Beauty and the Beast // Drarry

4.Levitating

Harry Pov

Ao alvorecer de cada novo dia, e o crepúsculo de cada noite... eu sentia o tempo correr fazendo minha humanidade se esvair de mim lentamente, enquanto cada vez mais a besta indomável dentro de mim tomava posse do meu corpo. 

As pétalas cada vez mais caiam, e eu continuava sem compreender o ponto chave da minha maldição. 

Como fazer para voltar? Como me salvar? A resposta não era clara, o que estava cada vez mais tirando meu sono e arrancando as esperanças de mim. 

Ao menos Teddy estava a se dar bem com seu novo tutor. Diversas vezes pude ouvir risadas pelo castelo que ecoavam como ecos fantasmagóricos do que um dia o castelo foi. Mesmo assim, era bonito de se ouvir, era bonito de ver a interação entre eles florescer e se perpetuar cada vez mais. 

Dar a Malfoy o acesso a minha biblioteca também foi uma boa escolha. Ainda tenho memórias vívidas de quando era nada menos do que um jovem príncipe ansiando pelo mesmo conhecimento que agora Draco deseja. Mesmo, eu admito, nunca tendo tido a paciência que o platinado tem para ficar horas e mais horas mergulhado entre as páginas e os mundos que elas trazem, ele me faz lembrar do príncipe que um dia fui. 

O príncipe que talvez se apaixonasse por Draco de uma forma fluida e natural, mesmo que agora apenas a menção de tais sentimentos deixem meu estômago embrulhado. 

A Fera não sente, A Fera não ama, A Fera vê a beleza no mundo... e arranca o seu coração. Enquanto o príncipe em mim anseia por sentir na mesma proporção que não quer magoar a si mesmo e ao outro. 

Quem amaria alguém como eu? 

Do mesmo modo que tento me consolar dizendo que Malfoy está gostando da estadia aqui, e talvez até não desgoste de mim... também ouço seu choro a noite quando sua única companhia é o relógio falante, ou o bule de chá ou a própria lua. Eu ouço ele proclamar a saudade que sente no seu peito pelo pai ladrão, do mesmo modo que sente saudade da mãe falecida. 

Como ele pode amar alguém que o impede de ir até a única família que ele ainda tem? Sei que se as coisas fossem o contrário e alguém, por ventura, estivesse a me manter longe das pessoas que eu amo...

Então, ao mesmo tempo tudo é difuso e nebuloso. Tem noites que fico pensando nisso e quando acordo estou sujo de sangue no meio da floresta, a fera tendo assumido mais uma vez tentando calar as vozes da confusão em minha mente. 

Porque as vezes é bom não sentir...

E tudo isso me deixa atordoado. E se o próximo sangue que eu acordar encharcado foi o de Teddy ou de Draco? E se eu cruzar uma linha que outrora nunca houvesse cruzado? E quanto mais tempo esse pesadelo irá durar? 

Meus atuais devaneios foram cortados quando ouvi um grito seguido de um barulho alto a minhas costas. 

É provável que estivesse tão distraído em meio ao jardim pelo tempo consumido que não tivesse percebido a aproximação de Draco até que ele... tropeçasse e caísse de modo nem um pouco nobre. 

Fiquei tentado a me aproximar e lhe ajudar a se levantar. Com minha força não seria uma tarefa árdua. Todavia, também não estava desejoso de o assustar ou algo do tipo. Desse modo permaneci no meu lugar indomável, me virando o suficiente para ver o pequeno ser belo a minha frente se levantar e tentar tirar a sujeira das vestes. 

Me pergunto como Draco ficaria em vestes nobres, aquelas típicas dos tempos de glória dos Potters onde toda noite havia um baile onde todos gastavam as solas do sapatos até desmancharem, se embebedavam com o vinho, riam, se divertiam, caçavam e sonhavam.