Não precisei esperar muito até que ele chegasse. Tirar Christopher de casa era mais fácil que roubar doce de uma criança, ainda mais agora que estava... apaixonado. Ao ouvir o barulho da porta se abrindo, preferi dizer a Maite que os deixaria a sós. Não queria que Christopher me visse ali de imediato. Do alto da escada, eu tinha a visão completa da morena sentada no sofá. O show ia começar.
– Maite? – ouvi o tom surpreso de Christopher e sorri ao vê-lo se aproximando carinhosamente dela, que se desviou e ficou em pé. Ponto para mim.
– Como você pode fazer isso? – a voz de Maite tremeu e eu vi o rosto claro dela se avermelhar – Eu me entreguei pra você...
– Maite, eu não...
– Assuma, Christopher! – a voz dela caiu alguns tons eu precisei me esticar para ouvir – Eu era ou não parte de uma aposta?
Silêncio. Por um momento pensei que Christopher estava pensando em alguma desculpa, uma maneira de contornar a situação. Mas quando ele falou, estava com a voz baixa e trêmula confirmando o que eu já sabia: ele estava louco por Maite, como nunca estivera antes por nenhuma garota.
– É verdade – ele suspirou e eu a ouvi soluçar – Mas eu me apaixonei por você.Maite atravessou a sala em passos rápidos e eu me escondi novamente. Não que algum deles fosse notar minha presença ali. Ela havia acabado de abrir a porta quando Christopher a puxou para seus braços. Era a primeira vez que eu o via com os olhos marejados. Patético, devo dizer.
– Por favor, Mai – ele esperou que ela o encarasse novamente – Eu nunca senti isso antes – Christopher acariciou o rosto dela com as costas da mão e o meu estomago reclamou - Eu te amo.
Esperei para ver o que ela responderia. Aquela era a hora de saber se a minha atuação fora boa o bastante. Eu sabia o que Maite estava sentindo: raiva por ter sido usada, tristeza por amar uma pessoa que simplesmente brincou com ela o tempo inteiro. Mas ela era tão estúpida que, talvez, o perdoasse.
– Você acha mesmo que eu vou acreditar em você? – ela sibilou e eu sorri, aliviada.
E foi embora, deixando para trás um Christopher com a expressão arrasada. Ele se encostou a porta e levou a mão ao bolso, pegando uma caixinha de veludo.Me deitei na minha cama e não contive uma risada. Devia ter gravado aquilo para assistir sempre que quisesse. Fechei os olhos e respirei fundo, controlando o riso. Era ainda mais divertido vê-lo sofrendo por Maite do que pela morte de Danna, afinal, agora Christopher estava apaixonado.
"Eu a vi desligando o celular e olhando ao redor com a expressão perdida. Sebastián estava ocupado demais evitando que algum bêbado quebrasse a cristaleira de sua mãe para notar que eu sumira. Como estávamos no andar de cima, o barulho não era tão grande. Ela respirou fundo e deu um longo gole no copo que segurava.
– Danna?
Ela ergueu os olhos para mim e vi que ela se controlava para não chorar.
– Seu irmão... – a voz dela sumiu repentinamente. Ela empalideceu e me entregou o copo que estava em sua mão, deixando seu celular cair no chão.
– Danna? – eu a vi entrar correndo no banheiro e revirei os olhos ao ouvir a porta batendo. Aquela atitude de ser forte que ela tinha só me trazia problemas. Aproveitei que ninguém prestava atenção em mim e abri o pequeno vidro que levara na bolsa, o esvaziando no copo da garota – Belinda? Me diga o que aconteceu.
O soluço feminino me dava náuseas. Revirei os olhos e olhei para o copo dela. A bebida amarelada se tornara mais clara graças ao conteúdo do vidro, que agora estava vazio em minha bolsa.
– Danna!A porta se abriu suavemente e eu vi o rosto manchado de lágrimas. Típico. Só precisava ficar sozinha para cair no choro e dizer que amava meu irmão.
– Ele terminou comigo – ela respirou fundo e pegou o copo que eu estendia – Por telefone!
– Porque você não conversa pessoalmente com ele? – perguntei suavemente. – Eu tenho certeza que se vocês conversarem, ele vai voltar atrás...
– Não – a morena deu um gole na bebida e me fitou – Não quero mais saber do seu irmão.
– Mas você o ama! – falei cansada. Aquela menina me dava nos nervos – E eu tenho certeza que ele te ama também.
Danna crispou os lábios e esvaziou o copo de uma vez só. Nos outros vários minutos que conversamos ali, sua teimosia ia sumindo, mostrando um lado doce que ela não possuía. Não "naturalmente" pelo menos.
– Você acha que ele volta comigo? – ela perguntou quase num sussurro.
– Claro – eu sorri ao vê-la se levantar lentamente – Tenho certeza que o que vocês precisam é de apenas uma conversa.
Ela sorriu agradecida e me abraçou com força antes de vasculhar a bolsa atrás da chave do carro. A observei sair da casa de Sebastián tendo a certeza que aquela era a última vez que a veria."
Voltei à sala, só para ver o que eu já sabia. Christopher continuava encarando o anel fixamente. A única diferença é que agora seu rosto estava molhado de lágrimas. Ótimo. Gostava de vê-lo assim, triste. Embora desconfie que essa tristeza demore a passar, eu vou continuar aqui para ele. Não que ele aceite meu consolo. Nunca o fez. Sempre me rejeitou, mesmo eu sendo a única capaz de dar o que ele realmente merece. A única que sempre esteve ao lado dele em tudo. Christopher nunca fora capaz de enxergar isso. Sempre ocupado demais com todas as outras, como se elas fossem melhores do que eu. Patético."– Não estou vendo motivos para tanta risada, Christopher – resmunguei tentando esconder o nó na minha garganta que me sufocava cada vez mais.
Christopher respirou fundo e engoliu a risada, se jogando sobre o sofá de couro da nossa sala de estar. Aquela expressão vitoriosa me irritava, me fazia ter vontade de matá-lo, mas ao mesmo tempo me encantava como tudo naquele garoto. Desde o momento em que o vira, quando minha mãe me apresentou ao meu "futuro irmão postiço" eu sabia que ele havia sido feito pra mim.
– Me diga, Belinda – ele sorriu antes de passar uma mão pelos próprios cabelos castanhos – É verdade isso o que Sebastián disse? – Christopher apoiou um braço no encosto do sofá e tamborilou os dedos me olhando com interesse.
– Claro que não – revirei os olhos, desdenhosa, e caminhei até o bar tentando desviar o olhar para alguma coisa que não fosse os olhos dele – Não se ache tanto assim, irmãozinho.
– Então você não tem nenhum interesse em mim? – ouvi a voz dele triunfante enquanto eu enchia um copo com vodca pura – Não está completamente apaixonada por mim?
Dei um gole e me virei tomando coragem pra fita-lo. Só pela expressão de Christopher eu já sabia que ele estava preste a cair na gargalhada novamente. Aquilo me enfureceu.
– Para o seu azar, eu tenho bom gosto – menti descadaramente. Eu era uma ótima atriz – Mas e se estivesse? – perguntei, desinteressada.Christopher se levantou e o sorriso que ele ostentava me irritou profundamente.
– Seria uma pena – ele deu de ombros – Você já deve saber que eu nunca olharia pra você. Não gosto de mercadoria usada, entende?
Apertei com força o copo que segurava.
– Como se aquela sua namoradinha não tivesse passado na cama de vários antes de chegar em você.
– Danna é só uma, entre muitas – Christopher coçou o queixo, distraído – Pode não parecer, mas eu quero uma menina decente. E você está longe de ser uma."
Ele deveria me agradecer por não ter dado a Maite o mesmo fim de Danna. Por que eu sei que é só uma questão de tempo para Christopher perceber que eu sou a pessoa certa para ele. Enquanto isso eu o ajudo a perceber que todas as outras não são boas o bastante. Talvez se gostasse de mim, não precisasse sofrer tanto. Mas já que ele não me quer, que sofra. Essa é exatamente a minha intenção.
"Dizeis ser possível sentir ciúmes sem ter jamais amado? Sim, é possível, pois existem ciúmes de tão ruim origem que são como abortados filhos do mais cruel rancor." (Calderón de la Barca)
Fim
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Cruel Intentions (Romancier)
Short StoryHistória repostada da antiga comunidade do orkut "webnovelas uckerroni". A escritora é a Romancier, estou apenas repostando. Todos os direitos reservados.