ᴍᴏʀᴀ ᴄᴏᴍ ᴜᴍ ɴᴀᴍᴏʀᴀᴅᴏ ʀᴇᴀʟ?

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A patroa no cabeleleiro né

É como se o mundo escolhesse este momento para ficar em silêncio. Não passa nenhum carro, nenhum passarinho canta, a calçada em nossa volta está totalmente vazia. São os dez segundos mais longos da minha vida, esperando que ela responda. Tanto tempo, dez segundos é o suficiente para me deixar com vontade de retirar tudo o que eu disse. Tempo suficiente para que eu deseje ter ficado de boca fechada, em vez de desabafar desse jeito.

Carolina pigarreia e vira o rosto. Toma impulso no banco e se levanta.

Não me mexo, só olho curioso para saber se ela vai escolher este momento para finalmente me dar um pé na bunda falso.

Ela respira fundo e solto ar justo quando seus olhos encontram os meus.

— Ainda tenho um monte de coisa para guardar nas malas está noite — disse ela — Sabia que oferecer ajuda é uma atitude educada de um namorado

— Precisa de ajuda para fazer as malas? — disparo rapidamente — ela dá de ombros com indiferença.

— Tudo bem.

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Carolina Voltan
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Minha mãe é minha heroína. Um exemplo para mim. A mulher que quero me tornar. Ela suportou meu pai por sete anos. Qualquer mulher que consiga fazer isso por tanto tempo merece uma medalha de honra.

Quando me ofereceram o papel principal de Loud, aos 14 anos, ela hesitou em me deixar aceitar. Detestava como a carreira do meu pai o obrigara aos refletores. Sentia um ódio imenso do homem no qual tudo isso o transformou. Ela disse que antes de se tomar um nome conhecido, ele era maravilhoso e encantador. Mas depois que a fama lhe subiu à cabeça, ela passou a não suportar mais ficar do lado dele. Disse que 1993 foi o ano que levou à morte de seu casamento, à ascensão da fama dele e ao nascimento da primeira e última filha do casal: eu.

Então, é claro que ela fez tudo o que pôde para não deixar que o mesmo acontecesse comigo quando comecei a atuar. Imagine fazer a transição para "virar" uma mulher enquanto é uma atriz promissora em Los Angeles. É muito fácil perder a si mesma. Vi isso acontecer com várias amigas minhas.

Mas minha mãe não deixou que isso acontecesse comigo. Assim que o diretor encerrava as gravações no set a cada dia, eu ia para casa e tinha que lidar com uma lista de tarefas e várias regras severas. Não estou dizendo que minha mãe era rigo rosa. Ela só não me deu nenhum tratamento especial, por mais famosa que eu ficasse.

Ela também não permitiu que eu namorasse antes dos 16 anos. Assim, nos primeiros meses depois do meu 16° aniversário, fui a três encontros com três caras diferentes. E foi divertido. Dois deles eram colegas de trabalho com quem eu podia ou não já ter ficado algumas vezes no camarim das gravações. E um era irmão de uma amiga minha. E não importa com quem eu saísse ou o quanto me divertisse, minha mãe teria a mesma conversa comigo sempre que eu chegava em casa de um encontro, sobre a importância de não se apaixonar enquanto não tivesse idade para conhecer verdadeiramente a mim mesma. Ela ainda tem a mesma conversa comigo e eu sequer saio.

Minha mãe teve uma compulsão por livros de auto-ajuda depois de se divorciar do meu pai. Ela leu todo livro que conseguiu encontrar sobre criação de filhos, casamento, descobrir a si mesma como mulher.
Depois de tudo isso, ela concluiu que meninas mudam mais entre os 16 e 23 anos do que em qualquer outra época da vida. E é importante para ela que eu não passe esses anos apaixonada por um cara, porque, se eu fizer isso, ela tem medo de que eu nunca aprenda a amar a mim mesma.

Ela conheceu meu pai quando tinha dezesseis e o deixou aos vinte e três, então acho que essas restrições de faixa etária têm alguma relação com sua experiência pessoal. Mas considerando que só tenho 18 anos e não pretendo sossegar com ninguém tão cedo, imagino que seja fácil seguir os conselhos dela e deixá-la levar crédito. Isso pelo menos eu posso fazer.

Acho engraçado ela pensar que existe essa idade mágica em que a mulher final mente aprende quem é. Mas vou admitir que uma das minhas citações preferidas é uma que ela mesma criou.

"Você nunca vai conseguir se encontrar  se estiver perdida em outra pessoa"

Minha mãe não é famosa. Não tem uma carreira incrível. Sequer se casou com o amor da sua vida. Mas uma coisa ela sempre teve...

Razão

E é por isso que, até encontrar um motivo contrário, vou dar ouvidos a cada palavra que ela diz, por mais absurda que pareça. Pelo que sei, ela nunca me deu um conselho ruim, então, apesar de Arthur Ramos passar a impressão de ter saído direto das páginas de um dos inúmeros romances que guardo empilhados na estante do meu quarto, o cara não tem a menor chance comigo por pelo menos mais cinco anos.

Mas isso não quer dizer que eu não quisesse me arrastar até seu colo e montar nele, bem ali no banco do parque, enquanto enfiava a lingua em sua boca. Porque foi muito difícil me conter depois que ele confessou que me achava bonita.

Não, espere.

"Bonita para cacete" foram as palavras exatas dele.

E embora pareça bom demais para ser verdade e provavelmente seja cheio de defeitos e pequenos hábitos irritantes, ainda estou me sentindo gananciosa o bastante para querer passar o resto do dia com ele. Porque, quem sabe? Estou me mudando para Nova York, mas ainda posso montar nele esta noite e enfiar lingua em sua boca.

Quando acordei hoje de manhã, pensei que este dia seria um dos mais difíceis dos últimos dois anos. Quem poderia dizer que o aniversário do pior dia da minha vida poderia acabar tão bem?

— 12,25, jogo da velha — digo a Arthur, passando o código do portão do meu prédio. Ele baixa a janela e digita o código. Peguei um táxi para encontrar meu pai no restaurante de manhã, e por isso Arthur se ofereceu para me levar para casa.

Indico uma vaga no estacionamento, então ele se vira naquela direção parando ao lado do carro da minha colega de apartamento. Nós dois saímos e nos encontramos na frente do veículo dele.

— Estou com a sensação de que deveria te alertar antes de entrarmos — digo.

Ele olha para o prédio e depois de volta para mim, desconfortável.

— Você não mora com um namorado real não né?

The Date~Volsher Adaptation~Onde histórias criam vida. Descubra agora