que logo se afastou da morena ao me ver andando até elas."Me levantei irritado da cama, deixando uma ruiva que eu mal sabia o nome me olhando com um misto de decepção e malícia nos olhos. Ouvia o toque do meu celular ecoando pelo meu quarto, mas não fazia ideia de onde ele podia estar. Danna havia me ligado há menos de 20 minutos e eu, irritado por ter sido interrompido, joguei o aparelho longe.
– Esquece o celular – eu ouvi a voz manhosa de Dulce que me olhava enquanto terminava de desabotoar sua própria blusa.
Sorri, admirando a imagem, mas o barulho do celular estava me incomodado. O achei embaixo de minha camiseta que havia jogado no chão.
– Alô!
– O que você disse para a Danna?
Revirei os olhos ao ouvir a voz baixa de Belinda
– Belinda, me deixa em paz!
– Responde Ucker – ela insistiu com a voz dura.
– Não te interessa – respondi me sentando na cama e sentindo duas mãos acariciarem minhas costas – Se era só isso, então, passar bem.
– Parabéns – Belinda falou antes que eu desligasse. Seu tom de voz mudara, parecia leve, mas com uma ponta de ironia – Dessa vez você se superou.
– É mesmo? – perguntei desinteressado – Por quê?
Ela demorou a responder. Só pude escutar sua respiração calma do outro lado da linha e uma sirene tocando ao longe.
– Por que seja o que for o que você tenha dito à sua namorada – Belinda abaixou a voz teatralmente – Fez com que ela saísse da festa desesperada e jogasse o carro barranco a baixo.Primeiro eu não acreditei. Achei que fosse uma brincadeira da minha querida irmã sem escrúpulos, mas a sirene foi ficando mais alta e Belinda voltou a falar.
– Ela está morta, Christopher.
Eu não consegui responder nada. Meu corpo começou a arder e a tremer ao mesmo tempo. Fechei os olhos, sentindo minhas mãos gelarem e meu coração disparar.
– Não brinque com essas coisas, Bel. – eu falei, mas minha voz quase não saiu.
Belinda pareceu reparar naquilo por que soltou uma risada baixa e fria.
– Não é brincadeira, irmãozinho. Se não acredita, espere os jornais de amanhã. Estará na primeira página: como Danna Paola morreu após ser descartada pelo namorado por telefone.
Muitas coisas começaram a passar pela minha cabeça. As palavras duras e frias que eu tinha dito à Danna minutos antes.
– Isso quer dizer – Belinda continuou como se nada tivesse acontecido – Que a culpa é sua."Meus olhos se abriram rapidamente e eu me vi no mesmo lugar onde o sonho se passara. Na verdade não era apenas um sonho. Realmente havia acontecido e eu me assustava com o fato de me lembrar exatamente como havia sido aquele momento horroroso. Eu nunca iria esquecê-lo, primeiro por que Dulce fazia questão de me lembrar a cada instante, segundo por que meu inconsciente me lembrava até quando eu dormia.
Não fui à aula, apesar de saber que minha ausência atrasaria ainda mais os meus planos com a pobre Maite. Sorri ao me lembrar dela. Era tão ingênua que se eu realmente forçasse, já teria acontecido. Mas eu estava gostando de vê-la se encantando por tudo o que eu fazia a cada dia. Era divertido saber que apesar dela ser tão diferente das outras, eu tinha o mesmo poder de manipulação sob ela.
– Vai à merda, Belinda! – gritei ao ouvir batidas na porta do quarto. Só poderia ser ela, afinal meu pai e minha não querida madrasta estavam viajando e a governanta fingia que eu não existia.
Ela, estranhamente não respondeu. Não ouvi nenhum xingamento o que, somado ao fato de Belinda ter respeitado minha privacidade e ter batido na porta antes de entrar, me deixaram surpresos. Mas a porta se abriu devagar revelando o porquê de tanta diferença: um par de olhos escuros me olhava com timidez. Cabelos negros e lisos moldavam o seu rosto delicado que, agora, estava vermelho de vergonha.
– Desculpe – Maite murmurou – Eu não queria te atrapalhar.
Fechei meu livro, com os olhos arregalados.
– Maite? – me levantei da poltrona devagar, piscando algumas vezes para ter certeza de que a menina estava mesmo ali.
– Você faltou... – ela começou a falar, desconcertada – E sua irmã me disse que você não estava bem... Eu fiquei preocupada... E a governanta disse que eu poderia subir...
– Preocupada? – eu repeti incrédulo com o que via e ouvia. A puxei para dentro e a vi corar mais ainda ao se ver perto da minha cama.A olhei por alguns segundos. Pude ver, realmente, preocupação em seu rosto que me fitava atentamente. Não estava conseguindo assimilar o que estava acontecendo: era difícil alguém me surpreender daquele jeito. Todas as meninas costumavam ter o mesmo comportamento, mas ela não.
– Christopher? – ela me chamou com tom preocupado – Você está bem?
Eu pisquei com força, voltando à realidade.
– Estou ótimo – eu sorri bagunçando os meus cabelos com uma mão – É que ninguém nunca tinha se preocupado assim comigo.
Maite sorriu. Eu gostava quando ela sorria, ficava mais bonita.
– É isso que amigos fazem – ela falou me olhando mais tranquila.
– Não quero ser só seu amigo – eu murmurei e a vi arregalar os olhos, surpresa.
Levei a minha mão até o seu rosto onde acariciei, antes de grudar os lábios em sua boca macia. Senti seu perfume doce e que ela se arrepiara violentamente quando apertei uma mão sobre a sua cintura. O gosto dela era bom, diferente como tudo em Maite. Minha língua tocou a dela devagar para não assustá-la, mas ela correspondeu timidamente segurando em meus ombros, primeiramente e depois subindo até a minha nuca.
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Cruel Intentions (Romancier)
Short StoryHistória repostada da antiga comunidade do orkut "webnovelas uckerroni". A escritora é a Romancier, estou apenas repostando. Todos os direitos reservados.