Meu coração batia tão acelerado, que eu jurava poder escutá-lo pulsando em meus ouvidos. As minhas mãos suavam e eu precisava limpá-las em minha calça o tempo todo, enquanto o taxista dirigia rumo ao destino indicado por mim. Como uma simples conversa com Júlia poderia ter despertado uma resposta que durante dias eu lutei para encontrar? Talvez fosse o ciúme. O medo de perder. Ou, afinal, o amor que, de repente, havia transbordado em certeza. Eu não tinha mais dúvidas. Era ele.
O táxi parou em frente ao local que me daria acesso a uma parte da minha vida que precisava ser finalizada. Eu saí, inegavelmente aflita, mas confiante de que aquela era a decisão certa. A que precisava ser tomada. Caminhei até a entrada da empresa e, assim que avistei Catatau, não foi sequer preciso dizer para quê eu estava ali. Rapidamente ele me guiou até a sala de Rafael, antes de informá-lo sobre minha chegada. Fui recebida com um sorriso. Um sorriso largo, que me angustiou. Seria extremamente difícil e doloroso. Rafa nunca deixaria de ser o meu primeiro amor. O início de um sonho que eu jamais me esqueceria. E o brilho de esperança em seu olhar não tornava as coisas mais fáceis. Pelo contrário.
- Oi... - Ele foi o primeiro a se pronunciar, assim que provavelmente pareceu notar o quanto eu estava nervosa. Respirei fundo, criando coragem e fechando de vez a porta encostada atrás de mim. Aquele seria um momento nosso. E não era minha intenção deixar que alguém mais participasse daquilo.
- Rafa... - Fui em sua direção, sendo interrompida por suas próximas palavras.
- Por que parece que você não vai me dizer o que eu espero ouvir?
- Calma... Vem aqui, por favor... - Ele deu a volta em sua mesa e, em passos receosos, parou diante de mim. - Primeiro me responde uma coisa... Você confia no que a gente viveu?
- Kyra...
- Me diz.
- É claro que eu confio!
- Certo... Eu também! E é por confiar na nossa história, que eu tô aqui...
- Eu não tô entendendo, meu amor. - Ele alisou os fios do meu cabelo, tentando encontrar algum sentido na minha pergunta.
- O que eu quero dizer é que...
- Espera. Não diz nada. Eu não sei se tô pronto pra escutar...
- Por favor, Rafa... Eu preciso...
- Não...
- Mas você tem que entender. Por favor. - Ele se calou, olhando para baixo, como se buscasse esconder seus olhos marejados dos meus. - É por confiar no que nós dois vivemos, Rafa, que eu preciso ser sincera com você. Não seria justo com nós dois. Olha pra mim... - Peço, levando minhas mãos de encontro ao seu rosto e erguendo seu olhar. - Não deixa de me olhar. Não deixa de ver o que eu tô sentindo, porque eu juro... Nada nunca foi tão difícil como isso. Mas eu não posso mentir... Eu não posso ir contra ao meu coração, meu Deus, tanta coisa aconteceu! E seria tão cruel da minha parte te manter numa versão antiga de mim...
- Versão antiga?
- Eu tentei... Eu tentei me reconectar com você, Rafa, eu tentei voltar a ser a Kyra de antes. Aquela Kyra que você conheceu e por quem você se apaixonou, mas... Essa não existe mais. E, por favor, não se espanta com o que eu vou dizer agora, mas... Você não me ama.
- O quê? Eu não te amo? Kyra, é lógico que eu te amo! Você é a minha vida!
- Você me amou. Você amou a Kyra antes do furacão. Essa que tá aqui agora é outra pessoa... - Não evito o choro, preso há tempos na minha garganta. - E eu poderia me apresentar de novo à você. Mas fazer isso seria ir contra a nossa história. Seria incoerente com o que nós nos tornamos, você entende?
